Espaço Acadil: Invisíveis
Vilma Pavão Folino
Cadeira nº 35 I Patrono Maria Luíza de Toledo Piza
Ao utilizar o álcool gel, nosso grande aliado na higienização das mãos nos últimos 3 anos, lembrei-me de sua criadora: Lupe Hernandez, uma estudante de enfermagem da Califórnia, que em 1966 inventou o bactericida. Uma mulher citada no The Guardian e em um livro sobre enfermagem, mas não há patente com seu o nome. A Gojo Industries (Ohio), especializada em assepsia, patenteou a fórmula e lançou o produto em 1997. Alguns aspectos parecem explicar, mas não justificar, a ausência de reconhecimento em relação à inventora do álcool gel: mulher, latina e a hostilidade histórica no meio científico às descobertas femininas.
As divagações acima conduzem a outras. Alguém se lembra de algum nome feminino entre as figuras do Renascimento? Nossos livros didáticos não apontavam as mulheres pintoras, escritoras ou escultoras dessa época, mas algumas pesquisas recentes têm resgatado grandes nomes.
Destaque para a pioneira, Sofonisba Anguissola (1532-1625), que frequentou escola de belas artes, numa época em que as mulheres não tinham esse direito. Elogiado e admirado por Michelangelo, seu trabalho apresenta o diferencial dos modelos em ação e não estáticos, verificando-se a interação no olhar, na expressão e no movimento. Teve reconhecimento internacional em vida e foi pintora na corte espanhola.
Lavinia Fontana (1552-1634), erudita, pintora profissional era filha e aluna do principal pintor de Bolonha. Suas obras seguem vários estilos, incluindo nus masculinos e femininos e eram o sustento da família. Seu marido a auxiliava matizando o fundo das telas, cuidando da casa e dos filhos além de ser seu gestor jurídico e comercial. Em Roma, Lavinia pintou o retrato do Papa Paulo V. Altamente produtiva, suas telas formam a maior coleção de uma mulher antes de 1700
A grande escultora do Renascimento, Properzia de Rossi (1490-1530) com seu talento, tenacidade e com suas esculturas vigorosas e clássicas, foi a única mulher que recebeu biografia no famoso livro do arquiteto Vari “Vida dos Artistas”. Concorrente e ganhadora de concursos públicos para decorar igrejas em Bologna, utilizava o mármore em suas obras.
Ainda podemos destacar Vittoria Collona na literatura, considerada continuadora de Petrarca, que enviava poesias a Michelangelo e dele recebia desenhos. Na pintura, Plautilla Nelli, Clara Peeters, Levina Teerlinc e outras que tiveram exposições individuais depois de 400 anos de sua morte.
Muitas conquistas foram lentamente acrescentadas, mas o caminho à igualdade ainda é longo. A ONU aponta que 90% da população mundial tem preconceito em diversas áreas e as agressões físicas às mulheres, bem como o alto índice de feminicídios indicam um espinhoso trajeto a percorrer.
Quanto tempo ainda será necessário para que a visibilidade e a “celebridade” não sejam as de mulheres que usam um “fio dental” três medidas menores que as suas, não originais medidas? Parece que temos uma contramão na História…