SAUDADES DA CASERNA

Após a revolução de 1964 e em pleno regime militar, fui convocado para servir o exército. No início de 1965 ingressei nas fileiras do glorioso: 2º/RO-105, Regimento Deodoro de Itu, instalado nas antigas dependências do Colégio São Luiz.

Lembro-me que no primeiro dia ficamos todos nus e em fila, para receber as vacinas, sob a observação dos médicos oficiais. Depois, separados em grupos, fizemos a faxina do regimento. Banheiros, alojamentos, corredores, salas de praça, rancho, etc…, sob o comando de cabos e sargentos. Ao final da tarde determinou-se que tomássemos banho. A nossa roupa civil desapareceu tendo sido levada a lavanderia para depois ser doada a instituições de caridade.

Em seguida o sargenteante entregou-nos as fardas de serviço, gandolas, calças, bonés (pala-moles) e coturnos. Daí começamos a permutar as peças pois, a maioria era de tamanho incompatível conosco e acabamos rindo. Já fardados, fomos levados para o rancho para o jantar. Arroz, feijão, alface, jabá com batatinhas, mate quente e banana.

O regime militar precisava preparar novas tropas, assim tínhamos instruções de manhã, à tarde e à noite. Vestido com o fardamento e confinado dentro dos altos muros do quartel eu me senti um presidiário.

O dia começava com o café preto e um pãozinho com manteiga. A seguir tínhamos a ordem unida, separados por baterias. Depois a educação física, o banho e o almoço. À tarde eram as aulas sobre vários assuntos como a estrutura militar, aprender hinos, desmontar, limpar, lubrificar e remontar as armas.

À noite assistíamos filmes orientando-nos como abrir trincheiras, casamatas, montar barracas, construir acampamentos, chuveiros, técnicas de sobrevivência na selva, camuflagem, desatolar e rebocar viaturas, subir em árvores com equipamento especial para o lançamento de linhas telefônicas e operar rádios de comunicação. Fui selecionado para motorista e tive aulas de direção nas viaturas da 2º Grande Guerra: JEEP, GMC e CHEVROLET, todas de câmbio seco e difíceis de engatar.

Depois de meses de treinamento, inclusive com exercícios de tiro real, fomos incorporados como soldados do Exército Brasileiro.

Participamos de vários acampamentos e manobras do 2º Exército. Num deles na região entre Itapetininga – Itapeva (SP), fui destacado para dirigir o jeep encarregado das vistorias sobre a segurança de tiro, junto com um sargento e um capitão.

Após inspeção dos locais onde seriam atingidos pelos morteiros e obuses, retornamos ao palanque oficial onde todo o Estado Maior das Forças Armadas estava reunido para assistir a manobra.

Estive perto do Presidente Castelo Branco e dos generais que se sucederam na Presidência da República, durante o período militar.

O espaço é pequeno para relatar todas as experiências e de tudo o que aprendi.

Todavia ficam as saudades da caserna e dos muitos amigos que lá conquistei.

Guilherme Del Campo

Cadeira nº 11 I Patrono Mario de Andrade