Vivemos para consumir

Por André Roedel

O ser humano como um todo vive atualmente em uma grande sociedade de consumo, em que a oferta geralmente excede a procura, os produtos fazem parte da nossa cultura e os padrões de consumo são massificados. O grande exemplo disso pode ser comprovado na tão comentada e propagada Black Friday.

A tradicional data norte-americana de vendas, que acontece na última sexta-feira do mês de novembro, chegou ao Brasil nos últimos anos e já passou a fazer parte do calendário dos lojistas locais. Por aqui, o friday virou weekend, com inúmeros estabelecimentos oferecendo promoções ao longo do final de semana também.

Milhões e milhões de brasileiros estão indo às lojas – ou comprando pela internet através de computadores, tablets ou smartphones – em busca de produtos com os prometidos descontos de mais de 70%. Aqui na cidade de Itu, teve gente indo a um famoso hipermercado por volta da meia-noite para garantir televisores, aparelhos celulares, fornos de microondas, bebidas alcoólicas e até fraldas descartáveis com promoções que realmente valessem a pena.

E tudo isso em um momento em que o país enfrenta grave crise econômica, com mais de 12 milhões de desempregados espalhados Brasil afora. Isso só prova que o capitalismo atingiu seu ápice – se obteve sucesso, aí é discussão para outro momento, outro artigo… O mais impressionante é que as pessoas, mesmo com toda a dificuldade financeira, acabam comprando até o que não precisam somente por estar em promoção. É a necessidade de mostrar aos outros que pode comprar, ultrapassando a real necessidade de se comprar.

E o consumismo vai, a passos largos, se tornando uma espécie de estilo de vida. Uma verdadeira religião, sendo mais radical. Um dos principais pensadores da atualidade, o polonês Zygmunt Bauman, mostra no seu livro “Vida para Consumo” a sutil e gradativa transformação dos consumidores em meras mercadorias. Além de comprar o carro do ano e o celular de última geração, as pessoas precisam também se submeter a constantes mudanças comportamentais e de opinião para que não fiquem obsoletas – ao contrário das roupas que rapidamente saem de moda e dos aparelhos, que se tornam defasados em questão de semanas.

No livro, Bauman examina ainda o impacto do consumismo em diversos aspectos da vida das pessoas, como a política, construção de identidade e o uso do conhecimento. O pensador polonês também faz uma análise das redes sociais como grandes vitrines, em que os consumidores são produtos a serem analisados por outros consumidores. Enfim, mostra que a humanidade hoje vive de aparências.

Por isso, fica esta reflexão a você que ainda não saiu de casa para gastar seus últimos trocados do mês em promoções da Black Friday: analise se o que você vai comprar é realmente necessário e não apenas algo para mostrar aos outros. Reflita na hora de gastar se você não está trabalhando para comprar coisas que não irá desfrutar por estar trabalhando para adquirir as mesmas. Gaste com consciência, afinal devemos consumir para viver, não viver para consumir.