Especial Dia das Mães: histórias de coragem
Amor que não se mede
Ser mãe não é fácil. Ser mãe solo, assim como as cerca de 11 milhões pelo Brasil, é ainda mais difícil. É o caso da artesã Julia Mendes, 28 anos, mãe da Rafaella, de 14, e do Matteo Davi, de quatro anos. Além de todas as dificuldades inerentes da maternidade, Julia ainda lida com o diagnóstico de TEA (transtorno do espectro autista) do filho mais novo.
“Foi algo totalmente inesperado. Eu havia começado meu primeiro mês de faculdade, depois de esperar ‘o momento certo’ em que a minha primeira filha estivesse um pouco maior. O genitor optou por não assumir a paternidade, então não acompanhou”, explica a mãe. Julia conta que, quando teve sua primeira filha, pôde contar com o apoio dos pais. “Já com o caçula foi uma experiência difícil, porém, dessa vez pude me preparar”, conta a artesã
Julia explica que o diagnóstico de Matteo veio na pandemia, enquanto realizava as atividades pedagógicas da creche com o filho em casa. Nesse período, a artesã também começou a fazer brinquedos pedagógicos para vender. “Com isso eu precisei pesquisar a respeito de desenvolvimento infantil para criar conteúdo na internet, então percebi que meu próprio filho não estava desenvolvendo de acordo com a sua própria idade ou regrediu no pouco que desenvolvia”, explica Julia.
Os primeiros sinais, segundo ela, foram por volta de dois anos. Além de TEA, Matteo ainda tem TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade). A rotina da mãe solo, diante de tudo isso, é exaustiva. “Como mãe solo é difícil não ter com quem dividir desde as tarefas de casa, as idas à terapia, as noites mal dormidas quando o sono desregula”, conta Julia.
A artesã teve que pausar ou mudar os planos por conta da falta de apoio. Além da parte financeira, afinal é uma mãe cuidando de dois filhos, sendo um com mais demandas e trabalhando em casa, podendo contar apenas com a creche, e tentando conciliar tudo com a terapia”, relata Julia, que, assim como muitas mães de crianças com autismo, assume a carga de trabalho e cuidado sozinha.
“Na minha opinião isso ocorre porque desde o diagnóstico todos tentam entender o que é o autismo e muitas vezes de onde ele vem. Quando se descobre que é genético, muitos confundem com hereditariedade ou até procuram culpados. Sobrevivendo a isso, ainda há o cansaço da rotina e por fim algumas discordâncias na criação de um filho com autismo, culpa do capacitismo velado e a ignorância”, explica ela.
Mesmo com tantos entraves, Julia tem orgulho de ser mãe. “Ser mãe é se encarregar da vida de um ser humano, de criar com respeito, de dar asas e orientar o voo, tudo isso de uma forma imperfeita mas com muito amor”. Por fim, ela deixa uma mensagem para outras mães de crianças autistas.
“Resistam! Se cuidem! Não há filho saudável sem mãe bem cuidada! Não caiam na cilada de achar que Deus faz filhos especiais para mães especiais. Eu acredito que todos nós temos capacidade de cuidar ou auxiliar pessoas com autismo quando nos abrimos para compreender. E mesmo as mães solos de filhos típicos, você não precisa dar conta de tudo e nem ser perfeita! Seu filho tem a melhor mãe que poderia ter: a mãe possível”, finaliza.
Mãe do coração comemora data e incentiva adoção
Nem sempre ser mãe significa gerar a criança. Ser mãe, na verdade, vai muito além. As mães adotivas, as “Mães do Coração”, sabem muito bem o sentido disso. Paula Regina Santos Zagui, 42 anos, é um exemplo disso.
Ela faz parte do GAAAI – Grupo de Apoio aos Adotados e Adotantes de Itu, criado em 2014 e que trabalha exatamente para dar apoio e assistência aos filhos do coração. Mais que isso, a própria Paula Zagui é mãe adotiva e, mais ainda, está na fila de adoção buscando um(a) segundo(a) filho(a).
“Não tenho filho biológico, mas isso não muda: sou mãe e o José Matheus é meu filho e ponto! Quanto ao nosso trabalho no GAAAI é estar acolhendo as famílias que pretendem adotar ou já adotaram. O amor é o mesmo, o tratamento é o mesmo, mas a gente sabe que a espera do filho adotivo é um pouco mais complicada que um filho biológico. Por isso temos esse grupo de apoio”, diz.
Ela destaca o trabalho do GAAAI, que reúne-se mensalmente numa roda de conversa, com a participação de psicólogas, advogadas que entendem de adoção e pais que pretendem adotar, além de pessoas que vão apenas para contribuir, pois a adoção não gira em torno somente da família que adota, mas sim de toda a sociedade, pois infelizmente ainda há preconceitos sobre o assunto.
Desabafa Paula: “eu mesma não acreditava nisso, mas quando o José Matheus chegou a gente começou a perceber que existe um certo preconceito e até mesmo falta de conhecimento das pessoas”.
