Convenção de 1873: o grande encontro


Quadro “Convenção de Itu (1873)”, pintura idealizada pelo artista Jonas de Barros (Foto: Clauber Cleber Caetano/PR)

Foi no sobrado que pertencia ao empresário Carlos Almeida Prado, na Rua Barão do Itaim, atualmente número 67, que 133 representantes dos clubes republicanos da Província de São Paulo alavancaram a queda do regime monárquico no Brasil. Às cinco horas da tarde, no outono de 18 de abril de 1873, republicanos e curiosos se aglomeravam no saguão revestido de azulejos portugueses do casarão. Não dava para entrar mais ninguém, nem subir as escadarias de tanta gente aglomerada. No piso superior, na sala de reuniões, pairava sobre a mesa o livro de presença em que todos puderam eternizar seus nomes na história da política brasileira.

Nascido em Itu, no ano de 1840, José Vasconcellos de Almeida Prado foi um dos homens que deixou seu nome gravado no histórico livro e descreveu, com detalhes, os fatos narrados acima. Inclusive, José Vasconcellos foi um dos fundadores do Jornal “A Província de São Paulo” (1875), que futuramente se tornaria “O Estado de S. Paulo”, e também do Clube Republicano de Itu.
 

João Tibiriçá Piratininga, presidente da Província de São Paulo, presidiu a Convenção, que teve como secretário Américo Brasiliense de Almeida Mello. A reunião que se estendeu até altas horas da madrugada resultou no “Manifesto de Itu”. O documento, assinado por fazendeiros, médicos, advogados, jornalistas, farmacêuticos, dentistas e negociantes, exaltava o “Movimento Republicano”. Além do manifesto, durante a Convenção também foi fundado o Partido Republicano Paulista (PRP), sendo o primeiro partido republicano organizado do Brasil.
     

Segundo Roberto Revelino Carlos, professor de História, formado pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Professor José Augusto Vieira”, da cidade de Machado/MG, o PRP teve maior representatividade no segundo reinado. “Antes, províncias como a do Rio e da Bahia, por exemplo, gozavam de maior prestígio frente à monarquia, mesmo São Paulo sendo, já na época, o grande centro econômico do País.” Este que mais tarde se juntaria ao Partido Republicano Mineiro e Fluminense, além da igreja católica e militar, para formar a República do Brasil em 1889.
 

De acordo com o Informativo 24, de 2019, da Divisão de Acervo Histórico da Assembleia Legislativa de São Paulo sobre a Convenção Republicana, naquele outono de 1873, idealistas iniciaram o movimento que tratou da “autonomia das províncias com um regime federativo, a contraposição ao regime monárquico e a liberdade da mão de obra escrava”. O movimento republicano ganhou força com os anos, dando origem a outros partidos republicanos pelo país. Esses ideais republicanos foram o alicerce para a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889 e com a República, ocorreu a divisão dos poderes existentes até hoje no Brasil: o Executivo, Legislativo e Judiciário.

No local onde aconteceu a Convenção de Itu, hoje, se encontra o Museu Republicano, inaugurado em 18 de abril de 1923, data exata do cinquentenário do evento histórico. O edifício foi erguido nas décadas iniciais do século XIX e se tornou residência da família Almeida Prado. Em 1867 passou por uma grande reforma adotando as características atuais, como sua fachada azulejada.

O estopim
O dia 18 de abril de 1873 só entrou para a história depois de uma longa trajetória de fatos que tem como ponto de partida o ano de 1864. Neste período, um conflito com motivações políticas, econômicas e territoriais envolvia países vizinhos: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Conhecida como a Guerra do Paraguai, a disputa, apesar de vitoriosa para o Brasil, teve forte impacto negativo na economia da monarquia, já que os gastos do Império foram elevados em até 11 vezes no período. Em razão disso, foram realizados vários empréstimos com bancos ingleses para financiar o conflito e os gastos do dia a dia. A guerra também ajudou a fortalecer o exército, e isso, sem dúvida, deu sustentação para o início do enfraquecimento da monarquia brasileira.

Com a crítica situação econômica e a incapacidade da monarquia em atender as demandas e necessidades da sociedade, a insatisfação pública fez surgir em grupos, principalmente de fazendeiros, novas ideias políticas. Em 1870, o movimento republicano ganhou força, foi se estruturando oficialmente e ficou conhecido como “Manifesto Republicano”. O exército brasileiro que também demonstrava insatisfação com a monarquia deu apoio ao movimento por enxergar a república como a única solução política viável para o Brasil naquele momento.

Todos os caminhos levam à República
No dia anterior à Convenção Republicana, em 17 de abril de 1873, foi inaugurada a “Estrada de Ferro Ituana”, trecho entre as cidades de Salto e de Itu. A inauguração, inclusive, serviu de justificativa para muitas pessoas presentes na Convenção.

Além de interligar as cidades não contempladas pela famosa ferrovia da Companhia “São Paulo Railway”, que chegava até Jundiaí, a ferrovia mais importante da nossa região começou sua construção de maneira indireta, em 1868, com a fundação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. O propósito era atender a região de Campinas e seus arredores, na qual, pelas perdas financeiras geradas pela Guerra do Paraguai, os trilhos da São Paulo Railway não puderam ser prolongados. Até que no ano de 1873, foi inaugurada a linha da “Companhia Ituana”, conforme relata o Informativo 24, de 2019, da Divisão de Acervo Histórico da Assembleia Legislativa de São Paulo sobre a Convenção Republicana.
 

Na época foi um símbolo da modernidade e do progresso econômico local. Idealizada e custeada pelos fazendeiros da região, permitia integrar a comercialização de produtos agrícolas, como o café, o algodão e a cana de açúcar. A ferrovia contribuiu diretamente para o sucesso da Convenção que viria acontecer em terras ituanas no dia seguinte a sua inauguração, sendo a responsável pela chegada de muitos participantes à reunião.
 

“Hoje, conhecido como ‘Trem Republicano’, esta linha oferece uma viagem para o passado aos passageiros de todas as idades, com o trajeto até Salto de 7,6 km, preservando a participação histórica de Itu na mudança de regime político do país”, afirmou o diretor da Serra Verde Express, companhia responsável pelo Trem Republicano, Adonai de Arruda Filho. É uma viagem que nos ajuda a voltar ao passado e à história, mas que mantém os olhos no turismo e no futuro.

Por Alexandre de Lima Olmos, Carlos Daniel Fonseca, Gabriel Muller Piccinin e Sandro Rodrigues. Revisão da Prof.ª Dr.ª Milena Fernandes Maranho