DENÚNCIA: Festas clandestinas ameaçam jovens de Itu e região
Morte de rapaz nesta semana chamou a atenção da polícia e autoridades, que estão conscientes de tais eventos. Veja o que eles falam.
Na manhã da última segunda-feira (19), o cabeleireiro Vinícius Matheus Marcolino, de 20 anos de idade, foi encontrado morto nas imediações da Rodovia Hilário Ferrari, no trecho de Itu, após ter desaparecido no último sábado (17), após ir a uma festa em Salto.
A notícia, infelizmente, todo mundo já sabe. Mas o que chama a atenção é que o evento não tinha alvará de funcionamento e nem autorização do Corpo de Bombeiros para sua realização, de acordo com informações. No local da festa, foram encontrados diversos pinos de drogas, camisinhas usadas e garrafas de bebidas.
Não só em Itu ou em Salto, mas em diversas cidades da região e do país está cada vez mais comuns eventos do gênero (que ocorrem em chácaras fora do perímetro urbano) com presença de menores de idade, havendo diversos incidentes registrados, inclusive envolvendo menores de idade. Até o momento, neste ano, já foram registradas duas mortes, nas cidades paranaenses Curitiba e Foz do Iguaçu.
No ano passado foram diversas mortes registradas em diferentes pontos do país, seja por assassinato ou até mesmo overdoses, já que são conhecidos os consumos de bebidas alcoólicas e de entorpecentes nos eventos. A cada novo caso, a sociedade discute a necessidade de se fiscalizar, denunciar e aumentar a segurança de festas de tal porte.
Diante disso, o “Periscópio” esteve em contato com o 50º Batalhão de Polícia Militar do Interior para saber se existem casos de denúncias quanto a festas do gênero e o que deve ser feito para impedir ou reduzir que tragédias do tipo ocorram.
De acordo com o Tenente PM responsável pela Comunicação Social do 50º BPMI, Fabrício Afonso de Sousa, não há registro de denúncia quanto a possíveis festas irregulares na cidade. “As únicas reclamações via 190 são de perturbação de sossego (som alto)”.
A autoridade comenta ainda como a organização de um evento deve proceder. “Devem procurar o Poder Público para a realização de qualquer evento e só poderá realizá-lo após vistoria e emissão de alvará”.
O PM aproveita ainda para alertar os jovens, bem como seus pais. “Deve-se verificar sempre a procedência do evento e não permitir que seus filhos frequentem esses tipos de festas”.
A reportagem esteve em contato também com João Carlos Pestana Ramos, presidente do Conselho de Segurança Pública de Itu (CONSEG), que reforçou a importância de medidas rigorosas. “Quem tem que determinar se uma festa pode ou não ocorrer é a lei. Se o município permite a realização de festas em chácaras e similares, não importando o ritmo musical, então que a lei seja cumprida e que se obedeçam às exigências de cada município”.
Pestana informa ainda como devem ser os procedimentos. “Expedição do Alvará Municipal e recolhimento dos tributos, só liberado mediante vistoria técnica e expedição do AVCB (Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros), ofícios dirigidos ao Departamento de Trânsito do Município, Polícia Militar e, por vezes, policiamento rodoviário, solicitando a regulação, logística e segurança da chegada e entorno. Contratação de ambulância, com equipe de socorristas e empresa de segurança privada (idônea e em bom número)”, lista.
O JP entrou em contato também com a Secretaria de Obras de Itu, responsável pela fiscalização desses eventos por meio do Departamento de Fiscalização e Postura, que conta com o apoio da GCM (Guarda Civil Municipal) e da PM.
De acordo com a Prefeitura, a Secretaria de Obras tem ciência de que este tipo de evento acontece em Itu e, portanto, age em conjunto com autoridades policias para que os mesmos não sejam realizados. “A fiscalização de Posturas vai ao local, acompanhada da PM e da GCM, e impede a realização do evento”, afirma.
Além disso, o Departamento ressalta que “há monitoramento desses eventos pelas redes sociais”, sendo uma maneira de impedi-los. “A maneira de evitar é o próprio monitoramento e a ação rápida da fiscalização, com apoio da PM e GCM”. Segundo a administração, em 2017 foram impedidas de acontecer 12 festas irregulares.
Conselho Tutelar
A presença de menores de idade em festas realizadas irregularmente é grande, fazendo com que o contato com as bebidas e as drogas seja facilitado. Segundo a conselheira Elisabete Mariza Teixeira, do Conselho Tutelar de Itu, é difícil ter o controle e agir imediatamente nesses casos. “Essas festas geralmente não são muito divulgadas, por isso não conseguimos agir com efetividade, somente se houver uma denúncia”.
A conselheira relata ainda que a quantidade de menores envolvidos é muito grande. “O número de adolescentes que usam drogas ou que fazem uso do álcool, que é uma droga lícita, é assustador”, comenta.
Uma maneira de evitar que esses casos aconteçam é através da conscientização. “Deve haver um trabalho preventivo dentro de casa, com a família. Às vezes o pai bebe e acaba dando também para o filho que é menor idade. É uma situação delicada”. Outras formas de orientar os jovens é nas escolas. “Deve haver palestras e conversas, mantendo assim um trabalho efetivo de conscientização”, afirma.
A visão de quem frequenta
Muitos jovens já foram ou ainda vão para essas festas que ocorrem em chácaras. É o caso de Vitor Rodrigues, de 21 anos, que frequentou alguns eventos. “Geralmente tem segurança e revista na entrada. Chega a ser divertido, dá pra se divertir até certo ponto, mas aproveitando esse caso do jovem, por exemplo, deveria ter mais segurança dentro da festa, vigiando a festa, perto do palco e também na saída”, relata ele.
“Não acho que as festas deveriam parar, até porque na cidade quase não tem nada para fazer, mas deveria haver mais atenção e melhor organização dessas festas”, completa ele, alegando ainda que a segurança deve ser mais presente nos eventos.
O esquema das festas em chácara é praticamente o mesmo, segundo frequentadores de Itu e região entre os 16 e 24 anos: a entrada possui seguranças, há sistema de diferenciação de menores e maiores de idade, bar, barracas de comidas, palco e também banheiros. O que pode variar, nessas festas, é que algumas podem possuir ambulância e policiamento, enquanto outras podem nem ter suporte para emergências.
Para Dayane Alavarce, de 23 anos, o planejamento dessas festas precisa melhorar. “Alguns anos atrás eu até ia [nas festas] porque eram mais tranquilas. Mas conforme foram passando os anos eu acho que virou bagunça”, conta ela, completando que as festas “não necessariamente precisam acabar, mas sim planejar melhor para ter mais segurança”.
Diego Costa, aprendiz de estilista de 21 anos, acha que as festas “não deveriam acabar, mas sim serem mais organizadas em questão de segurança”. “Algumas festas são seguras, depende muito de quem organiza”, finaliza.
A reportagem do “Periscópio” tentou contato com os organizadores da festa em que ocorreu o lamentável episódio com o jovem Vinícius, porém não teve sucesso até o fechamento desta reportagem. A família da vítima também não quis se pronunciar.