Periscópio Entrevista – Luiz Marinho

O “Periscópio” entrevistou no último dia 2 de outubro o presidente estadual do PT (Partido dos Trabalhadores) Luiz Marinho. Na oportunidade, ele esteve no Sindicato dos Metalúrgicos de Itu e concedeu uma entrevista exclusiva ao jornal, onde fala sobre seus planos políticos para 2018 e sobre a Operação Lava Jato. Aqui, você confere os principais pontos abordados na conversa.

 

JP – Saiu na grande imprensa o seu nome como possível candidato a governador. Se for confirmado, como vencer o PSDB?

Há grande possibilidade, mais de 90% que o nome seja eu mesmo. É evidente que todo mundo olha e vê a conjuntura complicada, o massacre que o PT sofreu nesses anos todos, mas eu enxergo que é plenamente possível a gente disputar a eleição no estado com a experiência de ter sido candidato a vice-governador do
José Genoíno (em 2002), ter sido prefeito. Venci duas eleições em São Bernardo do Campo, fiz uma gestão bastante reconhecida na cidade. Mas se nós temos problemas, os adversários também têm muitos problemas, entre eles toda uma denúncia e todo um sentimento de corrupção no estado de São Paulo, no metrô, no Departamento de Estradas de Rodagem, nas estações de trem, os problemas da educação, da saúde, problema de corrupção na merenda escolar na rede estadual, enfim, tem um conjunto de problemas aí. E, além disso, há indefinições de rumos de candidaturas e candidatos, quem será o candidato do PSDB. Enfim, você tem um monte de circunstância colocada nessa disputa e pode estar aí a grande chance do PT de estar no segundo turno. Nós queremos ter a chance de governar São Paulo, até porque o PSDB governa São Paulo desde seu nascimento.

 

JP – Foi uma conjuntura de erros do PT e possíveis ataques sofridos pela mídia e outros setores que culminou nessa situação de descrédito do partido atualmente?

Na medida em que você permite que fiquem falando mal de você todo dia, batendo em você todo dia, tem mentira que começa a parecer verdade. Uma das questões era: “tira o PT e a Dilma do governo que as coisas se resolvem”. Aí botaram o Michel Temer, o Geddel das malas de mais de 50 milhões de reais guardados em um apartamento. Então essa é a banda? Pelo amor de Deus, né, não se compara. E mais, a Dilma foi tirada não é por corrupção, foi por ter pedalado fiscalmente de uma gestão para outra para garantir o financiamento do PRONAF. Ou seja, rasgaram a Constituição para botar um bando de gatuno no Palácio do Planalto. Então isso ajuda a população a refletir também: “espera um pouquinho, estão batendo no PT, mas durante o PT tinha emprego, tinha crédito, tinha vaga no PROUNI, no FIES, tinha o Ciência sem Fronteira para a juventude se formar, se preparar”.

 

JP – O senhor foi sindicalista por muito tempo, teve sempre proximidade com a CUT. Como o senhor acompanha todas essas reformas impostas pelo governo?

Eu creio que o movimento sindical está numa encalacrada muito grande, porque a reforma trabalhista somada com a lei da terceirização é oficializar o fim do trabalho regulamentado. Isso é muito preocupante em um país que nós temos trabalho escravo. Não é um país do tamanho da Suécia, da Bélgica que você olha de um lado para o outro e vê a divisa, nós estamos falando de um país continental, nós estamos falando de um país que tem um estado do Pará que é muito maior do que muitos países juntos. Nós estamos falando de um país que tem desde sindicato altamente organizado, para sindicato frágil para ausência de sindicatos. Então, a Justiça do Trabalho, os contratos formais, a legislação trabalhista são peças fundamentais na garantia do emprego de qualidade. É balela falar que isso é para poder gerar emprego. Não tem um empregador que contrata mais porque vai pagar menos, ele só contrata mais se o seu produto estiver vendendo mais. Para vender mais nós temos que estruturar a economia, é pela economia que passa o debate, não é pelas relações fragilizadas do trabalho. A Globo encomendou o fim do contrato do trabalho CLT.

 

JP – O senhor percebe um crescimento de uma “direita reacionária” ou isso sempre existiu e agora, com as mídias sociais, é que esse discurso aumentou?

Na verdade eu acho que isso sempre existiu, aquela coisa que fica encoberta, por baixo do lodo e na hora que se sente à vontade ele sai e tira a cabeça para fora levado para esse momento de grande articulação para cassar a Dilma e criar uma verdadeira pregação de ódio. E na pregação de ódio esse tipo de mentalidade floresce com todo vigor e tão barulhento que parece que é mais do que são. Eu acho que esse tipo de candidatura não tem a mínima chance de ser vitoriosa no país, então, um Bolsonaro da vida, tem voto para ser eterno deputado, mas não vejo ele sequer senador da República, quanto mais presidente da República. Acho que é uma visão que não representa de forma majoritária a sociedade brasileira, a não ser que caia em uma situação como foram as eleições de 2016, onde a grande maioria faça a opção de não participar do processo e vá para a abstenção de brancos e nulos e aí pode surgir uma mentalidade doentia dessa aí, mas sinceramente não vejo que isso vá prosperar, apesar de às vezes até assustar.

 

JP – Como o senhor enxerga o atual panorama da Operação Lava Jato?

Veja, o único ponto positivo que se tem é chamar a atenção, botar luz sobre o debate da corrupção em todos os níveis para, quem sabe, surja disso o mínimo de resultado positivo que cada cidadão e cidadã do nosso país reflita sobre si próprio, qual o teu comportamento do dia a dia com filho, em casa, na relação com a família, na relação com o vizinho, da relação no estádio de futebol, da relação na fila do banco, na fila da padaria, enfim, porque o furar fila é também um comportamento inadequado. Enfim, isso serve para essa reflexão. Agora, ele fez um estrago na economia brasileira que nós vamos levar uma década para recuperar, isso se conseguirmos recuperar.

 

JP – O senhor se refere ao juiz Sérgio Moro?

A Operação Lava Jato de maneira geral, e o Moro tem grande responsabilidade porque ele é o grande capitão desse processo, é o grande general desse processo junto com o (procurador Deltan) Dallagnol e companhia limitada fizeram uma arquitetura que desmontou empresas, que está desmontando a engenharia nacional. Eu chego a duvidar se não está a serviço de visão internacional, porque as engenharias brasileiras, de maneira geral com suas construtoras, vinham deixando as construtoras americanas no chinelo, vinha avançando globalmente, tornando grandes empresas globais. Isso vale também para outros segmentos brasileiros. O que está virando a engenharia brasileira? Estava criando condições de competir até com os gigantes chineses, agora está virando pequenas empresas, empresas de fundo de quintal de novo. Isso é um grande prejuízo para o emprego para o Brasil. Ataca o problema, mas preserva o ativo econômico. Se você olha o quanto que eles falam que recuperaram de recurso da Petrobrás é uma gota no oceano perto dos prejuízos causados pelo desemprego gerado e essa doença, esse ódio na sociedade brasileira que se gerou.