O poder da escolha

Por Lucas Gandia

Chegou ao fim. Depois de seis anos e oito meses na presidência da República, Dilma Rousseff (PT) foi afastada de vez do Executivo nacional no último dia 31 de agosto. Não foi um processo simples – e os próximos dias tampouco serão fáceis. No meio do extremo salve-se quem puder, qual será o futuro do Brasil?

Visto como salvador da pátria por uns e golpista por outros, Michel Temer (PMDB) está longe de ser a solução para os problemas do país – assim como Dilma também não foi a única responsável pela situação atual em que nos encontramos. E se a economia não vai nada bem, a confiança do brasileiro vai de mal a pior. Descrente dos líderes que ocupam as cadeiras das três esferas de poder, a população não se vê representada pelas velhas figuras que estampam, raramente por bons motivos, o noticiário político. E aí partimos para um cenário crítico: ou nos engajamos ou desistimos de vez.

Por razões históricas que não cabem em um único texto, nossa nação raramente se interessou pelos (des)mandos das lideranças. A forma superficial como analisamos a política, no entanto, não é culpa única da população. Nesse cenário de tantos tropeços, os meios de comunicação – conhecidos como o “quarto poder” – sempre contribuíram para a confusa condução de um povo que ainda está aprendendo a andar.

Às vésperas das eleições municipais, devemos adotar uma postura ainda mais crítica diante do bombardeamento de informações a que somos submetidos durante as campanhas. De um lado, especulações, intrigas, declarações “polêmicas” fora de contexto e arquivos de um passado supostamente comprometedor. Do outro, abraços a crianças e idosos carentes, o clássico pastel com café no bar tradicional da cidade, promessas intermináveis e princípios cristãos elevados à máxima potência. De que forma esse paradoxo previsível contribui para o debate político? E mais: como a imprensa pode colaborar com o enriquecimento – ou o empobrecimento – dessa discussão?

Ao invés de nos depararmos com questões realmente relevantes em uma cobertura política ao longo do processo eleitoral, como a administração das ações públicas e os resultados das atuações, encontramos cada vez mais supostos embates existentes na dinâmica do poder dentro dos partidos e nas demais esferas políticas. Longe de se pautar pelo que realmente deve ser noticiado em uma democracia madura, o jornalismo tem dado espaço a matérias embasadas no que os políticos estariam supostamente escondendo da sociedade.

Essa visão apenas contribui para a imagem do jornalista superman, enquanto profissional perspicaz e sempre disposto a revelar a verdade existente nos governos. Mera tolice diante do compromisso social que esse profissional deveria ter assumido ao longo de sua formação universitária e atuação nas redações. A verdade, infelizmente, está muito longe do plano ideal.

Peço licença para levantar o debate sobre o papel de atuação da mídia durante as campanhas eleitorais, pois não podemos assistir de forma fria ao afastamento cada vez maior da sociedade perante aos assuntos políticos e às decisões dos governos. O verdadeiro sentido das negociações democráticas se perde, as oportunidades de desenvolvimento são minimizadas e o descrédito nos mandatários passa a ser generalizado.

Na era das redes sociais e da velocidade da informação, tudo vira pretexto para difamar os candidatos e estratégia para repercutir pontos de vista extremos sobre suas condutas. Cabe ao (e)leitor observar com atenção o que preenche as páginas dos jornais e as telas da televisão e dos computadores. À sociedade, fica a missão de colher visões contrastantes a respeito dos candidatos e colocá-las uma diante da outra para estabelecer uma avaliação ponderada.

Muito embora tenhamos construído uma imagem negativa de nossos representantes políticos, são eles quem tomam as decisões que afetam a vida de toda a população. Participar do debate eleitoral com engajamento – e um pouco de otimismo – não faz mal a ninguém.