Vem aí mais um partido…

Por André Roedel*

Os desentendimentos públicos entre o presidente da República Jair Bolsonaro e o presidente de seu então partido (PSL), o deputado federal pernambucano Luciano Bivar, fizeram com que o chefe do Executivo expusesse as entranhas da sigla, causando mais embates e dissidências. Isso é fato e notório. Por conta de todo esse imbróglio, Bolsonaro resolveu deixar o PSL – assim como seu filho, o senador carioca Flavio – e fundar um novo partido: a Aliança pelo Brasil.

A movimentação é estratégica. Permanecer no PSL seria para Bolsonaro um risco, afinal a qualquer momento novidades sobre o caso do “laranjal” de Minas Gerais envolvendo o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio e o de Pernambuco relacionado ao próprio Bivar poderiam pipocar – e certamente essas notícias seriam coladas na imagem do presidente, mesmo ele não tendo participação direta nas ocorrências.

Além disso, Bolsonaro sabe que sua imagem já é maior que qualquer sigla. A vitória do presidente aconteceria independente do partido a qual estivesse filiado em 2018. Venceu o bolsonarismo, não o pesselismo. Alguns podem entender como uma “traição” de Bolsonaro em abandonar o partido que lhe abriu as portas, mas convenhamos que o lucro foi muito maior para o PSL – que aumentou suas fileiras na Câmara e Assembleias país afora e engordou o fundo eleitoral e partidário (somados, os valores chegam a R$ 268 milhões para as eleições municipais em 2020).

Mas, tirando toda essa questão do plano, resta a pergunta: o Brasil precisa de mais um partido? A tal Aliança pelo Brasil nasce com um discurso totalmente alinhado ao que prega o presidente. Ou seja, segue uma linha conservadora, em que a religião cristã é exaltada e que visa a “garantia da ordem e da segurança”. Um viés totalmente de direita, por óbvio. Um contraponto aos diversos partidos de esquerda que já existem.

A legenda nasce digital, querendo coletar através de um aplicativo para celular as quase 500 mil assinaturas necessárias para sua criação oficial. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda vai julgar se isso é possível e Bolsonaro já adiantou que, se não for, o partido não estará nas eleições de 2020 (aliás, é curioso que o presidente queira usar assinaturas digitais para validar seu novo partido, mas defenda o voto impresso nas eleições…). Isso pode ser um baque para os candidatos a prefeito e vereador que querem surfar na onda do bolsonarismo para conseguir se eleger – incluindo aqui em Itu, onde o PSL era alvo de disputas acirradas até pouco tempo atrás e hoje já é esquecido pelos bolsonaristas.

O multipartidarismo é louvável sob vários aspectos, pois permite que um amplo espectro político seja representado. Hoje, são 32 siglas que defendem causas diversas – mas muitas delas são apenas legendas de aluguel, que migram de um lado para o outro de acordo com suas conveniências. A Aliança pelo Brasil vai entrar em uma lista que já conta com 76 legendas que esperam a conclusão de todos os trâmites para serem oficializadas. É um exagero.

Entre os partidos em fase de formação, segundo dados oficiais do TSE, há novas versões da ARENA e do PRONA, o Partido Cristão, o Partido Carismático Brasileiro, o Partido do Esporte, o Partido Pirata do Brasil e até o Partido Nacional Corinthiano! São siglas que talvez nunca vejam a luz do dia, mas que, caso consigam, serão mais bocas para “mamar na teta”, como diz em português bem claro, dos fundos eleitorais. A Aliança pelo Brasil de Bolsonaro, também.

Por isso, é necessária uma reforma política, eficaz, profunda e urgente, para que o dinheiro do cidadão não mais alimente partidos criados somente para afagar egos e/ou que não cumprem suas propostas primordiais. Caso contrário, logo mais essa “sopa de letrinhas” será irreversível e cada vez mais prejudicial para o cenário político nacional.

* É chefe de redação do Periscópio.