Espaço Acadil: Dia dos avós? Meu amigo, quanta hipocrisia!

Poeta Sidarta da Silva Martins
Cadeira nº 20 | Patrono Luiz Gonzaga Moraes

“Tudo que é falso é ruim” (autor desconhecido)

Surpreendo-me com a chamada da NET, a cada 26 de julho, sobre o “Dia dos Avós”.

Mas como pode haver tanta hipocrisia!

Quem são os avós brasileiros em sua grande maioria, senão cuidadores de crianças que não são suas, sem qualquer remuneração?

Quem são os avós brasileiros, senão devedores de empréstimos do INSS, que não foram usados para seu lazer ou para sua melhoria de vida?

Quem são os avós brasileiros, em sua grande maioria, senão números em filas incontáveis de Postos de Saúde mal cuidados, sem recursos e sem médicos, pontos perdidos em filas de farmácias populares, sem remédios e sem bondade, corpos abandonados à própria sorte, em macas improvisadas nos corredores dos infindáveis prontos-socorros do SUS?

Quem são os avós brasileiros, e estrangeiros também, senão pessoas esquecidas o ano todo, e lembradas através dos “Faces” da vida, sem face, sem afeto, sem sentimento?

Quem são os avós brasileiros, senão seres humanos abandonados e esquecidos?

Quem são os avós brasileiros, senão homens e mulheres que já não podem ir à praia, ao campo, ao churrasco, porque não conseguem mais se movimentar direito, com desenvoltura?

Quantas vezes você, que me lê agora, levou seus filhos para uma visita aos avós, mas para uma visita mesmo, sem celular, sem pressa, sem condições…Com “ouvidos para ouvir” não “bocas para falar”?

Quantas vezes, você que foi levado a tantos lugares, perguntou a seus pais e seus avós para onde eles gostariam de ir, onde gostariam de passear, quem gostariam de visitar, isso mesmo, visita

Quantas vezes você telefonou para seus pais, e avós de seus filhos e filhas, este ano, para perguntar se precisam de algo, se estão bem de saúde, ou…Somente para ouvir a voz deles e para que eles pudessem ouvir sua voz?

Quantas vezes disse a eles de seu amor, de sua vontade de estar junto, de sua vontade de abraçá-los?

Quantas vezes perguntou se gostariam de visitar uma livraria, tomarem uma cerveja na esquina, sentarem-se no banco da praça para ver a banda tocar, sim, para, simplesmente, ver a banda tocar?

Quantas vezes agradeceu por sua formação e, por extensão, pela formação de seus filhos e filhas?

Quantas vezes compreendeu as dificuldades por que passaram, e as vicissitudes que enfrentaram, para trazê-los até aqui?

Quanta santa hipocrisia!

Fácil dizer-se cristão, difícil reconhecer-se pecador, aceitar-se pecador, compreendendo, assim, ao outro, e amando ao outro.

Difícil exercer a verdadeira bondade, a verdadeira solidariedade, a verdadeira generosidade para com todos que nos precederam.

Todos tiveram alguma atuação na construção do que somos hoje. Todos participaram, mesmo que seja só com um tijolinho, da construção dos Seres Humanos que dizemos ser.

Fácil sermos hipócritas, difícil sermos gratos!

Não deixe o tempo passar, faça agora, mude agora, sinta agora, fale agora, abrace agora.

Quer viver seus pais, avós e bisavós, viva-os o agora, não deixe para depois. Depois é muito longe…