Lar Escola Santo Inácio: rumo aos 80 anos

Imagem da época da construção da sede da entidade social, que fica localizada na Rua Paula Souza (Foto: Arquivo/Lar Santo Inácio)

Fundado em 16 de setembro de 1943, o Lar Escola Santo Inácio, localizado na Rua Paula Souza, no Centro de Itu, celebrou ontem (16) seus 79 anos de existência. Agora, a entidade mira a marca dos 80 anos e, para manter seu trabalho assistencial e social, busca novos colaboradores para se firmar como referência social no município.

A entidade é presidida por José Alves Ferreira, o Zezinho, que há anos colabora com o lar. “O Lar Santo Inácio é uma paixão para mim”, disse ele. O espaço foi fundado pelos padres jesuítas que ocupavam a Igreja do Bom Jesus no início do século passado. O padroeiro escolhido foi Santo Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus.

O primeiro prédio não era de propriedade da Igreja, que logo se organizou junto à sociedade civil, adquirindo o terreno e construindo a atual sede entre o final dos anos 1950 e início dos 1960. Segundo o presidente, o interesse inicial era ofertar à população cursos profissionalizantes, especialmente para as meninas que vinham do sítio. Os cursos eram variados, como de corte e costura, sapateiro e engraxate. “Esse trabalho sempre foi muito procurado, tanto é que a entidade nunca parou”, disse o presidente. Nos anos 1970, o lar passou a oferecer alfabetização.

Hoje, o Lar Santo Inácio é uma associação de direito privado, sem fins lucrativos e econômicos, com objetivos voltados à promoção de atividades e finalidades de relevância pública e social, que oferta serviços de fortalecimento de vínculos para crianças de três a seis anos e seus familiares.

A professora Maria Antonia Luporini Sampaio no curso de alfabetização para mulheres. Ela foi a primeira diretora (Foto: Arquivo/Lar Santo Inácio)

Esses serviços são ofertados no período da tarde. Pela manhã, através de um convênio com a Secretaria Municipal de Educação, há o funcionamento no prédio de uma EMEI (Escola Municipal de Ensino Infantil), que leva o nome da professora Maria Antonia Luporini Sampaio, que foi a primeira diretora do Lar Santo Inácio e um dos principais nomes da educação ituana.

“A família Sampaio morava aqui próximo. Eram grandes colaboradores, foram os pilares de sustentação para que o Santo Inácio permanecesse até hoje”, afirma Zezinho, relatando a gratidão da entidade pela família. 

Missão

A missão do Lar Santo Inácio hoje é oferecer socialização para crianças carentes. “As crianças precisam se socializar, perceber que não estão sozinhas na sociedade. E fortalecer os vínculos com seus pais, com seus irmãos. É todo um trabalho que depende de nós, porque muitas crianças vêm aqui com suas famílias, às vezes, desestruturadas”, afirma o presidente.

O presidente José Alves Ferreira, a gestora Sirlei Freitas e a assistente social Cláudia Bogoni em frente ao Lar Escola (Foto: André Roedel)

Esse amparo conta com o trabalho da atual gestora Sirlei Freitas, da assistente social Cláudia Bogoni e da psicóloga Tainá Guerra Rosa, que integram uma equipe formada por oito funcionários, além de uma voluntária esporádica e as professoras da EMEI.

Hoje, são 115 alunos matriculados que estudam pela manhã, sendo que a grande parte permanece no período da tarde para o trabalho social. As crianças atendidas são de famílias de baixa renda, inclusive refugiados de países como o Haiti, por exemplo.

Sirlei explica que, desde 2009, há uma tipificação nacional de serviços socioassistenciais e a entidade vem se ajustando. “O Lar Santo Inácio, por ter um papel mais social, focou, embora tenha a parceria com a EMEI, no social”, afirma ela.

O Lar Santo Inácio continua sendo uma entidade religiosa, tendo o Padre Francisco Rossi como diretor espiritual, mas não há uma interferência administrativa direta da Igreja Católica. “A essência não é perdida. Temos nossa identidade católica, mas somos ecumênicos”, disse Sirlei. 

