A vida e carreira de escritor no Brasil

Por André Guida e Gustavo Moraes

Paulo Stucchi e seu mais novo lançamento literário, “O Homem da Patagônia” (Foto: Arquivo pessoal)

Talvez não seja seguro dizer que todas as pessoas possuem sonhos, mas parece ser seguro dizer que a maioria das pessoas já teve algum sonho, uma ambição, um desejo que acabou tendo uma grande influência na sua formação como indivíduo. E dentre os que sonharam, existem alguns que não se contentaram em apenas sonhar, estes alguns precisavam de mais do que simplesmente sonhar o sonho, precisavam viver o sonho. Contudo, é natural que desafios surjam na vida de um sonhador, principalmente se o seu sonho envolver arte. Por exemplo, como seria a vida de alguém que busca sobreviver de literatura no Brasil?

É sabido que o Brasil não é um país adepto da leitura. Em 2020 foi publicada a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” realizada entre 2015 e 2019 pelo Instituto Pró-Livro (IPL), Itaú Cultural e IBOPE Inteligência, que considera como leitor toda pessoa que leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses antes de sua realização. Sendo assim, a pesquisa constatou que o país possui cerca de 100 milhões de leitores, ou seja, menos da metade da população.

Se o seu próprio país, o seu próprio povo, lhe oferece uma resistência tão grande, não seria mais fácil simplesmente desistir? Talvez. Entretanto a arte está ligada à insistência, à perseverança, à teimosia. Paulo Stucchi, escritor nascido em Itu, é um grande exemplo de como o caminho não é fácil, mas também não é impossível. Aos 16 anos o escritor iniciou sua jornada no mundo literário ao escrever um romance chamado “Porta Retratos”, que foi finalista de um concurso literário em Santa Catarina. Em 2008, Paulo conheceu o editor João Scortecci que o ajudou a publicar o seu primeiro livro, “Natal Sem Mamãe”. De lá pra cá o autor já publicou mais de seis livros em diversas editoras e conseguiu conquistar seu lugar dentro do universo literário brasileiro.

No entanto, foi somente no seu terceiro livro, “O Triste Amor de Augusto Ramonet”, um romance histórico, em que Paulo se encontrou como escritor. Desde lá o autor se dedica a escrever romances históricos. “Escrever um romance histórico demanda, sim, muita, muita pesquisa. Ainda que você crie em cima dos fatos, para você criar em cima dos fatos, você precisa conhecer os fatos em vários ângulos, com vários níveis de detalhes, para você poder criar e para que o leitor tenha uma leitura verossímil, ou seja, deixar no leitor a dúvida, ‘Nossa, isso é real ou é a cabeça do autor? Isso aconteceu ou é você que inventou?’ Então eu acho que o romance histórico é bem-sucedido quando ele cria essa dúvida na cabeça do leitor”, explica o autor.

Contudo, o tempo estava a favor de Paulo. Poucos anos depois o escritor publicou “A Filha do Reich”, romance que foi finalista do Prêmio Jabuti, o mais tradicional e importante prêmio de literatura do país. “E a partir daí a minha carreira como escritor realmente deu uma alavancada. Eu deixei de ser aquele cara que bate nas portas das editoras tentando um espaço para ser procurado com propostas, com projetos, pelas editoras”, comenta o autor.

Mas, por mais que a arte não seja frequentemente vista como um trabalho, quando se chega no tamanho de Stucchi, ela se torna uma profissão, e toda profissão está, inevitavelmente, atrelada a um salário, certo? Sobre isso, o escritor diz: “Existem dois ramos que o autor pode seguir. Você tem a autopublicação, quando o autor paga para publicar os livros, então tem várias editoras de autopublicação, e tem as editoras do circuito profissional. São mais difíceis de entrar, realmente é bem complicado. Eu consegui entrar nesse circuito graças ao trabalho de um agente literário, com ‘A Filha do Reich’ (…). A vantagem é que você não paga para publicar, você tem um contrato, você recebe a quantia para cada original que você entrega e tem uma participação de X% sobre o preço de capa vendido. E você não paga para publicar. O autor profissional não tem um salário, ele tem um contrato de um número X de livros por ano, a editora paga pelos direitos autorais desse original e além disso você ganha uma porcentagem também sobre o preço de capa, essa porcentagem pode variar de 7 a 10% do preço de capa de cada unidade vendida do livro”, explica.

E o que resta para os poucos sobreviventes e sonhadores que buscam ingressar no mundo editorial? Surpreendentemente, uma luz de esperança, na verdade, segundo Paulo. “O conselho é: não desistam, não é uma carreira fácil, não é uma carreira bem remunerada, mas é uma carreira muito satisfatória. Dificilmente você vive de livros no Brasil, mas é possível publicar profissionalmente livros no Brasil”.

A carreira não é bem remunerada, e o bom escritor se torna (e se mantém) tão somente pela constância na leitura e na escrita. Entretanto, há poucas sensações neste mundo que se equiparem a catarse e satisfação da arte, tanto para seu comunicador quanto para os receptores, que estão cada vez mais próximos de seus autores favoritos graças à internet e às mídias sociais.