Lugar de mulher é onde ela quiser!

Rebordosas surgiu em 2018 e desde então vem impulsionando o crescimento da mulher na música ituana (Foto: Bruna Fiamenghi/Divulgação)

Embora ainda seja um cenário composto em sua maioria por homens, a música em Itu vem cada vez mais contando com a presença de mulheres, que com projetos de qualidade e de impacto, vem abafando com seu som, o machismo.

Nos últimos anos, nomes femininos despontaram em Itu e região, seja com projetos solos, sela duos ou grupos. Nesta semana, em que se comemorou o Dia Internacional da Mulher (8 de março), o Periscópio conversou com algumas musicistas da cidade de Itu, que falaram um pouco sobre seus projetos e analisaram o atual cenário da música ituana.

Vocalista e baixista da banda de rock Rebordosas, Débora Alcaraz, fala sobre como surgiu o projeto. “As Rebordosas surgiram em 2018 comigo e a Mariana Domingues (baterista), a partir da nossa vontade de aprender mais sobre música, de encontrar uma forma de nos expressarmos e nos inserirmos no cenário musical”.

“Eu sempre gostei de tudo que envolve a arte, mas ainda não tinha encontrado uma forma de colocar isso no mundo. Percebi que a arte só alcança seu propósito quando atinge as pessoas, quando aquilo que desejamos manifestar se conecta com o íntimo de alguém. Essa sensação foi o motor que nos fez começar a nos apresentar e então compor as nossas próprias músicas”, relata Débora.

Com o passar do tempo, o projeto foi encorpando. “Em 2020 recebemos a Cintia como nossa baixista, que conheci no Levante das Minas daquele ano, e em seguida a Carol Milani, que veio somar nos vocais”, explica a guitarrista.

Débora relata como percebeu a importância do que estava ajudando a criar. “Ao perceber a reação das pessoas à nossa música e como a nossa formação, exclusivamente de mulheres, tocava outras mulheres à nossa volta, percebemos que de fato não se tratava apenas de música, mas de representatividade de uma parcela de pessoas que anseiam por conhecer e ter acesso a referências de artistas diferentes, que fogem do que a maioria do mainstream apresenta”.

“É um projeto que ultrapassa a nossa esfera individual e traz inúmeras reflexões sobre a dificuldade de acesso das mulheres à produção artística, seja pela dupla jornada, seja pela exibição que muitas vezes é indesejada pelos seus parceiros, seja porque ao observar o que está na mídia, especialmente no Rock, as mulheres são minoria. Isso faz com que, conscientemente ou não, as mulheres concluam que esse não é um espaço para elas”, complementa.

“É importante que as pessoas, os espaços e as empresas tomem posturas ativas no sentido de buscar artistas mulheres, seja para ouvir, ver, assistir, seja para contratar os seus serviços. O Dia Internacional da Mulher sempre traz essa reflexão, mas essa postura deve ser ratificada todos os dias”, destaca.

Baterista da Rebordosas, Mariana Rizzo Domingues começou na bateria aos 13 anos de idade. Antes disso, ainda na infância, iniciada no mundo musical. À reportagem, ela fala sobre a banda. “Começamos a ensaiar e juntas iniciamos as composições e tiramos alguns covers mais na linha punk rock de algumas bandas que gostávamos e assim foi fluindo, em dupla mesmo. Hoje somos um quarteto, e seguimos na busca por mais visibilidade na cena da região pra que as mulheres tenham espaço, tanto quanto os homens”, explana.

Sobre o atual cenário musical de itu, a baterista acredita que “ainda é um ambiente predominantemente masculino, porém, temos visto muito mais mulheres na música, nos shows e nos palcos e isso tem nos deixado muito felizes e orgulhosas”.

“Acredito que a importância da banda em si é permitir que nos expressem os enquanto mulheres e artistas mesmo. A gente consegue se posicionar e defender algo que a gente gosta e acredita através das nossas letras e nos divertir, porque também enxergamos a música dessa forma”, complementa Mariana.

