Saúde em Foco: O que é que eu vou fazer depois que me aposentar?

Essa é a pergunta que não quer calar para uma multidão crescente de cabecinhas brancas, que já cumpriu seus mais de trinta anos de jornada de trabalho e depois de tanto tempo, tem pensamentos diariamente mergulhados nessa questão insólita. Eu, pelo menos, tenho passado por isso…

Dá inveja quando vejo alguém da minha idade que já há muitos anos decidiu-se literalmente pela aposentadoria e ponto final!

Na prática, o dilema das pessoas que não têm essa coragem toda, pode ter muitas origens. Não há um aspecto único que defina com sabedoria o que fazer com todo o tempo livre que virá, se renunciarmos à rotina que preencheu nosso passado. E o curioso, é que sofremos por falta de tempo durante toda vida; para conseguir fazer uma ginástica era preciso acordar de madrugada!

O binômio energia e experiência, habilidades interdependentes e que se equilibram ao longo das décadas, tem uma elevada pontuação em determinado momento de nossa trajetória profissional. No entanto, manter-se em atividade durante um porvir mais prolongado, talvez só faça bem para nós mesmos, abstraindo a sociedade de um modo geral e o entorno mais próximo.

As características da personalidade contam muitos pontos nessa tomada de decisão. Muitas vezes nos achamos “meio insubstituíveis ou, completamente insubstituíveis” e com a firme convicção de que tudo que construímos irá se desfazer com o tempo perante nossa ausência.

As condições financeiras são bastante predominantes nessa tomada de decisão, haja vista a deterioração dos valores de auxílio previdenciário hoje vigentes em nosso país.

O estado físico, mental e a motivação intrínseca, são muitas vezes considerados não só pelo próprio indivíduo, mas também por seus familiares que passam a incentivar o merecido descanso.

Além dos motivos para não “largar o osso” ainda tem a perspectiva do dia seguinte; será que ler jornal e pegar os netos na escola irá preencher toda a agenda? Será que não cansa ficar vendo aquelas mesmas novelas de 1980 todas as tardes?

Há quem goste de ler ou executar trabalhos manuais. Outros se desempenham muito bem na cozinha. O conjunto de atividades pode até acabar sendo surpreendente, mas a incerteza que precede a decisão de parar é grande e muitas vezes responsável pelo adiamento.

Além do mais, nós não fazemos ideia de quanto tempo ainda nos resta… Pode ser que sejam mais trinta anos, mas também pode ser amanhã nossa partida. Se for amanhã, pode ter ficado muita coisa para trás que gostaríamos de ter feito e não fizemos porque o temor de parar falou mais alto, e aquela ideia de passar um tempo escrevendo memórias sucumbiu conosco… Se for daqui há trinta anos pode ser que fique enfadonha a sobrevida sem ter o que fazer.

Bom fim de semana a todos.


*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.