Ituano Clube: 100 anos de história e muita incerteza

No dia 15 de novembro, o Ituano Clube completou 100 anos de sua fundação. No lugar de uma grande comemoração, a data foi lembrada, porém, por incertezas. Desde 2004 o espaço não funciona como clube. O espaço voltou a ter atividades na década seguinte, por iniciativa da Prefeitura, porém voltou a ficar fechado.

Em abril do ano passado, foi realizada uma vistoria no imóvel, após a Prefeitura receber denúncia anônima de que o local encontrava-se abandonado e com indícios de presença de pessoas em situação de rua. Após a vistoria, o imóvel foi interditado pela Defesa Civil, pela Vigilância Sanitária e pelo Centro de Controle de Zoonoses/Departamento de Controle de Vetores.

Foram constatados, durante a ação, problemas estruturais e de fiação no prédio, que representam riscos de desabamento e incêndio; falta de limpeza; acúmulo de mobiliários e itens hidráulicos em mau estado de conservação; grande quantidade de materiais de escritório; além de vestígios de insetos e animais peçonhentos.

Segundo informações, a denúncia relatava a presença de animais e moradores em situação de rua no local, além de consumo de entorpecentes. Os Autos de Interdição de cada um dos setores envolvidos foram encaminhados à Secretaria Municipal de Justiça.

Em julho de 2019, o prédio do Ituano Clube havia sido interditado preventivamente após vistoria da Defesa Civil, realizada a pedido da Secretaria Municipal de Turismo, Lazer e Eventos. O imóvel, que vinha sendo utilizado pela referida pasta à época, apresentava risco aos visitantes, munícipes e funcionários, devido à existência de problemas no telhado e forro.

O prédio do Ituano Clube estava cedido em comodato à Câmara de Vereadores de Itu. Ao JP, o Poder Legislativo informou que o comodato firmado em 2019 – durante presidência do ex-vereador Givanildo Soares da Silva – previa a utilização parcial do prédio. No ano seguinte, a pandemia de Covid-19 impossibilitou o uso do espaço. 

Já em 2021, a Câmara de Itu realizou uma tentativa extrajudicial para a rescisão do contrato firmado, que foi recusada pelo comodante. Diante da recusa, o Departamento Jurídico do Legislativo Municipal entrou com ação judicial para que a rescisão fosse executada. 

Na última semana, a reportagem do Periscópio esteve em contato com a Prefeitura de Itu para uma atualização a respeito da situação envolvendo o prédio do Ituano Clube. 

A administração municipal esclareceu por meio de nota que o município ingressou com Ação de Desapropriação do Imóvel do Ituano Clube por interesse público, após vários órgãos receberem e apurarem denúncias de munícipes sobre o abandono do imóvel.

Ocorre que, segundo a Prefeitura, várias partes ingressaram no processo alegando propriedade do imóvel e pleiteando valores indenizatórios. Assim, para a realização de qualquer projeto futuro , o município deve aguardar a questão judicial.

Ainda de acordo com nota, várias partes se habilitaram nos autos da Ação de Desapropriação Judicial citada: Marcos Antonio Marques de Almeida, a Sociedade Progresso e Melhoramentos de Itu Ltda., a pessoa física de Marcos Antonio Marques de Almeida e a Irmandade do Lar Nossa Senhora da Candelária de Itu. O JP tentou contato com as partes acima citadas pela administração municipal, obtendo um retorno nesta semana por parte de Marcos Antonio Marques de Almeida.

À reportagem, ele comenta que o imóvel se encontra no cartório de registro de imóveis em nome da Sociedade Progresso e Melhoramentos de Itu Ltda, esclarecendo que o prédio “nunca pertenceu ao Ituano Clube”. 

Marcos, último presidente do Ituano Clube, explica ainda que “não há mais ninguém vivo da Sociedade Progresso e Melhoramentos de Itu Ltda”. Então, isso “fatalmente vai terminar em decisão judicial. O cotista morreu e não foi colocado em inventário ou até mesmo o herdeiro da cota e conheço outros que foram colocados em inventário. A decisão de quem é esse prédio vai ficar na Justiça”.

A reportagem questionou ainda a Prefeitura a respeito das condições do prédio e, segundo a administração municipal, o imóvel não possui possibilidade de utilização sem antes ser efetuada uma grande reforma, inclusive de infraestrutura. Ainda de acordo com a Prefeitura, antes de ser feito qualquer projeto de revitalização do espaço, é preciso definir a questão de propriedade do imóvel.

A reportagem do Periscópio esteve em frente ao imóvel nesta semana e constatou que em sua parte interna é possível ver pertences de pessoas em situação de rua no espaço. Mesmo interditado, o local vem sendo utilizado por eles. Segundo populares que transitam pela Praça da Matriz, o espaço tem sido utilizado também para o consumo de drogas.

Clube histórico

O Ituano Clube iniciou suas atividades em 15 de novembro de 1923 com um grupo de amigos, entre eles Júlio Cezar Pimenta e Gustavo Cortez, que se reuniam para jogar cartas. No começo funcionava em um imóvel alugado. Visando a construção de uma sede própria, fundou-se a Sociedade Progresso e Melhoramentos de Itu para arrecadar fundos.

O responsável pela construção do prédio foi o engenheiro Pérsio Pereira Mendes, presidente da Sociedade Construtora Celbe Ltda, e a inauguração aconteceu em 05 de julho de 1947, e contou com a presença do então governador do Estado de São Paulo, Adhemar de Barros. 

O Ituano Clube era frequentado apenas por seus sócios durante as décadas de 50, 60, 70 e meados de 80, e chegou a ter mais de 2.500 associados pagantes que utilizavam da estrutura do local, como salas de carteado, salão de festas, biblioteca e cafés. 

Com o tempo, algumas festas começaram a acontecer, como o aniversário do clube, Réveillon, Baile do Havaí e o famoso Carnaval. O Ituano Clube não só era conhecido em Itu, mas em todo o Estado de São Paulo. Vinham pessoas de todos os lugares para conhecê-lo. 

Depois de cerca de 10 anos fechado, o local foi reaberto em 2014 para o Itu Casa Decor. Em seguida, em 2016, voltou a funcionar como Espaço Ituano de Turismo e Cultura, recebendo exposições e estrutura para atendimento de turistas. Porém, o espaço nunca mais voltou a ter a glória de outrora.