Fascínio pelos livros
Sempre fui fascinado por bibliotecas. Quando era criança, tínhamos em casa a enciclopédia britânica em quinze volumes. Confesso que eu olhava para aqueles livros de capa avermelhada e sentia uma sensação tão prazerosa com a coleção, os exemplares do mesmo tamanho, numerados e com a indicação dos assuntos. Eles foram meu primeiro instrumento de pesquisa.
Aos doze anos passei a frequentar a biblioteca da Casa dos Jesuítas, na Igreja do Bom Jesus. Eram milhares de livros organizados em velhas estantes de madeira, muito altas e elegantes, que se percorria subindo e descendo de uma grande escada apoiada às prateleiras mais altas. Havia livros de história, literatura, coisas da Igreja e muitas revistas. Verdadeiro paraíso!
É difícil explicar a satisfação de estar em bibliotecas, mistura de curiosidade e desejo: tocar os livros, conservá-los ou simplesmente olhá-los. Das encadernações luxuosas às edições com folhas de papel jornal, cada obra é preciosa por si mesma. Quem conheceu a coleção do Prof. João Bispo apreciou raras encadernações. Quem conhece a biblioteca do Dr. Maffei, conservada pela municipalidade, percebe a variedade dos temas, dos interesses do intelectual. Fico imaginando quantas décadas para compor um conjunto de centenas de volumes, as visitas às livrarias, a encomenda e a espera ansiosa pela chegada.
Aos dezoito anos, adquiri boa parte da biblioteca do Prof. Luizito (Luiz Gonzaga da Costa Júnior), que falecera havia uns meses. É uma bela reunião de biografias de compositores, história da música, estética e escrita musical. Como eu gostava de ler aquelas obras na encadernação antiga! Outra biblioteca que também apreciei muito foi a da Profa. Anna Escobar, cuja casa eu frequentava para as aulas de piano. Além das raridades, as belas capas e dorsos gravados a ouro também chamavam a atenção e faziam gosto. Atualmente, as duas se conservam no Museu da Música.
Há mais de trinta anos frequento os sebos. Os antigos livreiros paulistanos me conheciam e sabiam do interesse pela história regional. Guardavam raridades para mim, livros que eu gostava de olhar bastante antes de ler.
Quando conheci a autobiografia de José Mindlin, Uma vida entre livros: reencontros com o tempo, percebi que havia gente, em outra esfera econômica, também com enorme sedução por eles. O colecionador fazia viagens pelo mundo, a fim de adquirir exemplares raros de obras mundialmente conhecidas. Fiquei impressionado com a história e com sua Biblioteca Brasiliana, hoje na USP.
Nestes domingos de outono tenho lido os Manuscritos Notáveis de Christopher de Hamel, presente da confreira Maria Lúcia Caselli. Tenho vontade de conhecer cada uma das raridades que ele trata, preservadas em bibliotecas palacianas, monásticas ou de universidades; vontade de gastar horas com elas.
É um prazer estar em silêncio, na pequena biblioteca de casa; às vezes simplesmente para olhar para as estantes ou buscar algum exemplar antigo e folhear. Parece que esses livros fazem uma conexão com outra realidade, um tempo do qual sinto estranha saudade.
Luís Roberto de Francisco
Cadeira nº 30 | Patrono – Tristão Mariano da Costa