Teatro Nósmesmos comemora um ano de existência
“A Falecida” será atração durante todo o mês de agosto. Ao “Periscópio”, atores Juliano Mazurchi e Christian Hilário falaram sobre os desafios e planos para o futuro
Por André Roedel e Ivan Valini
Neste mês de agosto, o Teatro Nósmesmos completa um ano de existência. Nascido de um desejo dos integrantes da companhia homônima (que já tem 13 anos de história) em ter um espaço próprio para a realização de seus espetáculos e também para o fomento da arte em Itu, o local já recebeu dezenas de espetáculos e milhares de espectadores.
Em uma descontraída entrevista ao “Periscópio”, os atores Juliano Mazurchi e Christian Hilário falaram dos desafios enfrentados até o momento e os planos para o futuro – a começar pela estreia da peça de humor negro “A Falecida”, do dramaturgo Nelson Rodrigues, que celebra o primeiro ano do teatro. “O público pode esperar um produto cultural de qualidade, porque foi uma coisa bem trabalhada, com embasamento”, comenta Mazurchi.
A peça será apresentada todas as sextas-feiras, sábados e domingos de agosto, sempre às 20h. “A gente espera que as pessoas se surpreendam. O nome ‘A Falecida’ pode levar muita gente a crer que é uma peça trágica, de morte, mas isso está em segundo plano. A morte não é o tema da peça. A peça fala sobre a vingança, fala de temas que estão guardados dentro da gente, como a ganância, só que com um olhar do humor”, pondera.
A escolha da peça para celebrar o aniversário do teatro foi por acaso. “Uma coisa vai levando a outra. Até o ano passado a gente não sabia exatamente o que ia fazer este ano”, conta Mazurchi, explicando que, neste ano, eles tiveram um curso com Adriano Bedin, do tradicional Grupo TAPA, de São Paulo. O tema foi Nelson Rodrigues, o que despertou o interessa da companhia em produzir uma peça desse que é considerado um dos grandes nomes do teatro brasileiro.
“O último texto de Nelson Rodrigues que a gente leu no dia do curso bateu, deu certo, todo mundo gostou”, relembra Hilário, comentando sobre a “A Falecida”. Os atores contam que a escolha por esse texto um pouco mais leve se deve também ao fato da última peça da companhia, “Hamelin”, ter dado um “salto” muito grande em relação ao tema e atuação – a história abordava uma grande mazela social, que é a pedofilia. E, além do bom texto, a peça traz grandes nomes do teatro ituano em seu elenco.
“Isso foi uma coisa pensada”, conta Mazurchi. “Serve para comemorar mesmo. Tem a Yara (Nápoli), que tem as produções dela. A Débora (Nunes), que participa de teatro em São Paulo. O restante do elenco é do grupo e a gente trouxe o Fernando Henrique. Ele é um aluno nosso, está há três anos fazendo aula com a gente. Foi uma oportunidade de, ao mesmo tempo trabalhar com pessoas que estão há muito tempo no teatro, inserir pessoas novas”, complementa.
Um ano de teatro
Os atores da Nósmesmos também falaram sobre os desafios encontrados durante o primeiro ano de vida do teatro. Porém, apesar de tudo, eles estão satisfeitos com o trabalho feito até aqui. “Foi muito bom ter o teatro como uma casa. Apesar do Temec sempre estar aberto pra nós, não tínhamos a agenda. Então, quando a gente tem a agenda na nossa mão, dá uma segurança maior”, conta Mazurchi, que vê o teatro além de ser seu ganha pão.
“A gente vê o teatro como utilidade pública, não só como nossa profissão e meio de sobrevivência. Porque o povo precisa disso”, prossegue o ator, que também quer dar oportunidade aos pequenos produtores. “Dos 70 espetáculos apresentados lá, pode-se dizer que metade foi de grupos da região. A gente trouxe stand-ups como do Bruno Motta, que é mundialmente conhecido, e trouxe espetáculos que foram criados lá no Nósmesmos, como ‘A Farsa’ e ‘Um Morto Muito Vivo’”, emenda Mazurchi.
Além de fomentar a criação de novas peças por companhias menores, o Teatro Nósmesmos serviu para fazer o público ituano consumir mais esse tipo de arte, afirmam os atores. “Tem ido muito mais. Porque antes era pontual, nós nos apresentávamos aqui duas vezes no ano. E espetáculo que tinha aqui em Itu geralmente era um por mês, e olhe lá. Então o pessoal não estava acostumado a ir ao teatro. E agora está se criando o hábito. É a sementinha. Tem que plantar a sementinha para a pessoa se acostumar”, relata Hilário.
Novos desafios
Não bastasse produzir seus próprios espetáculos, agora a Nósmesmos também produz o de outras companhias. Esse foi um dos principais desafios encontrados pelo grupo ao longo do primeiro ano de existência do teatro. “Todo dia a gente trabalha na produção para que aconteça o evento no final de semana. Daí você acaba tendo a frustração de ter pouco público ou a alegria de ter um bom público”, diz Mazurchi.
E agora a companhia terá mais um desafio, mas dessa vez muito mais prazeroso: participar do 8º Festival Ibero-Americano de Teatro, que ocorre em setembro no Memorial da América Latina, em São Paulo. “A gente trabalhou um tempo atrás com a Elvira Gentil, que é uma diretora lá de São Paulo, e ela é curadora desse festival. Ela veio assistir a gente com ‘Hamelin’, que é de um escritor espanhol, e isso ajudou bastante”, explica Mazurchi.
“Aí ela nos indicou para a curadoria e passamos por uma seleção que teve. Estão vindo peças de outro país. E pra nós vai ser a primeira experiência, digamos assim, internacional. A gente vai poder assistir outras peças e participar disso”, prossegue o ator. “Isso vale mais que um prêmio. Nós ficamos muito honrados”, continua Mazurchi, que se alegra em levar o nome da cidade de Itu para o evento.
Mudanças para 2016
Para o restante do ano, a Nósmesmos fará algumas alterações. “Até dezembro a gente fechou com produções locais. A gente mudou um pouco a estrutura, porque vínhamos de uma peça por semana, e a gente sentiu que é muito para a cidade. A pessoa não tem tempo de consumir aquilo que tem”, conta Mazurchi. Então, a partir de setembro, as peças serão exibidas por dois finais de semana, mudando quinzenalmente.
Outra novidade para o segundo semestre é a volta da mostra “Nósmesmos Mostra Quase Tudo”, em que a companhia encena seus maiores sucessos, como “Por que os homens mentem?” e “Espetáculo Quase Artístico”. As apresentações devem ocorrer no mês de novembro.