Saúde em Foco: Dias Perfeitos

“Dias Perfeitos” é o nome de um filme japonês, com direção do aclamado alemão Wim Wenders. Conta a história de um homem comum de meia idade, que higieniza os banheiros das estações, e diverte-se com coisas muito simples como o jogo da velha, que ele joga sozinho e parece desfrutar a cada lance, as refeições em lanchonetes, cujos donos se transformam em amigos, as fotografias das árvores que registra enquanto almoça, e a leitura, aparentemente sua maior paixão. Trata-se de um filme de muitas imagens e poucas palavras…

E o personagem central de “Dias Perfeitos”, guarda sempre um discreto mas indisfarçável sorriso no rosto, refletindo, naquela doce fisionomia, sua alma feliz.

Essa história singela, remete a um pensamento instantâneo: – A felicidade, que alguns de nossos dicionários descrevem como bem-estar, ou estado de consciência plenamente satisfeito, é uma condição intrínseca do ser humano. Ela vem de dentro e dispensa status ou propriedade. Essa felicidade que vem de dentro é algo a ser construído, com recursos imateriais, requer esforço e abdicação, e pode nos proporcionar um estado emocional estável. 

Vivemos um período de nossa história de extremo individualismo. Os valores mundanos passaram a ocupar lugar preponderante na vida das pessoas, e a impressão que se tem é de que, o que se tem, nunca é o bastante. Essa característica desfavorece fortemente a construção de uma sociedade estável, justa e empática.

Em seu livro “As Pequenas Virtudes”, a italiana Natalia Ginzburg, em relação à educação dos filhos realça que se devam ensinar as grandes virtudes; “não a poupança, mas a generosidade e a indiferença ao dinheiro, não a prudência, mas a coragem e o desdém pelo perigo, não a astúcia, mas a franqueza e o amor à verdade, não a diplomacia, mas o amor ao próximo e a abnegação, não o desejo de sucesso, mas o desejo de ser e de saber”. É certo que, adultos munidos dessas virtudes, levam boas chances de viver uma existência feliz.

Ótimas notícias, fazem com que as pessoas se sintam “muito felizes”. É assim que se diz, mas não é disso que se trata a felicidade. A felicidade, não é essa sensação eufórica que decorre de uma grande notícia! A felicidade não é um instantâneo, e sim um estado de satisfação contínuo. Estado esse, que pode também ser abalado, é claro. Afinal, recebemos muitas más notícias ao longo de nossas vidas. E aqui também estamos falando de situações pontuais, que vêm e que se diluem no decorrer do tempo.

Possuir o estado de equilíbrio e bem-estar a que nos referimos neste texto, é um desafio que demanda esforço. E que depende de muitos fatores; da forma como encaramos a vida, como olhamos para o nosso próximo, do meio em que vivemos, das pessoas que admiramos, dos estímulos que recebemos, entre outras infindáveis razões.

Esta rápida reflexão, teve como principal objetivo transmitir uma mensagem importante sobre nossa saúde; afinal, estamos vivendo cada vez mais, e para chegar lá adiante com o alento em alta é preciso ter bons argumentos. Afinal, o envelhecer traz para a maioria algumas desvantagens como a solidão, as preocupações financeiras e a baixa vitalidade. 

Se quisermos desfrutar a longevidade que nos espera, resta investir nas décadas anteriores em bons “fundos afetivos” e acumular um repertório que não se esgote nunca. Só assim mesmo, será possível alcançar o desejável estado de consciência plenamente satisfeito…

Bom fim de semana a todos.

*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.

Um comentário em “Saúde em Foco: Dias Perfeitos

  • 26/03/2024 em 11:22
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    Dr Enéas como sempre….na mosca!!!!

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