Baixista da Rebordosas, Cintia Vieira, que “nasceu no berço da música”, influenciada por seus pais que “sempre ouviram de tudo”, comenta sobre a cena. “Realmente os ‘rolês’ são bem masculinos. um longo caminho pela frente, mas também, já caminhamos um longo percurso. Tivemos mulheres que fizeram história na música, o que nos ajudou a chegar até aqui. Têm muitos caras que nos apoiam também”, destaca.

Ana Carolina Arruda Milani, mais conhecida como Carol Milani, vocalista da Rebordosas estaca que “o papel da mulher no cenário musical está aumentando. As mulheres hoje estão mais ativas nesse cenário, porém ainda acho que existe um pouco de resistência, não na parte dos homens em geral, mas a parte do cenário mesmo”.

Carol explana. “A gente está acostumada a sempre ter homens por aí, é homem que toca violão, é homem que canta, é homem que tem banda, querendo ou não culturalmente os homens sempre tiveram mais tempo do que a gente. A gente sempre se dedicou mais a outras atividades do que as musicais, culturais e artísticas.”

A vocalista prossegue. “Eu sempre gostei de cantar, mas eu nunca coloquei isso como prioridade na vida e tem mulheres que colocam isso como prioridade, mas não tem muita oportunidade. Inclusive o Levante das Minas que a gente fez foi pautado nisso. Vida de músico não é fácil, é ensaio, show, não tem hora pra chegar. Pra mulher é sempre mais difícil, pois ela é uma irmã, uma filha, uma mãe, uma esposa, são muitas atividades”.

Carol, que é esposa e mãe, destaca o apoio recebido em casa. “Meu marido sempre me incentivou, me dá um apoio surreal. Me considero privilegiada”, conclui.

Outros projetos

Além da Rebordosas, um projeto formado 100% por mulheres, em Itu há também a Violett. Banda de Rock e Popo Rock formada por Camila Doná (vocais), Andressa Mouxi (guitarra), Ana Júlia (contrabaixo) e Evelyn Teixeira (bateria). O projeto também possui um formato acústico, com Camila e Andressa na formação.

Andressa, Camila, Evelyn e Ana Júlia, formam a banda Violett, que vem se apresentando em bares e eventos. O projeto também possui um formato acústico (Foto: Divulgação)

Vocalista da banda, Camila Doná comente o atual cenário e fala sobre os desafios. “Hoje, o meio musical ainda é dominado por homens. As mulheres são frequentemente subestimadas, e querendo ou não ainda encontramos dificuldades pra ingressar em alguns bares e eventos.”

O fato de sermos uma banda feminina, chama bastante atenção, muitos contratantes são muito legais com a gente e nos recebem muito bem, mas já teve um caso de um homem dizer  ‘Não dá muito certo vocalista mulher no bar, o público gosta de uma pegada mais forte’, desabafa Camila, que explica ainda que a pessoa em questão não havia assistindo o material do grupo.

“Esse foi um comentário que eu já esperava ouvir, por sermos uma formação feminina. Acredito que muitas pessoas pensam e não falam, esse não teve filtro ao falar. Além de contratante já ouvi comentários do público como: ‘Nossa, parabéns! Você canta muito bem, igual homem!” Ou ‘quando cheguei aqui e vi um monte de menina no palco, achei que ia ser uma porcaria, mas vocês são incríveis! Que show incrível’, prossegue a cantora.

“Então além do cenário machista que ainda vivemos, também existe preconceito em ver mulheres no palco tocando rock n’ roll. Isso ainda gera desconfiança sobre nossa capacidade. Mas nós mulheres temos lutando bravamente pra conquistar nosso espaço, seja no meio musical ou onde mais a gente quiser”, destaca Camila.

A cantora comenta também sobre o carinho que vem recebendo. “Apesar de presenciarmos essas cenas de preconceito, nós também recebemos muito carinho das pessoas que nos assistem. Não imaginávamos que a Violett fosse crescer tanto e tão rápido. Somos muito gratas por termos conquistado o carinho do nosso público e pelas amizades que fizemos durante essa trajetória”, encerra.

Para conhecer um pouco mais sobre o trabalho das bandas Rebordosas e Violett: @rebordosas.banda e @bandaviolett (Instagram).