PERISCÓPIO ENTREVISTA: Mônica Seixas fala sobre a eleição da “Bancada Ativista” para a Assembleia
Encerrando a série de entrevistas com os deputados que representarão a cidade de Itu a partir do início de 2019 no Legislativo Estadual e Federal, a reportagem conversou com a 10ª mais votada entre os candidatos à Assembleia Legislativa de São Paulo (149.844 votos), Mônica Seixas (PSOL/Banda Ativista), que representará outras oito pessoas (Anne Rammi, Chirley Pankará, Erika Hilton, Paula Aparecida, Jesus dos Santos, Fernando Ferrari, Claudia Visoni e Raquel Marques), que em comum acordo discutirão propostas para a coletividade. Ao Periscópio, Mônica falou sobre sua campanha, missão na Assembleia e o que espera do País para os próximos quatro anos.
JP – Como você recebeu o resultado?
R: A gente já estruturou essa campanha na esperança de se eleger. Já estava no nosso mapa. A gente pensou, se estruturou para chegar, teve bastante aderência popular, bastante voluntário e que se pulverizou pelo Estado todo. Tanto que a gente só não pontuou em 27 cidades. É um Estado muito grande e a gente pontuou em centenas de cidades. A gente estava muito seguro de que era possível. A gente só ficou surpreso com o tamanho que foi esse resultado.
JP – Qual será a sua principal bandeira a ser defendida na Assembleia?
R: Nós somos nove ativistas de pautas diferentes, que vamos dividir o mandato. Sou codeputada, não sou deputada sozinha, é o coletivo. Muito de nossas frentes de ativismo é de proteção animal, educação, negritude, feminismo, direito da primeira infância, são muitas pautas. Só que a gente entendeu durante a campanha que de maneira central nós somos candidatos pelos direitos humanos e pelo combate da desigualdade. Por isso, falamos tanto na redistribuição do orçamento, para combater as desigualdades. A gente precisa muito defender os direitos humanos.
JP – Como foi a campanha em Itu?
R: Foi uma campanha pequena como foi em todo o Estado. A gente teve mais de 360 voluntários, um ou dois por cidade, em Itu nós tivemos cinco voluntários de rua, de panfletagem, pouco material também, por conta de nossa responsabilidade para com o meio ambiente. Além disso, foi uma campanha de diálogo. Pelo menos uma vez por semana estive aqui, em minha cidade natal, à disposição das pessoas, fazendo política de jeito diferente.
JP – A sua eleição foi a primeira de uma chapa coletiva na história do Estado de São Paulo. Acredita que candidaturas como a sua serão mais frequentes?
R: Acho que sim, pois muita gente está nos escrevendo querendo participar dessa experiência e aplicá-la em suas localidades. Não somente porque ela amplia muito a capacidade de trabalho durante a campanha de quem não tem grana, porque de largada saímos com nove trabalhadores nessa campanha. Além disso, é uma crítica ao sistema e aos partidos políticos. A Bancada Ativista ela não é só do PSOL e não pessoalizou em meu nome. As ideias serão acordadas com um conjunto de pessoas. Isso é o que a política representativa deveria ser.
JP – Em tempos de polarização e discurso de ódio, principalmente por meio das redes sociais, como foi realizar a campanha neste cenário?
R: A discordância política é saudável e nunca deve deixar de existir. O fato de a gente discordar é que empurra o debate político para a coletividade. Mas o que está acontecendo é grave. Durante a campanha a maioria das pessoas nos recebeu bem, esperançosa, até querendo que outras coisas nasçam para enterrar o velho, mas teve uma minoria raivosa que dificultou um pouco. A gente teve que redobrar os cuidados de segurança, não foi nenhuma nem duas vezes que eu tive que tirar apoiador, voluntário da rua para que ele não fosse agredido, eu muitas vezes estive em situação de agressão física, fui empurrada, fui puxada, minha banquinha foi jogada no chão, meu material, aconteceu em diversos episódios e isso mostra que as pessoas não estão com noção do que elas estão fazendo.
