Artigo: Experiência, um tesouro intangível
Por Éden A. Santos*
Há dois importantes significados para Experiência: prática de vida de um lado e ensaio científico de outro. Discorrer sobre a perícia e habilidade das pessoas que, pressupõe-se, se materializa em experiência e que é o propósito deste trabalho, é notório que tem cunho pessoal, ao contrário da experiência científica que além da sua objetividade, tem caráter impessoal. Limitando-nos à primeira, lembramo-nos de que é resultado, consequentemente, da participação da pessoa em situações repetitivas. Isto posto, experiência normalmente é conquistada por anos a fio de repetição da mesma atividade, sugerindo que ela só pode ser alcançada, portanto, por pessoas com alguma idade.Estas, muitas vezes por força de uma discriminação injustificável, são relegadas a um segundo plano. Destarte, nunca se pode falar em experiência excepcional, que é muito usada para um evento extraordinário, traduzindo-se isso em uma maneira de retórica para identificar algo muito diferente.
É importante destacar que tanto a experiência empírica, como a experiência científica, apesar de distintas, acabam identificando-se num ponto, qual seja, ambas têm necessidade de repetição das ocorrências e eventos para que sejam alcançadas. Há uma interessante distinção esposada por Platão, traçando uma clara linha de diferenciação com um prosaico exemplo. Enquanto os médicos de então, ao tratarem da saúde dos escravos, o faziam por métodos de pura experiência, dizia ele, quando se tratava dos senhores e dos homens livres, eles estudavam, observavam e procuravam as raízes do mal pesquisando junto aos parentes do paciente.
A experiência dentro das organizações sociais exige um atento cuidado pela possibilidade de uma danosa dicotomia. Dentro das empresas, especialmente as grandes organizações, essa questão é levada muito a sério. Um empregado com acúmulo de conhecimento e muitos anos de experiência, pode ser ele próprio, um obstáculo a uma saudável e permanente transformação exigida pela concorrência de mercado. Todavia, a organização não pode abrir mão desse profissional, exigindo, por consequência, a manutenção permanente de atualização psicossocial. O funcionário não deve e não pode perder sua individualidade, mas deve estar conscientizado socialmente de ser parte de um grupo que, dentro de um conceito sistêmico, é intrinsecamente um componente indispensável.
Todo sistema social é, por natureza, um sistema aberto, resistente a um processo de entropia. Entretanto, a organização deve, ela mesma, ter uma introvisão para não acontecer que, com o passar dos anos, ela se transforme em um mastodonte, o que pode conduzi-la ao fracasso. Desse modo, não só o empregado está sujeito à acomodação, mas também o próprio empresário. O histórico econômico tem nos apresentado casos sui generis.
Organizações em vias de fracasso por gestões obsoletas, salvas por gestões mais jovens e saudáveis, mesmo sem igual experiência e organizações de sucesso levadas ao malogro por gestões inexperientes e despreparadas. A repetição rotineira que leva à experiência pode ser, por outro lado, também danosa. Lembro-me de minha época de docência, quando a tecnologia da indústria japonesa dava um banho na então fabulosa indústria americana, um norte-americano, com ascendência nipônica, chamado William Ouchi, publicou um livro sob o titulo Teoria Z, que revolucionou a administração da época. O seu livro era baseado em sua tese de doutorado e nele narrava observações feitas nas indústrias dois países. Conta, então, um episódio. A gerência de uma importante indústria japonesa acompanhava pari-passu o desempenho da seção de tornearia. Havia um operário que não acompanhava o desempenho dos demais, apesar das máquinas serem iguais, treinamento e tempo de serviço também. Por mais que o gerente e seus assistentes analisassem, não encontravam uma razão plausível para esse fato. Até que um deles sugeriu que trouxessem funcionários administrativos para fazerem suas próprias observações. E a explicação foi dada por quem não sofria a influência da rotina. O torno do operário em questão ficava embaixo da claraboia e a iluminação turvava, mesmo que levemente, sua visão prejudicando sua agilidade. Eis o porquê a Experiência é crucial e deve ser analisada e adequadamente utilizada.
* É escritor. Site: www.edensantos.com. E-mail: edensantos@uol.com.br.