Saúde em Foco: Por que a medicina evoluiu tanto nos últimos anos?

Por Dr. Eneas Rocco*

A resposta mais óbvia para essa pergunta, todos nós temos: – “A medicina evoluiu muito, porque a tecnologia propiciou essa transformação!”

Essa afirmação é totalmente verdadeira, mas não responde sozinha pela melhoria de processos na área da saúde e pelo crescimento da expectativa de vida tão gigantesca em tão pouco tempo.

Em 1970, ano que ingressei na Faculdade de Medicina de Sorocaba, que era nessa época uma das melhores do Brasil, havia em nosso país uma população de pouco mais de noventa milhões de habitantes. Quem não lembra da música da seleção tricampeã do mundo que falava dos “noventa milhões em ação pra frente Brasil, salve a seleção?…”. Havia nessa mesma época, menos de três milhões de idosos.

Passados cinquenta e dois anos (censo de 2022) a população cresceu mais do que o dobro, contudo o número de cidadãos com idade superior a sessenta e cinco anos passou de vinte e dois milhões, ou seja, quase oito vezes maior.

Como disse anteriormente, a tecnologia não só para o desenvolvimento do diagnóstico, como também para a evolução de novas terapias, foi elemento fundamental. Contudo, tivemos outro coadjuvante muito importante da mudança que foi a profusão de estudos científicos.

Há algumas décadas, a decisão sobre o tratamento dos pacientes passava quase exclusivamente pela experiência do médico, que aliás nunca deixou de ser importante. Entretanto, os estudos científicos envolvendo numerosos grupos de pacientes com os mesmos diagnósticos e submetidos a diferentes intervenções, permitiram- com o auxílio da bioestatística- definir com mais assertividade as melhores práticas clínicas. Chamamos de Medicina Baseada em Evidências a esse conjunto de informações que contribui sobremaneira nas tomadas de decisão na clínica.

A contribuição da experiência médica para entender individualmente cada caso será sempre insubstituível. Entretanto, a aliança entre os recursos proporcionados pelo desenvolvimento tecnológico e o conhecimento multiplicado através da pesquisa científica, são sem dúvida os fatores responsáveis pela grande mudança na composição da demografia brasileira e mundial nas últimas décadas.

*Dr. Eneas Rocco (CREMESP 25643) é formado pela Faculdade de Medicina da PUC-SP – Campus Sorocaba, com especialização pelo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Hospital Matarazzo de São Paulo.