A varinha mágica

 

Comecei minha carreira no magistério como professora do Curso Primário, hoje fundamental, num núcleo de japoneses no município de Pereira Barreto. Passei depois por inúmeras escolas rurais e só depois de algum tempo é que consegui me transferir para uma escola – Grupo Escolar – em Lins.

Era um grupo grande e muito antigo bem no Centro, com o pomposo nome “G.E. Dom Henrique Mourão” – homenagem a um antigo bispo da cidade. Deram-me para lecionar uma classe mista de primeira série, onde todos os alunos eram repetentes e bagunceiros. Logo nos primeiros dias, já fiquei desanimada, sem saber bem como lidar com a classe, pois minha experiência era com classes rurais, onde havia três ou quatro séries funcionando na mesma sala e os alunos calmos e atenciosos.

Um belo dia, ganhei de uma aluna uma varinha de pessegueiro, para apontar as palavras no quadro negro na hora da leitura e contei aos alunos que no meu tempo de criança, apanhava muitas vezes de chinelo, mas uma amiga apanhava de varinha de marmelo! Naquele tempo, as normalistas faziam estágio nas classes para observar as aulas, e a nossa estagiária era uma menina muito interessada. Comentando com ela a pedagogia tradicional, mencionei: “No meu tempo a psicologia era essa”, mostrando-lhe a tal varinha que era guardada atrás do armário no fundo da sala.

Um dia, fomos avisados que o delegado de ensino viria nos visitar e nos preparamos para recebê-lo, com toda a pompa que o momento exigia. De fato o delegado veio, trouxe o supervisor e junto com nosso diretor foi a todas as salas de aula, chegando também na minha. Queriam uma avaliação do novo método de ensino, que estava sendo implantado para alfabetizar. Enquanto eu aflita atendia os ilustres visitantes, a classe começou a falar alto, alunos levantavam-se das carteiras, atrapalhando nossa conversa. Por diversas vezes olhei feio para meus alunos, fiz olhos de clemência e nada adiantou. Já estava super nervosa, quando uma aluninha chegou até nós e disse, em alto e bom tom: “Professora, quer que eu pegue a psicologia lá atrás do armário?!”.

 

Maria de Lourdes Figueiredo Sioli

Cadeira nº 28

Patrono Diogo Antônio Feijó