Viagens & Desconfortos Sociais

Divulgar projetos de viagens podem causar dores de cabeça e aborrecimentos. Logo surgem os famosos pidonhos e pidonas, que sem constrangimentos, estão sempre de plantão. Pesquisei no Aurélio e Houaiss. O verbete pidonho significa “pidão” ou “pedinchão”, aquele que faz pedidos sem medir inconveniências e desconfortos.

Assim como o verbo “pedinchar” nada mais é do que pedir com insistência. Solicitar algo é sempre inoportuno e mal-educado e isso é feito sem cerimônias. É só descobrir que você tem uma viagem programada para aparecerem essas figurinhas:

– Você vai a Miami? Me faz um favor… As variações são muitas: vitaminas, remédios, perfumes, bebidas, celulares, eletrônicos, brinquedos e a lista não para nunca.

Isso causa desconfortos sociais e aborrecimentos. Convenhamos que negar um pedido é desagradável e pode sugerir falta de educação. Afinal a viagem é para o seu lazer, divertimento e, claro, sempre se compra alguma coisa. Agora, ficar procurando produtos para os outros já é demais. Perde-se tempo. Torna-se um estraga prazeres e sobrecarrega os limites alfandegários. Não raro você paga sobretaxa pelo excesso de bagagem, sem contar com o esforço sobre-humano para carregar tanto bagulho.

Na volta o pidonho logo aparece:

– Trouxe o perfume que encomendei?

– Sim está aqui. Custou $ 75.00 dólares.

– Tudo isso?!?!

Significa que além de você ter corrido atrás do maldito e enjoativo perfume, ainda cai na desconfiança do pidonho que presume lucro fácil ou desonestidade.

Todavia nem tudo está perdido. Descobri algumas técnicas de ajuda.

Primeira regra: nunca divulgue suas viagens com antecedência. Resista e boca calada. Somente comente a viagem na volta quando já é tarde para o pidonho aparecer com a listinha. A saída é: – Que pena! Na próxima prometo que lhe aviso.

Segunda regra: quando deixar escapar seus projetos de viagens o melhor é fixar logo o preço. Trago sim, você me traz uma nota de US$ 100.00 e o nome do perfume num papel. Se custar menos, devolvo-lhe o troco, do contrário você complementa o valor. Batata, o pidonho desaparece, o dólar não aparece e você não se aborrece.

Inadvertidamente divulguei que ia para Buenos Aires, aí apareceu um pidonho:

– Por favor, quando você estiver de volta compre-me seis litros de whisky 12 anos no free-shop, que eu acerto com você depois.

– Sinto muito. Vou dar uma festa. Vou usar toda a minha cota de bebidas e a da minha esposa. Não deixa de ser uma boa estratégia.

Falando de pidonhos lembrei-me de uma antiga piada.

O sujeito encontrou-se com um tipo desses:

– Oi José! Que bom te encontrar, por favor empreste-me R$ 50,00.

– Sinto muito. Acabei de vir da farmácia e fiquei sem nenhum tostão.

– Me dá um cigarro?

– Ora, você bem sabe que eu não fumo.

– O que você tem aí no bolso da camisa?

– Um colírio.

Então, arregalando os olhos com ajuda das mãos.

– Dá uma pingadinha aqui, dá?

Os pidonhos não levam jeito.

 

Guilherme Machado Del Campo

Cadeira nº 11 I Patrono Mário de Andrade