Escritora anuncia 2ª edição de “Cidade dos Esquecidos”

Kátia Auvray anunciou a nova edição de seu livro em recente reunião da Academia Saltense de Letras (Foto: Divulgação)

A escritora Kátia Auvray anunciou para este mês a segunda edição do seu livro-reportagem “Cidade dos Esquecidos – A Vida dos Hansenianos Num Antigo Leprosário do Brasil”, que sairá agora pela editora Mirarte, cuja primeira edição de 2005 se esgotou há anos e a procura ainda é crescente. A noite de autógrafos acontece no dia 21 de setembro, em um espaço de eventos em Salto.

Kátia Auvray disse em reunião da Academia Saltense de Letras (ASLe) que o trabalho de preparação da nova edição já está concluído e aos cuidados da editora. Ela adiantou que o material será ampliado em um prefácio e um posfácio em relação ao que foi publicado há 18 anos pela Ottoni Editora. E explicou que a Ottoni fechou as portas e que, por isso, não havia mais como produzir novos exemplares daquela edição.

No prefácio, ela vai detalhar o que a levou a produzir o livro em 2005. A escritora disse que sentiu necessidade de explicar como chegou ao material do livro e o que objetivava, porque surgiram indagações sobre o seu posicionamento: “Não sou ativista. Fiz por indignação”.

“Tudo começou quando fui procurar sobre a falta de água em Itu e encontrei a informação de que o padre Antônio Pacheco da Silva havia sido o primeiro apóstolo dos lázaros na cidade e que tinha utilizado a sua riqueza financeira para cuidar dos ‘morféticos’, como eram chamados à época, e ainda para levar água à cidade, mas soube também que o nome dele vinha sendo apagado”, disse ela. “Eu fui procurar um rato e achei um gato”.

A referência serve para explicar que um outro padre, Bento Dias Ferraz, havia se apropriado da história do padre Antônio. Kátia constatou, por exemplo, que havia placa enorme com o nome do padre Bento como benfeitor e outra minúscula fazendo referência ao padre Antônio. “Não achei aquilo certo e resolvi investigar o que era aquele asilo-colônia”.

Todo o trabalho realizado pela escritora foi lastreado em documentos que ela resgatou dentro do hospital (alguns literalmente no lixo), com muitas fotos e com testemunhais conseguidos dos internos por meio de uma convivência alcançada com três visitas por semana durante dois anos. “No começo havia vigia que me acompanhava e cerceava. Depois, ele desistiu”.

Esquecimento e dor

As pesquisas levaram à descoberta que dá título à obra. O antigo leprosário ou Hospital Francisco Ribeiro Arantes era uma cidade, com direito a espaços para a criação de animais, cassino, cinema, estação de rádio e até uma cadeia, e foi desenvolvida assim para dar a impressão aos internados de que eles viviam em um mundo real. Dessa forma, não atinavam para estarem presos.

“Uma das coisas que mais me impressionaram foi entrar na cadeia caindo aos pedaços e dar de cara com uma revoada de morcegos assustada pela luz da lanterna”, revelou. Mas ela ficou encantada também por saber que na cadeia havia uma pintura de uma moça no jardim e diversos poemas escritos nas paredes, o que revela que a arte era uma forma de enfrentar o martírio.

Ela conta que as casas ou taboeiros como eram conhecidas, reproduziam uma cidade, mas não uma cidade normal. “Em uma das casas, não havia janelas. A moradora mantinha a porta com muitas trancas. Ela tinha medo dos novos moradores. Como uma cidade, havia também traficantes e prostituição visível”. Demorou para que conseguisse ganhar a confiança dos moradores.

Combater o mal

A intenção da escritora com o lançamento da segunda edição do livro-reportagem é fazer chegar a mais gente as informações que colheu e combater o que aconteceu naquele asilo-colônia, para que não se repita mais. Depois da publicação da primeira edição, o livro virou referência na área e vem sendo procurado por estudantes, profissionais do direito e pessoas ligadas à causa.

Neste sentido, o posfácio que será acrescentado à segunda edição trará uma atualização de como está o hospital hoje e os moradores que estão vivendo ainda lá. A escritora lembra que hoje o número de internos gira em torno de 300, mas já chegou a 5.000 nos tempos de mais intensidade dos asilos-colônias. O Brasil teve um total de 35 asilos-colônias e esses locais foram piores entre 1926 e 1960.