Quando engrena?

Por Lucas Gandia

Em tempos de noticiários dominados por escândalos, violência e conteúdos nada otimistas, torna-se cada vez mais difícil enxergar a luz no fim do túnel. Economia estagnada, índices de desemprego batendo recordes e dólar nas alturas. A dona de casa pode não ter a menor ideia da meta de inflação para este ano, mas tem convicção de que o feijão está muito mais salgado que o habitual.

Enquanto alguns se prendem em brigas partidárias, o trabalhador brasileiro quer saber o óbvio: afinal, quando as coisas vão melhorar? Alvo de uma tempestade de críticas – parte delas coerente –, a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) virou símbolo do caos brasileiro. Mas, convenhamos, quase nada mudou no cotidiano do país desde que Michel Temer (PMDB) assumiu a presidência da República.

Alguns podem falar que as coisas são muito recentes. Concordo. O presidente interino está no comando do Brasil há pouco mais de quarenta dias, período realmente curto para provocar mudanças drásticas em uma nação. Por outro lado, desde 12 de maio, data em que o Senado Federal aprovou a abertura do processo de impeachment e o afastamento por até 180 dias de Dilma da Presidência, Temer tem mostrado o quão controversa é (e será?) sua gestão.

Pouco mais de um mês foi suficiente para confirmar os erros na montagem da equipe de governo. Logo após tomar posse, Temer foi criticado por organizar um ministério sem mulheres. No lugar da diversidade do país e de técnicos, apareceram velhos caciques políticos – que definitivamente não representam o desejo de mudança da população. O que falar, então, do vai e vem do Ministério da Cultura?

Para piorar, três baixas já marcaram o núcleo duro da breve gestão interina. Primeiro, Romero Jucá (PMDB), que já estava enrolado na Lava Jato, teve que deixar o cargo de ministro do Planejamento após aparecer em um grampo no qual diz ser necessário mudar o governo para “estancar a sangria” da operação. Depois, foi a vez de Fabiano Silveira sair do Ministério da Fiscalização, Transparência e Controle por criticar a Lava Jato em trechos da delação premiada do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Mais recentemente, foi a vez de Henrique Eduardo Alves (PMDB) pedir demissão do cargo de ministro do Turismo, depois de também ter sido citado na delação de Machado.

A austeridade de Temer também foi colocada em xeque no início deste mês, após aprovação do reajuste salarial de servidores do Executivo, do Judiciário e do Legislativo, medida que deve tirar 52,9 bilhões de reais do caixa do Governo até 2018, um terço do cheque especial dos cofres públicos. Tudo isso acompanhado da criação de 14.419 cargos públicos federais, três vezes mais do que o presidente interino prometeu cortar em cargos comissionados.

Mas nem só de erros vive a recente gestão Temer. Na política, o novo governo já mostrou harmonia com o Congresso – algo positivo do ponto de vista “diplomático”, mesmo que nossos parlamentares não sejam exemplos de ética e moralidade. Com uma nova coalizão, houve a fácil aprovação da redução da meta fiscal e a prorrogação até 2023 da DRU, mecanismo que autoriza a União a gastar como quiser 30% da arrecadação. Ambas as medidas já haviam sido propostas no governo Dilma, mas não tiveram apoio na época da líder petista.

Com a melhoria no relacionamento entre Executivo e Congresso, o novo governo deixa uma impressão positiva no mercado. Entretanto, por ora, parece que nos contentamos com migalhas. Seguimos, ainda sem sucesso, buscando soluções para uma nação cabisbaixa, que caminha a passos muito lentos em direção à prometida prosperidade do futuro. Foi por isso que bateram panelas?

Bom mesmo será o dia em que as leis forem realmente justas e o país administrado por líderes honestos. Aí, quem sabe, caberá a nós apenas fiscalizar nossos desvios de conduta e punir nossas próprias corrupções diárias.