Uma escada animada
J.C. Arruda
Muita gente ficou sentida quando o Tonilú do centro retirou o banco que ficava na própria calçada do restaurante e que servia como lazer para inúmeros aposentados fazerem suas fofocas. Tinha virado atração turística, inclusive. Restou agora o Banco do Duílio que fica ali, na calçada da ótica que tem o mesmo nome de seu criador, Duílio Santoro. Mas, antes de existir o banco do Tonilú ou o banco do Duílio, Itu tinha a “Escada do banco” que ficava exatamente na escadaria de sede do Unibanco, antes da reforma do prédio, num dos cantos da Praça Padre Miguel.
Na verdade, a Escada do banco não tinha como principal objetivo o acolhimento de aposentados. Ali com o passar do tempo virou uma espécie de refúgio da gozação. O pessoal, geralmente de 10 a 15 homens, sempre homens, começava a chegar no local por volta das 19 horas e ali permanecia até por volta das 22 horas, quando muito até as 23 horas. E era difícil as pessoas que passavam pelo local não serem alvo de alguma gozação. Parecia até um corpo de jurados julgando os passantes. Mas, sempre com gozação. Tinha gente que mudava de calçada para não ser alvo das gracinhas.
Só que quando os passantes rareavam, eles se divertiam aprontando gozações entre eles mesmos. O objetivo era se divertir com outrem. Quem conheceu João José “Bodinho”, Valdomiro Barsalini, Carlos Delfino, os irmãos Darci e Nikita e tantos outros sabem do que estou falando. Porém, o símbolo da turma, era o Armandão, um rapaz que se orgulhava de jamais ter pegado no pesado, durante toda a vida. Acontece que Armandão, era órfão de pai, o qual era um militar e havia deixado uma excelente pensão para a viuva e esta procurava fazer as vontades do único filho.
Órfão, o coitado! Assim ficou definido entre ambos que um órfão não tinha a obrigação de sofrer na vida, principalmente se isso representasse trabalho.
Dessa forma, quem mais tinha tempo sobrando para as gozações era Armandão que ficou sendo uma espécie de gerente da Escada do Banco. Ele chegava e já ia dizendo: “Sabem porque mulher tem pés pequenos? Prá encaixar melhor embaixo da pia e do fogão”. No dia seguinte voltava ele com outra tirada: – “Sabem quando a mulher vai ter um lugar ao sol? Quando inventarem cozinha com teto solar”. Nem preciso dizer que ele era solteirão convicto, né!
Gostava prá caramba da mulherada, contanto que não fosse nada permanente. Certa vez, perguntou sério ao professor Firmino, também muito conhecido na cidade: – O senhor, como professor, pode me dizer o feminino desta frase “DEITADÃO NO SOFÁ, VENDO TELEVISÃO?” E antes que o Professor confessasse que não sabia, Armandão deu a resposta: – “EMPEZONA NA PIA, LAVANDO LOUÇA”.
Entretanto, de um dia para o outro uma tragédia entrou na vida de Armandão: ele adquiriu uma tenaz diabetes. Como se recusasse a se tratar devidamente, aos poucos a doença foi lhe prejudicando a visão. Não demorou muito para ficar realmente cego. Nem essa dificuldade impediu sua frequência diária à Escada do Banco. Os amigos iam buscá-lo em casa e ele continuava com o mesmo bom humor de sempre. Até que um certo dia alguns integrantes do grupo decidiram, já no final da noite, que iriam até o Jardim Itatinga, em Campinas, para procurar a companhia de mulheres. Convidado, Armandão foi junto e, lá chegando explicaram a situação dele para a cafetina: ele queria uma mulher que fosse bonita, carinhosa e cheirosa. Ela pegou Armandão pela mão e o conduziu até o quarto deixando-o lá só e bem a vontade.
Quando a dama escolhida pelos amigos, entrou no quarto, Armandão sentiu um perfume muito gostoso tomar conta do ambiente. Enquanto ia tirando a roupa, tomou a liberdade de perguntar para a dama:
– “Você faz 69”?
E ela respondeu candidamente:
– Vou fazer no mês que vem!