Classe Endiabrada!

J.C. Arruda

Depois que eu contei aqui a última historinha envolvendo a Escola Cesário Motta, várias pessoas de convivência na minha adolescência e juventude me cobraram as “histórias do Regente” esse educandário que está comemorando seus gloriosos 80 anos de fundação e que, nos anos 50 ainda exigia dos seus pretendentes a aluno, um exame de admissão. Isso mesmo: havia vários cursinhos na cidade que preparavam crianças para o exame de admissão ao ginasial. Não bastava concluir o primário. Tinha que fazer a prova no Regente e os que não conseguiam classificação, ficavam fora do curso ginasial inicialmente e para o colégio depois.

Com fui bom aluno no primário, não tive dificuldades para conseguir entrar no Regente. Só que, de cara encontrei a maior dificuldade, porque estava acostumado com um só professor na sala de aula, ministrando várias matérias como português, matemática, geografia, história e inclusive trabalhos manuais. O aluno passava a ter identificação com a professora que era como uma extensão da própria mãe fora de casa. Enquanto que, no ginasial, tinha um professor para cada matéria. Quando chegava no fim do ano, os alunos já conheciam bem cada professor mas tinha professor que não conhecia sequer os alunos pelos seus nomes.

Com exceção do 1° Ano B de saudosa memória. Gente, já contei que no Cesário Motta eu era considerado um capeta por professores e funcionários. Pois, nesse famoso 1° Ano B do Regente eu poderia ser considerado um anjo de candura em comparação com a maioria dos alunos. Parece que capricharam: puseram alí, todos os repetentes e endiabrados. O máximo de gracinha que eu conseguia fazer era na aula de desenho, do Professor Pery Guarani Blackman, porque na lista de chamada havia três Zé Carlos seguidos. Então, o Professor chamava: – “Número 20, José Carlos Araújo”. E este respondia: – “Pronto, seu Pery”. Depois era: – “Número 21, José Carlos Mendes Galvão”. E vinha a resposta bem rápida e alta: – “Cá estou seu Pery”. O terceiro era eu: – “Número 22, José Carlos Rodrigues de Arruda”. E eu fazia a gracinha em voz alta: – “Estou cá seu Pery!” A galera achava graça e o professor ignorava os graciosos.

Tinha o Zé Maria Sampaio que era terrível. Foi ele quem nos ensinou a cortar uma fatia de giz com gilette, imitando um comprimido de Melhoral. Aí bastava mostrar ao professor e pedir licença para engoli-lo com água no banheiro. Nenhum professor se recusava e a maioria dos “adoentados” não voltava mais para a aula.

Como a nossa sala ficava no andar térreo e, vizinha de uma das janelas, tinha uma caixa d´água que está lá até hoje, era comum os “má-condutas” irem pulando para o teto da caixa cada vez que o professor se virava para escrever no quadro-negro, não sendo raras as vezes em que a aula se encerrava com menos da metade de alunos que havia na hora da chamada. Quase todos os fujões iam para o Bilhar do Ataliba, no Largo da Matriz, exercitar-se na nobre arte do taco.

Certa vez, esse grupelho passou dos limites: botavam fogo no cesto de lixo que havia na sala e, quando começava a fazer fumaça, apagavam em seguida, apenas para a galera rir. Só que em dado momento, não deu mais para apagar e assustou todo mundo. O professor saiu gritando “fogo” pelos corredores e pararam as aulas em todo o andar térreo. Deu até numa espécie de CPI para apurar o autor ou autores. Eu cheguei a jurar que não foram o Marião Braga e o Henrique Menchini. Que Deus me perdoe pelo juramento…

Outro episódio interessante, foi quando o Professor Padilha que dava aula de história, passou um teste para toda a classe e foi avisando: – “No menor indício de cola, eu anulo a prova inteira e dou zero”. Em seguida, determinou à classe que fizesse uma descrição sobre o Imperador Júlio César do qual a história diz, foi assassinado com um punhal pelo próprio filho. No meio da prova, o má-conduta Cássio Silveira, sussurrou no ouvido do colega Fernandão Mori que era um dos bons alunos:

– “Ô Fernando, me ajuda aqui. O que Júlio César, disse quando morreu?”

E o Fernando respondeu também sussurrando:

– “Ele disse até tu Brutus, mas escreva diferente para o Seu Padilha não perceber que foi cola”.

Quando o Professor Padilha foi corrigir, viu no final da prova de Cássio Silveira, a frase – “Até tu, Popeye?”

O zero foi inevitável.