Artigo: A banalização do nazismo

Por Marcio Pitliuk*

O Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, conhecido como Partido Nazista, era muito mais uma organização criminosa do que uma agremiação política. Seus membros eram assassinos e corruptos, amorais e aéticos. O partido praticava a destruição do outro e de determinadas etnias que eles consideravam inferiores. Para os nazistas, o outro era qualquer um que pensasse diferente e etnias inferiores eram determinadas por falsas teorias, “fake news”, para usar um termo mais atual.

Eles usavam mentirosos estudos de eugenia para criar uma escala social onde os arianos estavam no topo da pirâmide, abaixo estavam os escandinavos, depois outros povos europeus, mais abaixo os eslavos, negros, ciganos e na base da pirâmide estavam os judeus. Os arianos se consideravam seres superiores e não deveriam se misturar com “outras raças”, mais uma mentira, pois só existe uma raça, a humana.

Para ser membro da SS, a elite militar, o candidato passava por um escrutínio que retrocedia várias gerações para saber se o sangue era puro e não tinha nenhuma mancha no seu passado.

Ser nazista não é tão banal como muitos acreditam. Um jovem que comete atos de violência e se veste de preto, erroneamente passa a ser considerado nazista. Os nazistas usavam preto, mas também verde oliva, marrom e cinza. Franz Paul Stangl, comandante de Treblinka, preferia o uniforme branco; Hermann Goering, o número dois do partido, usava as cores mais variadas, as vezes parecia o excêntrico e cafona pianista Liberace. Goering e Stangl estavam no topo da hierarquia.

Um jovem que desenha uma suástica no muro da escola é acusado de nazista e muitas vezes o rabisco foi apenas um ato de depredação de espaço público. Os acusadores nem se importam se a suástica foi desenhada no sentido horário ou anti-horário.

Não é porque um jovem faz o gesto de “sig heil” na escola que ele é um seguidor inconteste do nazismo. Ele sabe que isso é errado, e para incomodar ou chamar a atenção, repete o movimento que Hitler só adotou a partir de 1926, copiando os fascistas italianos, que por sua vez copiaram a maneira com que os romanos reverenciavam o imperador Júlio César. Contrariar as regras é um ato de rebeldia, isso não faz de um idiota um militante do partido nacional socialista.

Grande maioria das pessoas que são consideradas nazistas jamais leram “Mein Kampf”, a obra que Hitler escreveu na prisão e resume seu pensamento, encontrada no Brasil em edição pirata, uma vez que é proibida. Os chamados “nazistas ou neonazistas” brasileiros não leram Alfred Rosenberg, Julius Streicher, Maurice Barrés ou tantos outros teóricos que deram base ao movimento. Provavelmente esses pseudos nazistas não sabem nem pronunciar “untermensch”, quanto mais o significado dessa palavra.

Também é comum identificar grupos de carecas como nazistas. Podem ser pessoas violentas, mas desconheço que a calvície era uma característica ou marca registrada dos nazistas da Alemanha nos anos 1930 e 1940. Há grupos no Brasil autodenominados neonazistas e pelas características físicas dos seus membros e pela maravilhosa diversidade étnica brasileira, Heinrich Himmler os colocariam nos primeiros lugares nas filas das câmeras de gás.

Ser chamado de nazista é, com toda razão, ofensa, portanto, nominar de nazista alguém que pratica violência gratuita, contraria a ciência ou é preconceituoso, é bom para a esquerda, se encaixa perfeitamente neste período de antagonismo e de intolerância entre os extremos do espectro político. Violência contra opositores não é exclusividade da direita. Tivemos péssimos exemplos como Pinochet, Mussolini, Hitler, Franco e Salazar, no entanto, no outro extremo tivemos Stalin, Pol Pot, Mao e a família Kim, apenas para citar alguns.

Adolescentes que invadem escolas com o intuito de matar colegas e professores são desiquilibrados sem nenhuma conotação política. Matam porque são psicopatas. Eles não escolhem as vítimas pela cor da pele, religião ou preferência sexual. São pessoas com distúrbio mental que matam quem encontram pela frente, sem distinção. São apenas os alvos que infelizmente cruzaram seus caminhos.

Todos os nazistas eram psicopatas, mas nem todos os psicopatas são nazistas.

*É autor dos livros “O engenheiro da morte”, “A alpinista” e “O homem que venceu Hitler”, Membro Acadêmico do StandWithUs Brasil e curador do Memorial do Holocausto de São Paulo.