Dinheiro traz felicidade?
Leide Albergoni*
Angus Deaton, professor da Universidade de Princeton, foi agraciado com o último Prêmio Nobel de Economia, por seus estudos sobre consumo, poupança e desenvolvimento econômico. Com extensos estudos sobre o comportamento dos indivíduos, os trabalhos de Deaton trouxeram mudança na forma como os estudos sobre pobreza e desigualdade podem ser conduzidos, já que demonstraram que o nível de consumo, poupança e percepção de bem estar são diferentes de acordo com o nível de renda, idade e país.
Deaton afirma que o padrão de vida nunca esteve tão bom quanto atualmente, mas que ainda há muita desigualdade econômica. Todavia, o autor destaca que as medidas de desigualdade deveriam variar de acordo com a região e momento histórico, já que as pessoas lidam de forma diferente com sua realidade. Assim, é difícil comparar pobreza entre diferentes regiões do mundo, ou momentos históricos.
O professor estudou a percepção de felicidade e bem estar dos indivíduos em relação à renda: embora com níveis de renda muito destoantes, a sensação de felicidade do brasileiro está na mesma faixa dos Estados Unidos, Canadá e alguns países europeus. Então dinheiro não traz felicidade? Quando se analisa as diferenças em um país, a felicidade está sim relacionada com o nível de renda, o que significa que um brasileiro rico é mais feliz que um brasileiro pobre. Porém, a felicidade aumenta somente até certo nível de renda, permanecendo estável a partir de então. No caso dos EUA o autor conseguiu chegar a um valor: US$ 75 mil, mas para países em desenvolvimento, como o Brasil, seria em torno de US$ 30 mil.
Pelos trabalhos de Deaton pode-se inferir que a sensação de felicidade depende da satisfação com a condição de vida dos indivíduos, isto é, seu padrão econômico e renda, mas é fortemente influenciada pelas expectativas sobre o futuro. Ele mostra que embora os Chineses sejam insatisfeitos atualmente, são otimistas em relação ao futuro dos filhos, enquanto que os europeus estão satisfeitos, mas pessimistas. Esse otimismo está relacionado com as taxas de crescimento do PIB, isto é, qual é o potencial de melhora do padrão de vida.
A crise atual nos faz refletir sobre essa relação: embora nosso padrão de vida esteja melhor do que há 10 anos, talvez nossa satisfação com a vida não esteja no mesmo nível, já que naquele período as perspectivas sobre a economia brasileira eram melhores do que as atuais.Os trabalhos de Deaton trazem mais perguntas que respostas, mas uma leitura geral nos indica que apesar do crescimento econômico ser fundamental para a melhoria de qualidade de vida da população, a sensação de bem estar e felicidade dos indivíduos pode ser influenciada pelas expectativas sobre o futuro do país, o que em nosso contexto atual exige definições políticas e econômicas para reduzir as incertezas sobre os rumos do país.
* Leide Albergoni é economista, professora da Universidade Positivo e autora do livro Introdução à Economia – Aplicações no Cotidiano.