Porque escrever
Fernando Pessoa escrevia, lia o que escrevera e se assombrava. Por que escrevi isto? Onde fui buscar isto? Coloco de volta na gaveta ou jogo fora?
Coisa parecida acontece comigo e acredito com as pessoas que escrevem. E por que não?
Um alerta aos escritores, cuidado com o que escreve. Nesta pós-modernidade tudo é proibido. Empresto alguns exemplos da colega escritora Ercília Ferraz, que com toda sua irreverência me acode nestas frases que nos bombardeiam com efeitos do “politicamente correto”.
Histórias estas que com toda ingenuidade nos acompanharam pela infância toda e nos extasiávamos diante delas.
Hoje, até nisso veem uma dupla interpretação:
– A bruxa não pode dar a maçã envenenada à Branca de Neve: incentivo ao crime.
– E, a Cinderela, não pode ser maltratada pela madrasta nem pelas irmãs: preconceito.
– Não se pode mais cantar que o “cravo brigou com a rosa debaixo de uma sacada”: porque isso é uma agressão.
– Imaginem vocês, a gente foi criada cantando “atirei o pau no gato”: isso é violência contra os animais.
– “Samba lelê ficou doente, com a cabeça quebrada… samba lelê precisava é de uma boa palmada”. Isto é castigo, portanto proibido.
Certa vez um escritor enviou um texto infantil para um editor e ele sugeriu em mudar o termo “judiação”, pois estava ofendendo os judeus (?)
E, por aí vai… Escrever é uma arte. Ler também é uma arte!
Gosto tanto de ler que quando alguém não tem esse hábito sinto uma tristeza…
Talvez não lhes fossem apresentadas as melhores leituras. Todo mundo devia escrever e ler duas páginas por dia. Para isso nem é preciso saber escrever, contando sobre sua vida, suas alegrias, tristezas, decepções, felicidades.
Se pudesse aconselhar, eu diria, escreva; escreva, pois escrever faz bem e, se certos acontecimentos são difíceis de serem lembrados, mais difícil ainda é serem colocados no papel. Mas, isso é só no início; depois vai se tornar um hábito.
Acredite, isso aconteceu comigo. Libertei-me não das minhas lembranças, mas dos meus fantasmas e hoje me sinto uma nova pessoa que tem muito mais prazer em viver do que tinha antes de escrever.
A leitura nos transporta para novos horizontes. Ler é uma viagem!
Finalizo com o adágio lobatiano: “Uma nação se faz com homens e livros”.
Ditinha Schanoski
Cadeira nº 19 I Patrono Professor Benedito Motta Navarro