Espaço Acadil | Areias e suas histórias

No coração do Vale do Paraíba, entre montanhas, fazendas e a brisa que sopra memórias antigas, repousa a cidade de Areias. Nascida às margens da estrada que unia o Rio de Janeiro a São Paulo, foi inicialmente conhecida como Santana de Paraíba Nova. Em 1816, tornou-se vila com o nome São Miguel de Areias, em homenagem ao príncipe Dom Miguel, filho de Dom João VI. E, em 1957, foi elevada à categoria de cidade.

Com pouco menos de 4.000 habitantes, foi uma das primeiras localidades do Vale do Paraíba a cultivar café e, durante o auge do ciclo cafeeiro, destacou-se entre os principais produtores da Província de São Paulo.

Cortando seu território, a antiga Estrada dos Tropeiros não apenas ligava estados, mas também transportava ideias, produtos e histórias. Por ela passou D. Pedro I, que pernoitou em Areias em 17/08/1822, poucos dias antes de proclamar a independência do Brasil, hospedando-se no Hotel Sant’Ana. Ao longo de mais de dois séculos, o hotel recebeu ilustres visitantes como D. Pedro II, a Princesa Isabel e o Conde d’Eu. A princesa chegou a fundar uma escola de música na cidade, deixando sua marca na vida cultural local.

A imponente Igreja Matriz de Sant’Ana, iniciada em 1792 e concluída em 1874, permanece como um dos marcos da fé e da arquitetura da cidade. Seu sino original, doado em 1863 pelo major Manoel da Silva Leme, ainda ressoa suas memórias com mais de uma tonelada de bronze.

Na virada do século XX, Euclides da Cunha esteve em Areias e, como engenheiro do governo, teria contribuído para obras locais, incluindo pontes e reformas.

A atual Casa da Cultura, construída em 1833, já foi Câmara, Cadeia e Fórum. Entre 1907 e 1911, abrigou ninguém menos que Monteiro Lobato, que ali trabalhou como promotor público e começou a escrever suas primeiras obras, como Urupês e Cidades Mortas.

Areias também é berço de figuras ilustres, como o atleta Alfredo Gomes, que brilhou nas pistas representando o Brasil nas Olimpíadas de Paris(1924) e vencendo a Corrida de São Silvestre, em 1925, e o jurista Washington de Barros Monteiro, referência no direito civil brasileiro.

Nas áreas rurais, destaca-se a Fazenda Vargem Grande, onde o paisagista Burle Marx criou um jardim sobre um antigo terreiro de café. A escritora Lygia Fagundes Telles passou a infância em Areias e eternizou a cidade no livro A Disciplina do Amor. Areias também mantém viva a memória da Revolução Constitucionalista de 1932, com um mirante no local onde se estabeleceu um dos pontos de apoio das forças paulistas.

Areias é mais que um ponto no mapa: é uma página viva da história, onde cada pedra, cada sino e cada sopro de vento parecem guardar o eco de um tempo que ainda insiste em florescer.

Waldemar Camargo
Cadeira Nº 09 | Patrono: Mons. Paulo Florêncio Silveira Camargo