Lá como cá
Plinio Bernardi Junior: ituano, brasileiro e inconformado
“Frequentemente aproveitamos o conforto de uma opinião sem o desconforto do pensamento” John F. Kennedy
As mídias sociais, assim como as padarias, filas de bancos e salas de espera de consultórios, apresentaram nos últimos dias um aquecimento nas discussões sobre qualidades e defeitos de políticos que saem e que entram no governo federal. Da mesma forma, em nossa cidade essas discussões tomam corpo, principalmente com a aproximação das eleições municipais. Políticos trocam de opinião como quem troca de sapatos, não se pode esperar coerência nessa classe, mas as pessoas precisam estar atentas para não serem levadas a conclusões fáceis, ou estaremos condenados a repetir os erros do passado.
Assisto com amargura e um toque de desprezo às discussões sobre as mudanças em Brasília. Faça o exercício de abstrair e colocar as palavras dos atuais governistas, da chamada direita, na boca dos anteriores, da esquerda. Depois faça o contrário. Faça o mesmo aqui, para o contexto de Itu, especificamente na câmara de vereadores. Coloque os discursos da atual oposição nas bocas dos “governistas” de hoje. Depois pegue as ideias dos defensores do prefeito e coloque nos discursos dos “oposicionistas” de plantão. O que você irá perceber, se as náuseas não impedirem seu raciocínio, é que políticos pensam como lhes convém, que a população é um detalhe, um entrave entre si e o poder, dinheiro, ou seja lá o que essa classe almeja. Os discursos de uma banda se encaixam perfeitamente no da outra, quando em posições opostas.
O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa era para a esquerda, à época do mensalão, um juiz comprometido com a direita. Agora, que expressou opinião contrária ao impeachment, passou a ser referência de qualidade e bom senso. Para os políticos da direita, de herói ele passou a alguém que não merece atenção. O ministério de Temer é composto por investigados, dizem os esquerdistas se esquecendo de que, dentre os investigados do novo ministério estão três ex-ministros do governo petista e que, no ministério recém dissolvido, seis estavam com foro privilegiado e eram também alvo do Juiz Moro. O próprio Sérgio Moro, que era o salvador da pátria para a direita e para aqueles que queriam a deposição da presidente Dilma, agora passa a ser uma ameaça e deverá perder importância e poder.
No cenário Utu-Guaçu a conversa é a mesma. As incompetências levantadas por oposicionistas de outrora se transformaram magicamente em qualidades irretocáveis do prefeito. As virtudes antes vistas pelos olhos dos vira-casacas viraram pecados mortais. A saúde era péssima em Itu e agora está ótima? Ou era ótima e agora ficou péssima? A secretária era bandida e agora foi beatificada? Ou era a santa que, como lúcifer, desceu às profundezas? O radialista que elogiava, critica. O vereador que criticava, agora elogia. O puxa saco que perdeu a boquinha critica, o esquecido que arrumou um cabide elogia.
No Brasil, como em Itu, faltam pensamento crítico, inteligência e capacidade de análise. Se no cenário nacional os ânimos se acirraram e hoje ou você é golpista ou defende quem arruinou o país, em âmbito municipal ou você é ignorante ou inocente. Para o Brasil a receita é a temperança. Aqueles que perderam o poder e aqueles que estão nele têm interesses escusos e irreveláveis. Essa dicotomia entre amor e ódio, situação e oposição, direita e esquerda não vai nos tirar do buraco em que estamos. A discussão de ideias e as soluções intermediárias são o melhor caminho para prosseguirmos.
Em nossa cidade, para quem é interessante a confusão de opiniões e de ideias? Quem ganha com a bagunça e com os ataques pessoais é quem precisa do poder a qualquer custo. Nossa cidade não suporta mais a falta de discussões verdadeiras e legítimas. Itu não pode passar mais uma década sem transparência e inteligência na política. Vamos simplesmente sucumbir se não discutirmos um projeto para a cidade. Infelizmente não acredito que a maioria dos políticos que ai está seja capaz de discutir verdadeiramente um futuro para Itu. Nosso papel de cidadãos implica em não aceitarmos uma campanha suja como a que começa a surgir. Também não devemos aceitar os argumentos baratos de candidatos a vereador mal formados e mal intencionados. Moções de congratulação, dentaduras, títulos, medalhas e uma vaga para um parente não podem mais conduzir seu voto. Pense nas futuras gerações de ituanos. Hoje nossa cidade e nosso país maltratam seus cidadãos. Que tal lutarmos por um país acolhedor e justo? Que tal pensarmos juntos em uma cidade mais humana e inteligente?