Desafios

Recentemente, o Lar Santo Inácio enfrentou o desafio – como todo o mundo – da pandemia de Covid-19. O presidente explica que nenhum funcionário foi demitido, contando com o programa de suspensão de contratos do Governo Federal para isso. “Foi um tempo difícil, porque não podíamos fazer o que é nossa obrigação com as crianças”, disse Zezinho, destacando o esforço das professoras da EMEI durante o período.

Agora, passando o período de restrições, a entidade se prepara para novos desafios para continuar atendendo os alunos. Hoje, a entidade é mantida com recursos próprios, obtidos através de doações e eventos solidários. “Os sócios e empresas contribuintes são poucos, embora, quando fazemos pedidos, encontramos sempre alguém que retribui”, disse o presidente.

A entidade também recebe recursos advindos do Fundo da Criança e do Adolescente. Para colaborar com a missão do Lar Santo Inácio, você pode fazer doações mensais diretamente na secretaria da entidade (Rua Paula Souza, 564, Centro) ou pelos telefones (11) 4023-1181 e (11) 99855-0016. 

Você também pode doar qualquer valor através do Pix: CNPJ 50.234.624/0001-41. Além disso, o Lar Santo Inácio recebe recursos através do programa Nota Fiscal Paulista e também solicita apoio de empresas para que estas destinem parte do imposto de renda devido para a manutenção da causa social.

“A gente precisa ser notado. O Lar Santo Inácio está numa rua muito boa, mas precisa ‘se lançar’, então nós estamos fazendo isso”, disse Sirlei, destacando que agora, perto de completar 80 anos, a entidade quer se firmar como referência social.

Para isso, irá ofertar oficinas e cursos, para aprimorar o conhecimento e fortalecer as crianças atendidas. “A nossa preocupação é o segundo período. A partir das 11h30, a responsabilidade é nossa de fazer esse trabalho”, disse Zezinho. “Não é assistencialismo, é uma missão de fortalecer a criança e deixá-la preparada para o mundo aí fora”, finaliza Sirlei.

DEPOIMENTOS

Philomena Alves passou pela entidade (Foto: Arquivo pessoal)

Ao longo desses quase 80 anos, milhares de pessoas passaram pelo Lar Escola Santo Inácio. Uma delas é Philomena Alves, de 44 anos, que hoje atua no mercado financeiro em Florianópolis/SC. “Quando eu tinha seis anos, eu tive o primeiro grande choque na minha vida: fiquei órfã de pai e quase que de mãe também, pois ela passou a trabalhar. Eu e meus irmãos fomos recebidos pelo Associação Lar Santo Inácio, naquela época, nos permitindo conviver em um ambiente equilibrado novamente, tendo refeições em horários certos, estudar e aprender diversos ofícios que até hoje uso, como crochê”, conta. 

O vereador Luisinho Silveira ainda criança, com o uniforme do Lar Santo Inácio (Foto: Arquivo pessoal)

Philomena afirma que tem muito carinho e apreço pela entidade. “Lá não me sentia abandonada. Lá passei a acreditar que conseguiria vencer na vida e venci! Trouxe para meus dias a paciência e vontade de ensinar a todos ao meu lado, que um dia tudo melhora e dará certo se você se esforçar.  Ensinei muita gente a fazer tricô, inclusive minha filha! Espero de todo coração que Deus abençoe sempre esse lugar sagrado e que a obra possa continuar, pois tem muita gente que necessita desse acolhimento”, finaliza.

Quem também passou pela entidade foi o atual vereador de Itu, Luisinho Silveira (MDB). “O Lar Escola Santo Inácio tem um significado muito grande na minha vida, foi o princípio de minha jornada, onde estudei e aprendi a valorizar as pessoas.  Neste meu primeiro mandato como vereador, pude retribuir tudo que por mim fizeram um dia, destinando R$ 50 mil para manutenção do lar escola, através de recursos que conquistamos do governo estadual”, declara o parlamentar.