JP – Nomes decanos da política não conseguiram se reeleger ou avançar para o 2º turno. Como você analisa esse cenário?
R: É a expressão da nossa crise institucional. Eu acho que muito acertadamente o sentimento de todo mundo está de que os velhos não são capazes de nos apresentar boas fórmulas ou novas fórmulas que superem esse triângulo amoroso da política brasileira, que é a ineficiência dos parlamentares, falta de punição e política feita na primeira pessoa. A maioria dos eleitos que tivemos até agora legisla em causa própria. Enquanto isso, todos nós ficamos aqui em baixo, reféns da ausência da política pública.
JP – O que você pensa a respeito do voto útil?
R: É triste, mas é uma realidade. Eu ainda não consegui entender como em 2018 a gente chegou a esse segundo turno (presidenciável), com as duas piores opções e uma sendo intolerável no meu ponto de vista, porque quem defende o autoritarismo, a tortura, mais do que isso quem defende a agressão dos direitos democráticos. Esse 2º turno é inexplicável, como é que diante de dezenas de candidatos a gente chegou nesse resultado? Mas política é a arte de se posicionar e a gente não pode assistir isso e ficar sem um posicionamento. Estou numa militância do PSOL que há muitos anos faz oposição ao PT, só que nesse momento a gente precisa se posicionar.
JP – Para o 2º turno, quem você apoiará para o Governo do Estado de São Paulo?
R: Meu voto será no Márcio França (PSB) contra o que significa a violência do (João) Doria (PSBD). Fui assessora parlamentar da Sâmia (Bonfim, vereadora de São Paulo e eleita deputada federal pelo PSOL) e fui eu quem descobri o escândalo da farinata e não era uma atividade para beneficiar pessoas que estavam em situação de vulnerabilidade, mas era trocar comida de verdade da merenda escolar por restos de empresas que produziam em excesso e tinham gastos para descartar o seu lixo. Eu ajudei a desmontar esse esquema.
JP – E para a Presidência da República?
R: Contra um candidato à Presidência da República que promete acabar com todos os ativismos, o que é desde você arrecadar um agasalho para a campanha da sua igreja até a lei da ficha limpa, que veio das ruas, do movimento social, que diz que vai fechar o Ministério da Cultura, que vai tirar todos os indígenas de seus territórios, que vai flexibilizar as multas para quem desmata e permitir a extração mineral da Amazônia, contra um candidato que quer me matar e matar muitas pessoas que estão em condições de vulnerabilidade, sem gosto nenhum, eu vou votar no (Fernando) Haddad (PT).
JP – Independente dos resultados do dia 28 de outubro, o que você espera do País para os próximos quatro anos?
R: É difícil a gente ter o futuro nas mãos. A gente faz parte de uma movimentação mundial e mundialmente as pessoas estão em uma crise cultural, em uma crise econômica e as correlações de política estão se alterando. Eu acho que a gente pode viver muita coisa. As pessoas não devem sair das ruas, todas essas ebulições que vimos nos últimos tempos não deve acabar, a direita, a esquerda, o feminismo, a negritude, os reacionários pedindo a volta da ditadura militar, nada disso deve sair da rua e deve continuar se chocando durante o período. A crise institucional não deve mudar e a crise econômica não deve evaporar, pois ela é mundial. E esse clima bélico de polarização que a gente atingiu vai levar um tempão para gente recuperar. Sei que tenho a responsabilidade, como parlamentar, de devolver a empatia para um debate mais solidário, mas racional, sobre ideias, sobre liberdade, sem temer pela própria vida.
“As ideias serão acordadas com um conjunto de pessoas. Isso é o que a política representativa deveria ser”
(Daniel Nápoli)
Foto – Daniel Nápoli
A codeputada eleita durante visita ao Jornal Periscópio