Dia do Cinema Brasileiro é duplamente comemorado
Dia Nacional da Língua Portuguesa, Dia Nacional da Cultura e da Ciência. Aniversário do jurista, diplomata e político Ruy Barbosa, considerado um dos grandes defensores do idioma e da cultura brasileira. Globalmente, o dia também marca o Dia Mundial contra a caça às Baleias e a Noite de Guy Fawkes, que ficou conhecido pela história em quadrinhos “V de Vingança”. O dia 05 de novembro também é o aniversário deste que vos escreve (sim, obrigado pelos parabéns).
Além disso, nesta data celebramos o Dia do Cinema Brasileiro. Isso pode causar uma certa confusão, já que alguns atribuem o Dia Nacional do Cinema Brasileiro ao dia 05 de novembro, enquanto outros o comemoram em 19 de junho. A data de hoje marca a primeira exibição pública de cinema no Brasil. No dia 5 de novembro de 1896, no Rio de Janeiro (RJ), foram projetados oito pequenos filmes, de cerca de um minuto cada um, para a elite carioca, na Rua do Ouvidor.
Seja em qual data você prefere celebrar o cinema nacional (eu prefiro o dia de hoje por razões óbvias), a produção brasileira deve ser sempre exaltada. E não é só por conta do Oscar de Melhor Filme Internacional conquistado no início do ano pelo sucesso “Ainda Estou Aqui”, que elevou nosso cinema para patamares nunca antes alcançados: é preciso prestigiar nossas produções porque elas são molas propulsoras da nossa economia.
Estudos mostram que o audiovisual brasileiro também se tornou um dos segmentos mais importantes da economia em 2024. Segundo estudo divulgado pela Oxford Economics em outubro, o setor movimentou mais de R$ 70,2 bilhões, e gerou mais de 608,9 mil empregos, no ano passado. Os números superaram setores com investimentos maiores no cenário brasileiro, como a indústria automobilística.
Na véspera do lançamento de “O Agente Secreto”, novo filme de Kleber Mendonça Filho que tem tudo para fazer bonito novamente para o Brasil na temporada de premiações, esta edição especial do “Cinerama” traz cinco dicas de filmes nacionais recentes para você celebrar o Dia do Cinema Brasileiro em grande estilo – e provar que nossos filmes não devem nada aos de Hollywood.
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>>> Noites Alienígenas
Drama, 2022 | Direção: Sérgio de Carvalho | Onde assistir: Netflix
“Noites Alienígenas” foi o grande vencedor do Festival de Gramado 2022, onde levou vários Kikitos e o prêmio do Júri da Crítica. O filme retrata o cotidiano de Rio Branco, capital do Acre, mostrando uma efervescência que a gente, aqui no eixo Sul-Sudeste, desconhece. É uma cidade com suas particularidades, com seus dilemas e problemas. Problemas estes que se intensificaram com a vinda do narcotráfico, que fez o número de mortes de jovens aumentar vertiginosamente nos últimos tempos. O longa traz atuações excelentes, uma fotografia digna e denuncia a “invasão alienígena” que a capital acreana vem sofrendo, com a dominação pelo crime e também a vinda de religiões neopentecostais, que vem suprimindo as tradições amazônicas.
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>>> Retratos Fantasmas
Documentário, 2023 | Direção: Kleber Mendonça Filho | Onde assistir: Netflix
Diretor de grandes filmes nacionais dos últimos anos, como “Aquarius” e “Bacurau”, Kleber Mendonça Filho presta um tributo às salas de cinema do Recife do século 20. Mais do que isso: às suas memórias. Através de um vasto acervo de filmagens próprias ou não, o cineasta entremeia sua trajetória com a das salas de projeção, ajudando a contar uma história muito particular do Brasil. Com um quê surrealista em algumas partes, “Retratos Fantasmas” talvez seja o mais intimista longa do diretor, com absoluta certeza.
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>>> Carro Rei
Fantasia/Drama, 2021 | Direção: Renata Pinheiro | Onde assistir: Globoplay
“Carro Rei”, da diretora Renata Pinheiro, traz uma miscelânea de gêneros para contar uma fábula sobre o poder das máquinas em nossa sociedade, em especial o automóvel. Na trama, um jovem chamado Uno (Luciano Pedro Jr.) tem o estranho dom de conversar com os carros. Quando uma lei impede a circulação de veículos com mais de 15 anos nas ruas de sua cidade, ele e seu tio (vivido em uma memorável atuação de Matheus Nachtergaele) começam a reformar as “latas velhas” – tendo como ponto de partida o antigo Uno da família, que originou o nome do jovem. Só que o veículo vai ganhando cada vez mais inteligência e autonomia, preparando um plano de dominação. “Carro Rei” tem uma estética pop futurista, mas que ao mesmo tempo abraça o clima do sertão pernambucano. Sci-fi em sua essência, o filme aborda capitalismo selvagem e a exploração da classe trabalhadora, instigando o espectador do começo ao fim.
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>>> Marte Um
Drama/Ficção, 2022 | Direção: Gabriel Martins | Onde assistir: Globoplay
“Marte Um”, aclamado em Sundance e no Festival de Gramado, é uma maravilha do começo ao fim. Um retrato incrivelmente fiel do Brasil de verdade, de um povo que sofre e batalha dia a dia, mas sempre dá um jeito. No longa de Gabriel Martins – rodado graças a um fundo público voltado para diretores negros criado no governo Dilma (que obviamente acabou no governo do atual presidente) –, acompanhamos a jornada de uma família negra na periferia de Contagem (MG), em especial o jovem Deivinho (Cícero Lucas), o caçula que sonha em ser astrofísico e participar de uma missão que vai colonizar Marte. O filme, que também vai mostrando os percalços dos demais integrantes dos Martins, retrata a vida periférica com maestria. Os personagens são profundos, bem explorados. As situações são verossímeis, tudo faz o espectador sentir a dor (e a alegria também) deles. “Marte Um”, mesmo com um quê de fábula e de ficção, é uma obra totalmente pé no chão, que fala de dilemas reais e com uma humanidade ímpar.
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>>> Carvão
Drama, 2022 | Direção: Carolina Markowicz | Onde assistir: Globoplay
Numa pequena cidade do interior paulista, uma família recebe uma proposta rendosa, mas também perigosa: hospedar um desconhecido em sua casa. E esse sujeito nada mais é que um traficante que fugiu da Argentina. Sua chegada muda toda a dinâmica daqueles pacatos sujeitos, que ganham a vida em uma pequena carvoaria. Mas isso é apenas o que está na superfície de “Carvão”. O primeiro longa-metragem da diretora Carolina Markowicz esconde muito mais informações em suas várias camadas. Apesar do roteiro truncado e da oscilação de ritmo, cumpre seu papel de ser um retrato ácido de um Brasil onde impera a naturalização do absurdo.

