Saúde em Foco: O que é uma arritmia cardíaca?
Por Dr. Eneas Rocco*
O coração é um órgão bastante complexo. Os seus principais componentes são o miocárdio, cujas contrações geram o fluxo sanguíneo para todos os tecidos, as válvulas que regulam esse fluxo entre as quatro cavidades do coração, as artérias coronárias responsáveis pela boa irrigação da musculatura cardíaca, e o sistema específico de condução, que leva o estímulo elétrico para todas essas estruturas para que funcionem em harmonia.
Esse sistema de condução percorre todo coração, e sua integridade é fundamental para que a nossa frequência cardíaca esteja controlada, nossos batimentos cardíacos fiquem rítmicos e principalmente, que o coração, que está em constante movimento, não seja percebido por nós!!!
Em determinadas situações, no entanto, esse ritmo do coração deixa de ser uniforme, dando lugar às arritmias cardíacas, que podem se apresentar de variadas formas.
A fibrilação atrial é uma dessas arritmias. Diagnosticada cada vez mais frequentemente, em especial na população idosa, a fibrilação atrial consiste na perda da estimulação cardíaca organizada, que no coração normal é regida pelo nó sinusal e demais componentes do sistema de condução.
A fibrilação pode aparecer de forma súbita, ter duração variável de minutos a horas, e pode cessar espontaneamente ou necessitar de medicação para ser revertida.
Essa reversão da fibrilação atrial, ao ritmo normal do coração, pode ser obtida mediante o uso de medicamentos específicos, ou do uso do desfibrilador. Quando há necessidade de utilizar o desfibrilador, o paciente deve estar sob sedação e ser submetido à realização de um ecocardiograma, para certificar a ausência de trombos no interior do coração.
Quando as tentativas para eliminar essa arritmia não são bem-sucedidas, o paciente pode permanecer em fibrilação atrial, e nesses casos há uma série de providências a serem adotadas.
Em primeiro lugar, é necessário controlar a frequência cardíaca que não deve ser nem muito elevada e nem muito baixa. Esse controle pode ser realizado através de medicamentos e em casos selecionados pelo implante do marcapasso.
É essencial que, os portadores de fibrilação recebam anticoagulantes, pois, como os átrios não se contraem, acaba havendo uma estase sanguínea na câmara atrial e em consequência, maior possibilidade de formação de “coágulos” em seu interior. Quando se formam coágulos, estes podem se deslocar para fora do coração e causar por exemplo um acidente vascular cerebral ou fenômenos tromboembólicos em outras artérias, como as dos membros superiores e inferiores.
Além da fibrilação atrial, há outras arritmias cardíacas, que também podem causar sintomas e deformidades no coração dependendo da sua densidade.
Atualmente, dispomos de enorme arsenal terapêutico, podendo inclusive, conforme o caso, estar indicada uma ablação. Trata-se de um procedimento realizado através de cateter, que permite mapear todas as regiões suspeitas da origem das arritmias e a partir do diagnóstico, aplicar estímulos capazes de eliminar o foco da arritmia.
E como último esclarecimento; devemos dizer arritmias cardíacas e não disritmias como muitas pessoas pensam. Esse termo disritmias, é reservado aos distúrbios elétricos cerebrais. Tema para uma outra coluna. Bom fim de semana a todos.
*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.
Uma aula sobre o assunto