Espaço Acadil: O Tristão escritor
Já sugeriu-se que a ACADIL fosse uma instituição de artes, além das letras, por puro desconhecimento de que o patrono da Cadeira 30 foi um escritor muito atuante além de músico e compositor. Era um moralista, adepto de ideário conservadoríssimo, iniciado em Itu pelos padres da Companhia de Jesus, do Colégio São Luís, onde ele lecionou. Escreveu crônicas no Jornal de Piracicaba, cidade onde viveu por cinco anos, sobre axiomas sociais, tratou de valores religiosos, buscou uma filosofia afeita ao que as elites de seu tempo apoiavam e aplaudiam: o Cristianismo, a República nascente e a vida burguesa.
É verdade que havia passado da liberdade das ideias iluministas, tão queridas aos membros do Clube Republicano de Itu, do qual ele fez parte como fundador, para o outro lado de um embate aguerrido e desafiador, que tornou Itu um verdadeiro campo de batalha, cujos espaços de reunião eram a Igreja do Bom Jesus e o diretório do Partido Republicano Paulista local. Os instrumentos de luta eram os jornais República, dirigido por Afonso Borges e A Federação, fundado por um grupo de intelectuais católicos, dentre os quais Tristão Mariano da Costa era um entusiasta.
Da sua pena, os escritos que mais me interessam são justamente os que vieram à luz nesse último jornal citado, ainda atuante em Itu. Ali Tristão escreveu sobre memória e história, registrou elementos da música e das tradições ituanas que nos servem para entender tantos fenômenos da cultura local. Foi o primeiro biógrafo de Almeida Júnior, do Padre Miguel Correia Pacheco e do Padre Bento, quando todos eles eram vivos. Deixou também um registro importante sobre a obra musical de Jesuíno do Monte Carmelo, tentando situá-la no tempo e no estilo composicional em que atuou.
Tristão Mariano da Costa nasceu em Itu a 6 de junho de 1846, último dos 13 filhos do cirurgião Francisco Mariano da Costa e Maria Tereza do Monte Carmelo. Estudou música com seu cunhado Elias Álvares Lobo e com seus irmãos Joaquim e Francisco Mariano da Costa; quando jovem, manteve a banda Euterpe Ytuana; depois veio a Orquestra Tristão Mariano. Foi Mestre de Capela da Paróquia de Itu a partir de 1871, dirigindo uma escola de formação musical para a liturgia. No ano seguinte, uma das alunas tornou-se sua esposa, Maria Augusta da Silva Prado, com quem teve sete filhos, dentre eles o seresteiro Tristão Júnior e a pianista Maria Augusta da Costa Bauer, que viria a ser a mãe do Prof. Tristão Bauer, patrono da Cadeira 16 na ACADIL.
Em 1886, Tristão abriu um externato para formação de primeiras letras. Já era professor auxiliar de música no Colégio São Luís. Faleceu a 6 de abril de 1908, deixando a liderança da música ituana ao filho homônimo.
Os escritos de Tristão Mariano revelam um homem de caráter forte, preso a ideais de espiritualidade que, para falar a verdade, ele expressa muito melhor na sua melodiosa e sedutora composição musical.
Luís Roberto de Francisco
Cadeira Nº 30 I Patrono Tristão Mariano da Costa