Retirada de grafites em tapumes gera polêmica em Itu
A retirada de grafites feitos em tapumes de madeira no entorno da obra de revitalização do Cruzeiro Franciscano, na Praça Dom Pedro I, no Centro de Itu, causou polêmica nas redes sociais. As obras foram feitas pelo artista Adelson de Andrade, mais conhecido como “Graf.itu”, e homenageavam figuras importantes do movimento negro.
Adelson havia realizado grafites de Dandara, Zumbi dos Palmares e Mestre Tebas – este último autor do monumento em questão, único elemento que restou do conjunto arquitetônico franciscano do final do século XVIII –, que foram pintados às vésperas do Dia da Consciência Negra, celebrado neste sábado, 20 de novembro.
Ao JP, a Prefeitura de Itu, por meio de sua Secretaria de Cultura e Patrimônio Histórico e da Secretaria Municipal Obras, informou em nota que “não houve autorização para intervenção de grafite de qualquer artista na estrutura que preserva as obras de restauro do Cruzeiro Franciscano”.
“O restauro segue todas as normas dos órgãos superiores de preservação patrimonial, não havendo permissão para nenhum gênero de intervenção mesmo na estrutura em seu entorno. Além disso, a lei municipal 2043/19 [conhecida como Lei das Fachadas], em seu artigo terceiro, proíbe intervenções em tapumes de obras no centro da cidade”, finaliza a administração, que pintou os tapumes de azul em cima dos grafites de Adelson.
Ainda segundo a Prefeitura, “o autor da intervenção não permitida em tapume no Centro Histórico não foi multado, mas sim notificado com um auto de infração, tendo 30 dias para se defender. Caso a argumentação do munícipe seja indeferida, será expedida a multa que supera o valor de R$ 9 mil (4 mil UFMI – Unidade Fiscal do Município de Itu)”.
Já o grafiteiro, que é autor de diversas obras espalhadas pela cidade, relatou ao JP que fez as artes em homenagens aos negros, já que o espaço receberá, neste sábado, a 29ª edição da Missa Afro – leia mais na página 2. Ele disse em um vídeo que recebeu uma ligação do prefeito Guilherme Gazzola (PL) e que chegou a ser “intimidado”. “Ele desmereceu meu trabalho”, afirma Adelson, acusando o ato de “discriminação com a arte e os negros em plena Semana da Consciência”.
Adelson gravou outro vídeo no qual é possível conferir uma discussão entre ele o prefeito em um bar da cidade. Na gravação, Gazzola afirma que a pintura foi um “ato criminoso”, enquanto o grafiteiro disse que o que faz é arte e é legalizado. Ambas as gravações viralizaram nas redes sociais, com muitos comentários em defesa da arte de Adelson. Por exemplo, a página no Instagram “Seja Subversivo”, com mais de 80 mil seguidores, repostou o vídeo do grafiteiro, com muitas críticas à postura do prefeito.
Protesto
A retirada dos grafites do artista Adelson de Andrade dos tapumes da obra do Cruzeiro Franciscano causou revolta em muitas pessoas, que prometem realizar uma manifestação pacífica neste sábado (20), a partir das 18h, na Praça Dom Pedro I – onde fica o monumento e que receberá em seguida a Missa Afro da UNEI.
A manifestação em “repúdio ao racismo” tem como lema “Arte, sim. Bosta, não!” e busca apoiar a “cultura afro”. Posts nas redes sociais do próprio Adelson e de outros militantes da cultura e da causa negra de Itu convocam para o protesto deste sábado.