Paula, que é casada com José Domingos Rosa Zagui, 46 anos, deixa uma mensagem a quem esteja pensando em adoção: “primeiro que sigam os caminhos corretos, pois há muita adoção ilegal no país, por isso há o ‘pré-conceito’ de que a adoção nem sempre dá certo”.
Porém, todas as adoções que eu vi que foram feitas corretamente, [legalmente], não teve problema nenhum. Vale destacar a correção do ato, pois ‘dar o filho’ para alguém é ilegal. Precisa ocorrer dentro dos conformes, dentro da lei”.
Todas as adoções que passam pela legalidade, embora seja um processo demorado e burocrático, via de regra dão certo do começo ao fim, como é o caso de Paula. “Eu me inscrevi, fiz todos os procedimentos solicitados pela justiça, apresentei todos os documentos, fiquei na fila o tempo necessário até que o meu filho chegou a mim e foi tudo perfeito, maravilhoso e até hoje é”.
Neste sábado (13), véspera do Dia das Mães, Paula e José Domingos comemoram dois anos da chegada do pequeno José Matheus e não existe qualquer diferença no amor, no dia a dia. “O que mudou na nossa vida? Tudo, como muda na vida de todo casal que tem filho, alteram as rotinas, o cansaço vem grande, mas o amor transborda. Agora o grande aprendizado que tivemos é que para tudo é preciso tempo, inclusive para amar”, completa.
Finalmente, Paula Zagui diz que o sonho do casal era ter dois filhos e quando entraram na fila aceitavam dois irmãos, mas o José acabou vindo sozinho. Então agora eles estão novamente na fila de adoção, em busca de um irmão ou irmãzinha para o pequeno”.
Protegendo a sociedade e as filhas
Policial militar há 19 anos, Gislene Cunha, que é cabo e atua no 50º Batalhão de Polícia Militar do Interior em Itu, é mãe de Eloá, de 12 anos, e de Sarah, de 8 anos de idade. “Entrei na polícia em 2004. Eu era muito novinha, tinha 20 anos. Sempre foi o meu sonho, sempre gostei dessa área e não muito tempo depois eu me casei. Quando foi em 2010 a gente resolveu que queria ter um filho e eu engravidei. Foi uma alegria total, a nossa primeira filha, esperada, desejada, amada”.
Quatro anos depois, veio a segunda filha. “Creio que filho de militar é diferenciado. São crianças que já nascem nesse meio de quartel, viatura, armas. Elas cresceram ouvindo a gente falar sobre esses assuntos”, explica a Cabo PM Cunha, como é mais conhecida.
A policial comenta que, para suas filhas, a profissão escolhida é algo normal. “Quando chego fardada ou elas me olham manuseando o fardamento, os equipamentos que uso no trabalho, pra elas é algo normal”, conta ela, que se divorciou e casou novamente com outro PM.
A policial destaca o orgulho que as filhas sentem. “Quando os amiguinhos delas descobrem que sou policial, dá um certo frisson na criançada. Até ter um pai policial, digamos, é um pouco mais comum, mas uma mãe policial é algo que causa mais espanto nos amigos das minhas filhas. É interessante essa visibilidade que traz pra profissão e vejo como elas se sentem orgulhosas”, comemora.
A policial recorda que, quando entrou na corporação, outras mulheres também já eram mães. Ela aconselha: “Se você já é mãe e tem o sonho de ser policial militar, não desista. Dá sim pra ser, não é porque virou mãe que tudo acabou”, conta ela, que tinha o sonho se tornar médica veterinária e realizou. “Eu consegui me formar, foram cinco anos de faculdade, eu trabalhando como policial, mãe de duas meninas, consegui me formar.”
A policial, que segue com a carreira de policial militar, reforça que “a maternidade não é o fim de tudo. Sonhos não podem acabar. Minhas filhas sempre me ajudaram muito, sempre me acompanharam, algumas vezes as levei comigo para a faculdade. Ser mãe é um barato, é muito gostoso, são minhas parceiras, minhas companheiras, me acompanham em tudo, são minhas melhores amigas”.
Além da compreensão dos professores na época da faculdade, Gislene contou – e ainda conta – com uma importante rede de apoio. “Trabalho em Itu, porém moro no município de Sorocaba. Com a graça de Deus eu tenho o apoio da minha família. Tenho minhas irmãs, minha mãe, meu marido, a avó do meu ex-marido… São pessoas com quem posso contar. Sei que enquanto estou trabalhando, minhas filhas estão em boas mãos”.
A policial conclui reforçando seu conselho. “Não desista, mulher pode ser o que quiser. Basta estudar e correr atrás. Independente se já for mãe ou se pretende ser. Siga seu sonho. Filho não é empecilho, pelo contrário, muitas vezes até ajuda, se torna um amigo, um parceiro. Sou muito grata a vida que Deus me deu, às filhas que Deus me deu”, encerra.