Espaço Acadil: A Rússia é um blefe

Marcio Pitliuk
Cadeira  nº 4 I Patrono Dr. Benedito Lázaro de Campos

            Estive na Rússia duas vezes e conheci uma falsa potência.

            O contraste entre a riqueza e a pobreza são maiores que no Brasil. Não tem favelas, o inverno russo não permite, mas os bilionários ostentam muito mais que qualquer brasileiro. O antigo centro comercial da Praça Vermelha, Gum, que durante o comunismo era frequentado apenas pela elite política e turistas com moeda forte, hoje é um shopping tão luxuoso que não existe igual no Brasil.

            Andei pelo interior da Rússia em estradas esburacadas de mão dupla, vi tratores da época de Stalin e casas de madeira com pilhas e pilhas de lenha para suportar o inverno. Parecia que eu estava no século XIX, num livro de Tolstói.

            Um amigo russo, fugitivo da União Soviética, me disse que os melhores cérebros e os recursos financeiros eram usados para fins militares, por isso essa carência em todas as outras áreas, mesmo anos após a queda da URSS.

            Ainda hoje, pouca coisa mudou. Os bilionários e suas esposas vestem grifes europeias, dirigem automóveis alemães e possuem navios com design italiano.  Até mesmo os fast foods são da “decadente civilização da América do Norte”. Veja os uniformes dos atletas russos, eles são patrocinados por marcas ocidentais. A Rússia não foi capaz de criar uma marca de prestígio internacional, a não ser de vodca.

            A URSS fingia ser poderosa e o mais incrível é que os Estados Unidos colaboravam com essa falsa imagem, pois interessava dizer que havia um inimigo forte e ameaçador contra a América e os valores ocidentais. (O tal do comunista embaixo da cama). O comunismo precisava ser combatido e impedido de se alastrar pelo mundo. Essa mentira era útil para os dois lados.

            É claro que a Rússia tem bombas atômicas, mas o poder termina aí.

            A economia é dominada pelos oligarcas que enriqueceram às custas de corrupção e chantagem e investem suas fortunas no Ocidente em mansões, iates, times de futebol e silicone para suas mulheres, enquanto o país continua pobre.

            Seu PIB é 15 vezes menor que o americano. Menor do que o do estado do Texas. O país depende basicamente de três comodities, petróleo, gás e trigo.

            O ataque contra a Ucrânia desmascarou o poderio russo. Seis semanas após a invasão, Putin não conseguiu ganhar a guerra contra um país com ¼ da sua população e um PIB três vezes menor. O exército russo é desorganizado, despreparado, tem falhas na logística, sem estratégias e o pior, desmotivado. Para derrotar a Chechênia, tiveram que destruir o país. Apanharam no Afeganistão e não conseguem ajudar Bashar Al-Assad a terminar a guerra civil na Síria.

            A outra mentira do carniceiro de Moscou, que os ucranianos queriam ser parte do “Império russo”, caiu por terra quando mais de 4 milhões de refugiados já buscaram asilo na Europa, e não na Rússia.

            Putin ameaça com armas nucleares, o que não acredito que faria. Ele tem um monte de defeitos, mas não é suicida.

            Sua única força é a violência contra seu próprio povo, que aprendeu a fazer desde os tempos da antiga KGB.

            Todo o resto é blefe.