Um Brasil sem legado
Olhemos as grandes civilizações do passado. O que restou dos povos antigos? Após milênios sobraram resquícios de sua língua, religião e alta cultura. Eis a trinca que subsiste quando alguma nação some do mapa e da História. É o que fica como legado civilizacional, herança humana para as gerações futuras. Os valores inerentes a cada um desses elementos deveriam ser prioridade em nosso país. Porém, nas últimas três décadas, sofrem uma deterioração sistemática no Brasil.
Nunca a língua portuguesa foi tão desvalorizada! Hoje já não se faz questão da norma culta e quem fala disso é rotulado de “perfeccionista”. Estudar sobre o assunto é visto por muitos como “desnecessário”. Em tempos de politicamente correto aplicado à língua, cada pessoa tem “direito” ao uso corriqueiro, rápido e rasteiro, do “nóis vai, nóis vem; nóis fumo, nóis vortêmo”.
Nossos estudantes estão nas piores colocações dos testes internacionais. São analfabetos funcionais, que mal conseguem interpretar um texto de nível mediano. Nossa “reforma” (ou seria deforma?) ortográfica serve para nada, colocando-nos na contramão da comunidade lusófona. Enfim, no Brasil não há amor pela língua portuguesa.
Nunca a religião foi tão vilipendiada! O católico é tachado de “inquisidor”, o protestante de “fanático”, o muçulmano de “terrorista”, o judeu de “opressor”, etc. A moda é ser ateu e materialista, bem ao modo da praga ideológica marxista. “Gott ist tot!”, gritam os pequenos Nietzsches da atualidade. E junto com o divino enterram todos os valores humanos oriundos da Fé, essa qualidade inerente a todos os corações verdadeiramente feitos de boa vontade.
Nosso povo vive mais de crendices que de doutrinas. Adere facilmente a modismos religiosos que, preferencialmente, não geram consequências práticas. É um oceano de “mornos” que não se preocupam realmente com questões transcendentais. E quem disso falar é rotulado de “medieval” (sic!), como se grandes benesses que usufruímos na atualidade não tivessem origem justamente entre os séculos V e XV da nossa história.
Como falar, então, de alta cultura, se no Brasil frequentar teatros e exposições é coisa para “burguês”, inacessível à maioria da população? Que incentivo é oferecido, a crianças e jovens, para que façam parte de orquestras, escolas cênicas, liceus de arte?
Criou-se a imagem de que consumir alta cultura em nosso país é algo condenável. Ouvir música clássica é considerado “estranho”. O que vale são os repetitivos e monossilábicos barulhos sonoros que alguns teimam chamar de música. Na literatura, o que temos? Quem são nossos ícones da atualidade? Paulo Coelho, Jô Soares e Chico Buarque? Onde estão os literatos, os verdadeiros artesãos da prosa e do verso? E quem falar disso é rotulado de “elitista”.
No Brasil, os pilares de muitas pessoas são: o dinheiro, a libertinagem e os prazeres. Um serve ao outro e todos juntos não servem para muita coisa. Ao contrário: um povo que se baseia em tais futilidades não gera quase nada de legado verdadeiro e cava sua própria ruína a longo prazo. E quem se preocupa com isso é considerado “radical”, “intolerante” e “conservador”.
Salathiel Westphalen de Souza
Cadeira nº 27
Patrono Dom Gabriel Paulino Bueno Couto