Virgulino entrou de sola
Cada vez que me ponho aqui nesta coluna a abordar qualquer tema futebolístico, basta eu sair às ruas nos fins-de-semana para ser contestado por leitores que me conhecem. Na verdade nem me incomodo, pois já disse o grande filósofo Pedrinho Picareta, (craque do inesquecível São Pedro, o timão que era formado por atletas residentes no Bairro Alto) que “ O Brasil tem 200 milhões de técnicos de futebol”.
Pelo menos baseio minhas opiniões na experiência adquirida como craque que fui do inesquecível Paulista Futebol Clube no incrível campo conhecido por Carrapatinho, onde fica hoje o prédio da Gaplan no Bairro Novo Itu. As pessoas maldosas diziam que o Paulista era tão fraquinho que eu era o titular da quarta-zaga. O leitor Geraldo Rodrigues, o “Gerão” que é protético dos bons e jogou comigo na juventude, por exemplo, contesta essa opinião dizendo: “- Olha Zé, você pode falar por si próprio, mas com relação ao time não era assim tão fraco. Talvez tivesse uma deficiência na quarta-zaga… mas pelo menos não ficava na lanterna, já que esta era sempre carregada pela Sociedade Esportiva Matadouro”.
Bom, relativamente à quarta-zaga não tenho muito a contestar, mas quandt a citar o ‘grande’ Matadouro como exemplo, acho que não vale muito. Eu, pessoalmente, não me recordo de sequer UM jogo vencido pelo timão que representava o bairro, no qual ficava o frigorífico da cidade. Num dos campeonatos eles ganharam dois pontos porque o adversário não participava do campeonato, quem era o lanterna? Me recuso a insistir em dar o nome.
Depois do Paulista, fui jogar no São Paulinho, time que tinha com Diretor, treinador, dono e centro-avante titular o famoso Fernando Micheletto. Cheguei com a maior pose e fui solenemente colocado… na reserva. Os titulares eram Laércio Bruno na zaga central e o João Virgulino na quarta-zaga. Interessante é que as pessoas costumavam dizer que eu era bruto prá jogar. Quem dizia isso, certamente nunca tinha visto Laercião e Virgulino jogarem. Atuavam na base do “a bola pode passar (ás vezes) mas o atacante, jamais”. Quando eles entravam numa bola dividida, o som mais comum era o de cravos se chocando com ossos, ficando estes quase sempre em desvantagem, claro.
Outro dia, certo jornalista publicou uma frase em sua coluna que os leitores talvez pensem que é original. Sinto muito, mas não é. A primeira vez que a ouvi foi num jogo do São Paulinho quando fiquei enchendo o saco do Micheletto o tempo todo para entrar em campo. Fiquei os 90 minutos no banco com a maior dor-de-cotovelo e ao final do jogo fui em direção de Virgulino e lhe disse em tom de provocação: “Você jogou, mas fez muitas faltas”. Ele deu de ombros e foi saindo para os vestiários, não sem antes ter me respondido: “Você não jogou e não fez falta nenhuma”.
No São Paulinho jogavam: Zé Tium, Globinho, Dito Cruz, Sidnei Groff, Bastião Camilotti, Toninho 21, Cruzinha, Micheletto, Augustinho Guarnieri, Valdemar Guido, Eu (as vezes!), Nerso Romatismo e, claro, Laercião e Virgulino, além de outros. Na verdade, tudo era uma festa. Cada vez que o time ganhava, Micheletto levava a todos para comer pizza no Bar Carneiro do Seu Angelo Bernardes, e pagava tudo. Nos 12 meses que fiquei lá, fomos DUAS vezes ao Bar Carneiro.
Se me lembro bem, o São Paulinho entrou em decadência depois de um jogo festivo em Cabreúva em véspera de eleição. Eu não “pude” ir porque estava contundido ou porque estava com saco cheio de ficar na reserva, mas me contaram que a seleção Cabreuvana ia estrear uniforme novo e não queria marcar a oportunidade com uma derrota. Por isso, chamou o vibrante tricolor ituano. Ninguém poderia imaginar o que iria acontecer. O juiz chamou os times ao meio do campo e quem daria o pontapé inicial, para aplauso da multidão (eleitores) presente, era a gorda e posuda mulher do Prefeito, trajando um vestido amarelo berrante, que queria ser vereadora para se colocar como presidente da Câmara Municipal. Quando o juiz apitou, ela deu o chute na bola. Jamais ela poderia esperar. Virgulino deu um calço na pelota com a sola da chuteira nesse exato momento, mas o fez desastradamente. O que se viu em seguida foi a mulher rolando no chão, com fratura exposta na tíbia e fíbula. A festa, desnecessário dizer, acabou ali. Desde aquele dia o São Paulinho foi ladeira abaixo.
Pelo menos foi a história que ficou…