O ser humano perante a desigualdade social e o individualismo
Por Padre Roberto M. da Silva*
A desigualdade social é o fenômeno em que ocorre a diferenciação entre pessoas no contexto de uma mesma sociedade, colocando alguns indivíduos em condições estruturalmente mais vantajosas do que outros. Ela manifesta-se em todos os aspectos: cultura, cotidiano, política, espaço geográfico e muitos outros, mas é no plano econômico a sua face mais conhecida, em que boa parte da população não dispõe de renda suficiente para gozar de mínimas condições de vida.
Inúmeros dados e estudos apontam que a desigualdade social e econômica cresce em todo o mundo. Dados do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) revelam que 1% dos mais ricos detêm 40% dos bens globais. Um relatório da ONG Oxfam demonstra também que as 85 pessoas mais ricas do mundo possuem uma renda equivalente às 3,5 bilhões de pessoas mais pobres.
Diante desse panorama, que gera inúmeros excluídos e miseráveis em todo o mundo, surge a questão: o que causa a desigualdade social? A grande questão é que, desde as construções das civilizações durante o período neolítico, quando as sociedades passaram a viver dos excedentes que produziam, as diferenças sociais começaram a surgir. O problema, nesse caso, é a intensificação da pobreza e da falta de equidade nas condições oferecidas para que os diferentes indivíduos possam produzir suas próprias condições de sobrevivência.
A desigualdade social, seja ela intelectual, econômica ou sob qualquer outra forma, materializa-se no espaço social, ou seja, torna-se visível na composição estrutural das sociedades, sejam elas rurais ou urbanas. As cidades e os lugares expressam a diferenciação econômica entre as pessoas, que é resultante, muitas vezes, de questões históricas que submetem cidadãos e até grupos étnicos a contextos de subalternidade. Um exemplo foi o processo de escravidão, que até hoje deixa suas marcas, mantendo a maior parte da população negra com baixos níveis de renda e educação.
O individualismo assume, por sua vez, um papel de fundamental importância no desenvolvimento da cultura ocidental. A questão do valor econômico, decisivo no sistema capitalista, nos remete às mudanças que o indivíduo sofre nos grupos sociais, nos quais o objeto de poder é “quanto eu ganho”. O valor do dinheiro na sociedade é apresentado por relações de autonomia e independência pessoal. O dinheiro protagoniza-se como mediador das relações. Ou seja, ele seria um meio de relacionamento universal, dando ao homem a mesma liberdade e personalidade em todos os lugares do mundo. O dinheiro abriu, para o homem singular, a chance à satisfação plena dos seus desejos, numa distância muito mais próxima e mais cheia de tentações. Existe a possibilidade de ganhar, quase que de uma vez só, tudo que é desejável.
Até onde vai a soberba e o orgulho humano? Quanto sofrimento humano poderia ser evitado se as nações não competissem com as suas frotas de “cair bombas”, aviões e foguetes. Essa competição está cheia de promessas para brilhantes vitórias, mas não deixa espaço para o destino amargo dos vencidos, que gera nada além de vingança e novas guerras.
É evidente que, além da necessidade de novas tecnologias, há uma grande necessidade contínua de novos conhecimentos básicos em ciências, se quisermos melhorar as condições de vida humana ao nosso redor. Precisamos de mais conhecimento na física e na química, na biologia e fisiologia, e, muito particularmente, na medicina para lidar com todos esses problemas que ameaçam a vida do homem: fome, doenças, contaminação de alimentos e água, e a poluição do meio ambiente.
Que nossas ações nos levem ao conhecimento do outro, a um compadecer-se das suas necessidades, para que o crescimento seja, não somente pessoal, mas social. Uma sociedade em que possa crescer e se desenvolver apoiada em valores humanos, no respeito e na dignidade humana.
* É Pós-doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.