O FUTEBOL NÃO É SÓ UM JOGO!

 

Ivan Valini

 

Impossível não lamentar o acidente ocorrido na Colômbia com a delegação da Chapecoense, uma das maiores tragédias do esporte mundial. Todos devemos pensar nas famílias que perderam filhos, maridos, pais e outras pessoas que amam de forma tão inesperada. Um grupo que viajava para iniciar a luta por um sonho que, há seis ou sete anos, parecia impossível para uma cidade de 210 mil habitantes no interior do sul do país. Queriam fazer história, mas se tornaram lendas de forma trágica.

A terça-feira foi dura, angustiante, emocionada. Acompanhar cada notícia do acidente não foi fácil. No decorrer do dia – além de acompanhar casos de extrema falta de sensibilidade por parte de alguns veículos de informação – começavam as homenagens dos outros times, as declarações de quem conviveu com todos que nos deixaram, a programação na TV, os portais de notícias, os grupos no WhatsApp, enfim: uma avalanche de informações diante de um fato absolutamente inexplicável.

Apesar do momento de indignação e incredulidade que possa ocorrer no país (ou alguém não percebeu que na terça-feira, o Jornal Nacional da TV Globo ‘dedicou’ todo seu tempo para fazer sensacionalismo em cima do desastre e sequer noticiou o que os deputados planejavam para a madrugada?), é importante que todos tenham prudência sobre os fatos. E pra mim, a situação mais grave foi a questão envolvendo o goleiro Danilo. Primeiro, a notícia do seu resgate com vida; depois a notícia da morte; alguns minutos depois, uma nota da Cruz Vermelha em que ‘desmentia a morte de Danilo’; por fim, a confirmação do falecimento do goleiro. Muitos órgãos de imprensa não entenderam que o momento é de dor, lamentação, e não de evasivas tentativas de buscar uma explicação. Respeitar o lado humano é muito mais importante do que mostrar o sofrimento das pessoas. E infelizmente a grande mídia não levou isso em consideração, salvo raríssimas exceções.

Até porque, tragédias não escolhem lugar nem data para acontecer. E quando um desastre como esse se dá tão perto, e tirando a vida de pessoas que nós acostumamos a ver quase que diariamente nos meios de comunicação, o impacto é maior.

Aqui em Itu tivemos o caso do ex-jogador do Ituano, Dener, campeão paulista em 2014. O atleta, uma das vítimas fatais, estava com casamento marcado para esta quinta-feira. Uma situação que abalou não só torcedores como também alguns ex-companheiros de clube.

É óbvio que o acidente traz perdas enormes em termos esportivos e financeiros para a Chapecoense, justamente no principal momento de sua história. No entanto, elas ficam pequenas quando comparadas às perdas dos seres humanos. E que fique claro: o momento não é de se pensar no esporte, mas nas pessoas.

E aí entra um fato interessante. É na tragédia que temos a oportunidade de revelar sentimentos escondidos no cotidiano e que esquecemos que existem. Depois do choque e da tristeza, vêm à tona a solidariedade, a comoção, a empatia, a amizade, o companheirismo e o amor – sentimentos que confortam.

Atualmente, vemos com frequência atitudes egoístas, incapacidade de união entre familiares, colegas de profissão e das pessoas em geral. É um tentando levar vantagem em cima do outro, infelizmente.

As demonstrações de solidariedade vêm com maior carga após grandes tragédias. Nesse momento aparece o lado social e comunitário.

Como não se comover com as milhares de mensagens emocionadas que se propagaram às famílias das vítimas, inclusive de pessoas que nem falam a mesma língua, mas sentiram e ainda sentem a mesma tristeza?

Para quem, assim como eu, é apaixonado pelo esporte, em especial pelo futebol, a imagem que ficará marcada para sempre é a homenagem prestada pela torcida colombiana, na noite de quarta-feira, no palco que seria disputada a final do campeonato.

Aquele momento deixou registrado que a humanidade, em seus momentos mais tristes, mostra que ainda é possível ser humano. E a tragédia que abalou o mundo do futebol ainda nos trará muitos ensinamentos.