Cresce o uso do celular entre crianças e adolescentes. Quais são os cuidados?

Flávia ainda não deu para sua filha um celular, porém ela acessa a internet de maneira controlada (Divulgação)

O uso de celulares e o acesso à internet entre crianças e adolescentes tem aumentado entre os brasileiros. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online, em 2015, 11% das crianças relataram ter tido acesso à internet até os 6 anos. Em 2023, o número saltou para 24%. Ainda no ano passado, 91,2% das crianças de 10 a 13 anos acessaram a rede diariamente. Seja para navegar em sites, entrar nas redes sociais ou jogar.

Em uma outra pesquisa, esta feita pelo Mobile Time em parceria com a Opinion Box em 2023, também foi detalhado comportamento de crianças e adolescentes brasileiros em relação ao uso de celulares e também como os pais tentam orientar os filhos  em relação à tecnologia.

 Os dados apontam que o uso do celular aumenta conforme as crianças vão ficando mais velhas. De 0 a 3 anos, por exemplo, 59% das crianças não têm smartphone próprio e também não usam o dos pais. Na faixa de 13 a 16 anos, 90% têm um aparelho próprio.

 O tempo médio de uso também aumenta de acordo com a idade. Crianças de 0 a 3 anos ficam 1h30 por dia no smartphone. A partir dos 7 anos, o tempo já ultrapassa as 2h diárias e, entre os adolescentes de 13 a 16, a média chega a 4h por dia, na estimativa dos pais. Nessa faixa etária, 68% dos pais acham que os filhos passam mais tempo do que deveriam com o aparelho, mas só metade tentam restringir o tempo de tela.

Limitação

Moradora de Itu, a jornalista Flávia Frossard, mãe de Luisa, de 9 anos, opina. “O que eu vejo são crianças e adolescentes vidradas no celular em todos os ambientes. Eles deixam de interagir, brincar, conversar só para ficar no celular”.

“Eu ainda não dei celular para minha filha de 9 anos, gostaria de evitar o máximo que eu conseguir. Mas, a pressão dos amigos realmente é grande o que eu quero é que quando chegarmos ao acordo de ser o momento dela ter o seu próprio aparelho ela entenda o limite do uso e não deixe de realizar outras atividades que ela tanto gosta para ficar somente nas redes sociais ou internet”, acrescenta.

Flávia comenta ainda que a filha tem acesso à internet, porém pelo computador e com tempo limitado. “Usa o meu aparelho quando quer ver algo específico ou falar com algum amigo, mas sem perfil próprio em redes sociais”.

Especialista

Luciana Nunes Vaccari Avi orienta pais, crianças e adolescentes para melhor utilização da ferramenta (RL Comunicação)

A reportagem conversou também com a psicopedagoga Luciana Nunes Vaccari Avi, que comenta. “Desde que a pandemia impulsionou de vez o uso das tecnologias nas escolas, pais, estudantes e professores vivem o dilema de equilibrar benefícios e riscos do mundo digital. As crianças e os adolescentes estão cada vez mais conectados e a maioria delas utilizam aplicativos e até assistem a programas diariamente com uma técnica maior que a de muitos adultos.”

Para a especialista, apesar desse contato ser importante para o desenvolvimento cognitivo, é preciso saber quando há excesso de tecnologia. A OMS (Organização Mundial da Saúde) em abril deste ano, lançou novas diretrizes para orientar pais e educadores de crianças menores de cinco anos quanto ao uso de aparelhos digitais. Conforme documento, crianças menores de dois anos não devem ter contato com telas e aquelas com dois anos ou mais devem assistir TV por até, no máximo, uma hora por dia.

Segundo a pesquisa, Consulta Brasil, realizada pelo Ministério dos Direitos Humanos, 86% das crianças e adolescentes usam a internet diariamente e 80% da faixa etária de até 12 anos informou acessar no mínimo uma vez por dia. Para 51% dos entrevistados, os adolescentes se abrem mais na internet do que com os pais. Para completar, 46% afirmam que se tivessem mais atenção da família, as crianças e adolescentes passariam menos tempo no celular.

“Os dados acima revelam como tudo que é demais é venenoso, é preciso intervir para não prejudicar a vida dessa nova geração. Afinal, mesmo que tenha surgido com o propósito de conectar as pessoas, na prática, a tecnologia desconecta os pequenos do mundo offline, que passam a ficar hipnotizados pelo universo online”, acrescenta Luciana.

A psicopedagoga prossegue. “O uso de celular em sala de aula também é um tema que suscita discussões e não é de hoje. Não se pode nem endeusar, nem demonizar o aparelho. É importante que nossos educandos tenham conhecimento do uso adequado do celular, que eles tenham voz e vez, mas que sejam educados quanto a isso, que desenvolvam responsabilidade quanto ao uso desses aparelhos na escola e assim possam utilizá-los sem que isso seja uma problemática para a sua formação”.

Para a especialista, os estudantes precisam entender o porquê da utilização, para que a utilização dessa tecnologia, e de que modo ela deve ser utilizada. “Esse trabalho de conscientização do bom uso das tecnologias começa em casa, quando os pais são modelos presentes para os filhos, que também sabem usar o mundo digital com moderação e responsabilidade, construindo um espaço no lar para o diálogo, a escuta afetiva, o olho no olho, que nos conecta com as pessoas e que nos faz querer um mundo melhor e mais justo para todos”, destaca.

Com mais de 25 anos de atuação na área educacional, Luciana acredita que é preciso rever as prioridades dentro do ambiente familiar e escolar. “É necessário vigiar para que a tecnologia não substitua aspectos essenciais da interação humana, como por exemplo, o desenvolvimento das habilidades socioemocionais, de trabalho em equipe, comunicação eficaz e pensamento crítico.”

 “A tecnologia é uma ferramenta! Faz-se urgente a conscientização de como saber usar, tirando o melhor proveito desse recurso, permitindo assim a democratização de espaços, o compartilhamento de saberes, a colaboração e a valorização da produção cultural e intelectual da comunidade; sendo tudo isso um feito incrível do poder da tecnologia”, conclui.