Para médico, liberação do uso de máscaras em locais fechados foi precoce

O governador João Doria (PSDB) anunciou na quinta-feira (17) o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção contra a Covid-19 em todos os ambientes, com exceção do transporte público (e seus respectivos locais de acesso, como estações de Metrô) e nos locais destinados à prestação de serviços de saúde.

“Recebi hoje à tarde uma nota técnica do Comitê Científico que demonstra uma melhora consistente na situação epidemiológica no Estado. Por isso decidi, com respaldo desses cientistas e médicos, abolir imediatamente a obrigatoriedade do uso de máscara em todos os ambientes, com exceção de unidades de saúde, hospitais e transporte público”, disse Doria, que é pré-candidato à presidência.

O novo decreto foi publicado em edição extra do Diário Oficial do Estado ainda quinta-feira e teve efeito imediato. O uso agora torna-se opcional em ambientes como escritórios, comércios, salas de aula, academias, entre outros. A flexibilização em ambientes abertos já havia sido autorizada pelo governador no último dia 9 deste mês.

Em Itu, assim que o decreto foi publicado, estabelecimentos como academias e supermercados começaram a fixá-lo em suas entradas, liberando o uso do equipamento de proteção. Nas redes sociais, muitos comemoraram o fim da obrigatoriedade, enquanto alguns afirmaram ser cedo. Nas redes sociais, o prefeito Guilherme Gazzola (PL) se manifestou. “Já podemos andar sem máscaras. Obrigado a todos que acreditaram na ciência e na vacina”.

Ciência

Apesar de Doria ter feito o anúncio em primeira-mão no programa do jornalista José Luiz Datena, da Bandeirantes, ele afirma que a decisão foi baseada em análises técnicas do Comitê Científico do Coronavírus de São Paulo. Segundo nota à imprensa, os especialistas levaram em consideração o índice de vacinação com duas doses no Estado, que atingiu a meta definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS) de 90% da população elegível, ou seja, acima de 5 anos imunizada.

Entre as análises também foi considerado que após 14 dias do feriado de Carnaval, foi constatado uma manutenção da melhora dos indicadores epidemiológicos, indicando que a queda na transmissão da Sars-Cov 2 em São Paulo segue de maneira progressiva. Pela sexta semana seguida registra quedas de internações nos leitos de Unidade de Terapia Intensiva e de enfermaria. Na última semana foi registrada a redução de 18,5% nas novas internações.

Povo fala

Mas o que pensam os ituanos a respeito da flexibilização do uso de máscaras? A maioria dos ouvidos é contra nesse momento, como a professora Amanda Affonso. “Como o número de casos voltou a aumentar, acredito que abandonar as máscaras agora, especialmente em lugares fechados, é um grande erro. Estamos indo bem na vacinação, o que é o mais importante de tudo. A situação está gradualmente melhorando. Manter o uso de máscara mais um tempo é uma gentileza e um cuidado que não nos custa nada”, afirma.

A opinião é compartilhada por outra professora, que preferiu não se identificar. “Mesmo eu torcendo pra que volte ao normal o mais rápido possível, ainda acho cedo a liberação da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambiente fechado, principalmente em ambiente escolar, visto que muitos estudantes optaram por não se vacinar”, declara ela, que atua na rede pública estadual.

“Em uma sala de aula, temos cerca de 40 estudantes, em ambiente fechado, pequeno e com pouca ventilação. Acredito que, dessa forma, ainda pode aumentar a contaminação. Lembrando que existem muitos alunos e professores, que mesmo vacinados, possuem fragilidades no organismo, podendo até um vírus mais leve, ser fatal”, finaliza.

A cozinheira Amanda Sylvestre também é contra e explica o motivo. “Eu acredito que da forma em que estamos atualmente já se exerce a flexibilização, como em bares e restaurantes, onde praticamente ao ingressar você já retira a máscara. Eliminando essa última barreira acredito que deixaremos de ter uma proteção em lugares que hoje possuem mais controle como mercados e escolas, por exemplo”.

Já a advogada Mariana Santarém é favorável ao fim da obrigatoriedade. “Levando-se em conta que a melhor arma contra o vírus é a vacina; que estas, à exceção das crianças, já estão universalizadas no país, inclusive com três doses disponíveis (e, provavelmente, quem não é contra vacinas, já tomou as três); e que, atualmente, há uma significativa melhora da situação pandêmica, opino a favor da liberação da obrigatoriedade do uso de máscaras. Notoriamente, as pessoas que prefiram manter a precaução e que ainda se sintam inseguras, serão livres para utilizar as máscaras onde e como preferirem, respeitando sempre a liberdade e as escolhas individuais”, pontua.

O também advogado Sérgio de Souza acredita que “devemos dar um passo de cada vez”. Segundo ele, as máscaras se tornaram um item do cotidiano e muitas pessoas farão uso constante. “Vejo como exemplo os países asiáticos, há muitos anos vemos pela mídia que estas populações utilizam máscaras no cotidiano. Isso não será diferente por aqui. Eu particularmente não me vejo sem máscaras em locais fechados”, afirma.

Para o presidente da Associação Amigos da Diversidade – CODISEI, Felipe Cavalheiro, o avanço na vacinação torna o fim da obrigatoriedade possível. “Agora é questão de tempo para os índices caírem ainda mais, antes mesmo da flexibilização, que liberou na última semana a não obrigatoriedade do uso de máscara em local aberto, a população já se demonstrava segura, e em alguns locais mais arborizados e abertos como parques e pistas de corrida já era perceptível que muitas pessoas já retiravam a proteção”, aponta ele, afirmando que os cuidados devem seguir.

>>> Opinião de especialista

O médico ituano Dr. Carlos Alberto de Oliveira Filho foi ouvido pela reportagem do JP. Ele atua como diretor médico no Hospital Municipal de Camamu, cidade no Sul da Bahia, e esteve diretamente à frente do combate à Covid-19 no município. Para ele, a liberação do uso da máscara em locais fechados vai na “contra-mão” dos critérios epidemiológicos.

“Isso ocorre de forma ainda precoce, porém, caminha com o avanço da vacinação, sendo uma consequência desta, que tem salvado inúmeras vidas”, aponta. Segundo ele, uma decisão deste tamanho demandaria embasamento em cunho científico, cabendo até mesmo uma nova mudança dos critérios no caso de novo pico de casos (o que ainda pode acontecer). “Porém, em época de eleições, a corrida para medidas populistas entram em vigor de forma mais incisiva”, declara.

“Em ponto, mesmo com esta flexibilização, não se deve esquecer da necessidade de manter os cuidados básicos como uso de álcool em gel e evitar contato com pessoas doentes. E em caso de qualquer suspeita ou sintomas, procure seu médico”, finaliza.