‘Um atentado contra nossa própria cultura’
Os atos de barbárie registrados em Brasília/DF no último domingo (08), cometidos por bolsonaristas radicais, também deixaram um rastro de destruição do patrimônio histórico e cultural do nosso país. Esculturas, quadros e símbolos foram depredados e até mesmo levados pelos radicais. Uma das obras, o painel “As Mulatas”, de Di Cavalcanti, foi rasgado com faca. A pintura, que estava localizada no Palácio do Planalto, é avaliada em R$ 8 milhões. Mas o prejuízo não foi só financeiro.
“O que transforma uma sociedade positivamente não é a violência ou a ignorância, mas a educação e a sensibilização. Só assim se combate a barbárie e o terror”
Luís Roberto de Francisco, historiador
Para o historiador ituano Luís Roberto de Francisco, o ataque aos prédios dos três poderes da República foi um dos maiores atentados aos símbolos da democracia na história do país. “O que garante a cidadania a todos os brasileiros é a estrutura republicana organizada em três poderes, em equilíbrio, conforme proposta de Montesquieu no século XVIII e vigente na maioria dos países do Ocidente”, explica o estudioso. Segundo ele, os edifícios e seu mobiliário parcialmente destruídos, formam um importante conjunto, Patrimônio da Humanidade.
Para o historiador, os edifícios poderão ser recuperados a partir de alto investimento. “Alguns móveis exclusivos, feitos por artistas em 1960, e outras peças do tempo da monarquia, além de livros raros, são irrecuperáveis. Há também móveis do início da República, levados do Rio de Janeiro, patrimônio cultural nacional bastante danificado. As ações equivalem a uma tragédia articulada por pessoas que atentaram contra a sua própria cultura e sociedade, algo realmente inexplicável”, destaca o ituano.
Como evitar
Os ataques à obras históricas deixaram a dúvida se a sociedade dá pouco valor para a cultura, história e a arte nacional. Para Luís Roberto, o povo brasileiro é extremamente sensível ao patrimônio cultural e à história. “Os atos que vandalizaram os edifícios da República deixaram perplexa a maioria da população, conforme pesquisas divulgadas nesta semana e acabaram fortalecendo o sentimento de cidadania e pertencimento”, aponta o historiador.
Mas ele propõe que haja uma discussão ampla sobre o ocorrido, principalmente entre os mais jovens, para que atos semelhantes não aconteçam mais. “Fico pensando na população mais jovem, que carece de exemplos. É preciso que as escolas abram amplo espaço à formação da cidadania e exponham a pequenez dessa violência que beira à barbárie”.
Luís Roberto também salienta que os órgãos de preservação cultural devem agir de imediato para conscientizar melhor a população através da grande imprensa e abrir fóruns de discussão para formadores de opinião e parceria com as secretarias de educação. “O que transforma uma sociedade positivamente não é a violência ou a ignorância, mas a educação e a sensibilização. Só assim se combate a barbárie e o terror. Essa página triste da história precisa ser virada, mas nunca esquecida”, finaliza.