Entrevista: Governo de todos

Por Cristina Simionato, Giulia Marques e Felipe Sinhá

No ano em que se comemora os 150 anos da Convenção Republicana, um dos maiores marcos democráticos do país, a professora Denise Lícia Boni de Oliveira Gasparini, mestre em ciências políticas, fala, em entrevista exclusiva, sobre a relevância da República para o Brasil e como foi seu processo de instalação após 1873.

1) Qual a importância da República para a sociedade?
Essa ideia de coisa pública, de governo do povo, de um governo de todos, diferencia das monarquias absolutistas que existiam no governo do rei, onde o rei governa para ele mesmo em prol de suas próprias vontades e objetivos. Então, primeiro, por que a República é importante para sociedade? Porque é o governo de todos, é o governo de nós, pois a República está olhando para o todo.

2) Como foi a transição do Regime Monarquista para a República?
No caso brasileiro, a transição da monarquia para uma república foi feita basicamente a partir de um golpe. Então, o imperador foi deposto e, assim, iniciada uma república, justamente por isso que a chamamos de Proclamação da República. Se a gente vai levar a ferro e fogo dentro da história, foi um golpe que iniciou o processo de ruptura com o sistema anterior.

3) Quais são as principais diferenças para a sociedade entre a queda do Regime Monarquista e o início da República?
Para a sociedade brasileira que viveu a queda do Império e o início da República, as mudanças foram praticamente nulas. Mas, claro que em termos de escolha, a gente tinha agora a possibilidade de escolher o governo, mas continuou sendo um voto censitário. O que significou que pessoas com uma determinada renda anual podiam votar, essas mesmas pessoas podiam ser eleitas, e isso era uma quantidade muito pequena na época.

4) A partir dessa ruptura entre Monarquia e República, todos tinham o mesmo direito de “poder”?
Não, pois ainda existia o controle até de quem poderia ser eleito. E foi isso que acabou mantendo o poder nas mãos dos mesmos grupos que eram os conselheiros, todos que estavam em torno de Dom Pedro II. Então, mudou simplesmente a possibilidade de escolher alguém diferente, dentro do mesmo círculo de pessoas. Digo alguém diferente, alguém que não era da família do imperador. Mas, o grupo de pessoas e a classe social das pessoas que tinham potencial para serem escolhidas se manteve o mesmo.

5) Qual a importância da República?
Conforme a gente vai evoluindo e a República vai evoluindo, percebemos que começa uma participação muito maior da população, e isso que é a importância da República. Essa possibilidade de participação cada vez mais inclusiva da sociedade, porque as decisões políticas de um país não podem ser tomadas em função dos interesses e das necessidades de apenas um grupo ou apenas da maioria; elas precisam considerar e levar em conta maiorias e minorias, ricos e pobres, aliados de quem está no poder e rivais, adversários como um todo.

6) De quem é o interesse do poder da República?
O poder é de interesse nacional, pois é uma disposição de longo prazo para o estado, nesse caso, do estado brasileiro, e não de um ou outro que esteja no poder do governo. E volto a falar, essa é a importância da República, a importância de ser o governo do todo, é ser o governo do estado pelo interesse do estado, de toda a população que está dentro desse território e não apenas de um grupo.