Espaço Acadil: São Jorge e o dragão

Guilherme Del Campo
Cadeira Nº 11 | Patrono Mario de Andrade

Noite dessas observando a Lua Cheia que despertava no horizonte, espargindo sobre a Terra uma cor alaranjada maravilhosa, fiquei pensativo sobre as lendas que envolvem o nosso satélite que se mostrou enorme, uma Lua de Sangue. Tentei vislumbrar a olho nu a imagem de São Jorge, sobre seu cavalo branco atacando o terrível dragão com sua lança. Nada das sombras lunares remetiam-me a aquela visão mitológica.

A seguir examinei uma relíquia trazida de presente da Capadócia por uma amiga, onde São Jorge montado em seu cavalo branco trazia, na garupa uma jovem, fato incomum, uma referência à princesa de quatorze anos salva por ele.

Constatei que a lenda nos conta que São Jorge, nascido na Capadócia hoje localizada na Turquia em 275 dc, era um corajoso cavaleiro e soldado romano no exército do imperador Diocleciano e faleceu em Lida, Israel em 23 de abril de 303, onde se encontra sua sepultura e relicário.  É venerado pela Igreja Católica, Ortodoxa, Anglicana e através do sincretismo das religiões afro-brasileiras, como Ogum na Umbanda.

Jorge ascendeu na sua carreira, foi tribuno e conde encarregado como guarda pessoal do Imperador Diocleciano. Ao longo da sua vida doou todos os seus bens aos pobres.

A lenda nos conta que naquela época, na cidade de Sylén cidade da Líbia, um terrível dragão saía das profundezas de um lago ou caverna e se atirava sobre os muros da cidade, trazendo a morte com seu mortífero hálito. A população na tentativa de acalmá-lo ofereciam jovens vítimas através de um sorteio, a serem devoradas por ele. Um dia coube à Sabra filha do rei ser oferecida ao monstro. O monarca desesperado e sob lágrimas acompanhou-a as margens do lago, quando apareceu o corajoso cavaleiro.

Desembainhando sua lança São Jorge dominou o monstro e o levou sob correntes para a cidade para o pavor de todos e disse que havia vindo em nome do Cristo para vencer o dragão e que todos deveriam ser convertidos ao cristianismo e serem batizados.

Na época das cruzadas o sultão Saladino destruiu a igreja construída em honra a São Jorge que por ter renegado aos deuses do império e jurado lealdade ao Cristo, foi condenado a morte, tornando-se mártir sendo considerado padroeiro de muitas localidades: Gênova na Itália, Geórgia, Lituânia, Sérvia, Montenegro, Etiópia e na Inglaterra.

No Brasil é enorme sua devoção como padroeiro de várias cidades. Trazido pelas tradições portuguesas, São Jorge é padroeiro dos Escoteiros e da Cavalaria do Exército Brasileiro. A tradição brasileira nos diz que as manchas na Lua representam o famoso santo, seu cavalo e lança sempre prontos para defender aqueles que buscam sua ajuda.

É bom recordar essas histórias milenares que preenchem nosso imaginário, acalentam nossa alma e nos transportam milagrosamente para localidades desconhecidas, revelando santos heróis que nos trazem conforto eterno.