Importante: sobre o Presépio do Bom Jesus

À Tribuna do Leitor

Jornal “Periscópio” – Itu,

 

Senhor redator,

 

Com chamada até de capa, o jornal Periscópio de 16/12/17 publicou matéria sobre o presépio mecânico que por vários anos funcionou nos fundos da igreja do Bom Jesus, em Itu, lamentando que o mesmo, doado à Prefeitura, jamais teria sido entregue a ela e, portanto, pendia de restauração para ser novamente posto em funcionamento.

Quero crer que o autor do artigo não tivesse tal intenção, mas não há como deixar de concluir, da simples leitura do texto, que tanto eu quanto o Sr. Eliseu Belcufine teríamos impedido que o material chegasse à Prefeitura, pelo que alguns esclarecimentos são necessários – espero – à definitiva elucidação do caso:

  1. O presépio do Bom Jesus, ou simplesmente “presépio do Pe. Amirat”, funcionou nos fundos daquela igreja nas décadas de 70 e 80. Arquitetado, até em papel, pelo habilidoso jesuíta com auxílio de várias pessoas, entre as quais o artista Nicolino de Francisco, era composto por uma grande plataforma rodeada e coberta de cenários, sobre a qual eram fixados conjuntos por sua vez movimentados por motores, polias e correias, em secções temáticas: fazendinha, circo, parque, procissão, o presépio propriamente etc.;
  2. A maior parte do presépio era feita de madeira, papel, isopor, pano, barbante, retalhos de plástico e lata, de forma totalmente artesanal, material este de fácil deterioração, especialmente pela ação dos cupins e traças. E, embora abrisse somente no tempo do Natal, permanecia montado o ano todo, demandando muita manutenção prévia a cada exibição anual;
  3. Após abrir no Natal de 1985, o presépio ficou sem funcionar por alguns anos até que, já muito estragado, foi desmontado em 1990, liberando o espaço onde instalado – o antigo Teatro São Domingos;
  4. É importante ficar claro que, à exceção de uma ou outra peça, o destino de todo aquele material era a fogueira, uma vez que os cupins haviam tomado conta de quase tudo. Para se ter uma ideia, quando o desmontamos, havia pelo menos um centímetro de sujeira deles sob a plataforma do presépio;
  5. Pesaroso de ver tudo aquilo virar cinzas, já que – como a tantos – o presépio marcou a minha infância, pedi e ganhei dos padres os principais conjuntos, na esperança de vê-los novamente em atividade no futuro. De início guardei num depósito na própria igreja e, algum tempo depois, acomodei como pude nas lajes da minha casa e na de parentes. Na época, cheguei a montar alguns conjuntos que estavam em melhor estado em casa;
  6. Vendo que, com o passar dos anos, tudo aquilo se estragava ainda mais e sem tempo para me dedicar à recuperação das peças, por volta do ano de 2005, ofereci ao amigo Eliseu Belcufine que passou a guardá-lo, também pensando numa possível recuperação das peças ou – àquela altura – no aproveitamento das ideias para a construção de novos conjuntos;
  7. Quando soube da existência do material, a Prefeitura de Itu prontificou-se a recuperá-lo, levando-o para a sede da Secretaria de Turismo e inclusive designando alguém para o trabalho. No entanto, algum tempo depois a iniciativa naufragou e a Prefeitura exigiu que o material fosse retirado às pressas do local, quando o mesmo retornou à guarda do Eliseu. Após isso, ainda, o material permaneceu por um período no Espaço Fábrica São Luiz, em mais uma proposta de recuperação, igualmente sem êxito;
  8. No início de 2012 fui procurado por um representante da Prefeitura e por um vereador, que me pediram que doasse formalmente as peças ao Município para que fossem recuperadas. Esclareci que não estavam mais comigo há anos, mas insistiram que mesmo assim eu formalizasse a doação, já que fui eu quem as havia “salvado”. E, na sequência, um decreto do Executivo possibilitaria a destinação de verbas para o restauro, o que de fato ocorreu;
  9. De posse do material, a Prefeitura destinou-o a um profissional da cidade, que até deu início ao trabalho, mas como não recebesse do Município, abriu mão do projeto. E, segundo apurei, o material – ou o que sobrou dele – em julho de 2014 acabou indo parar numa das salas do salão paroquial da Matriz da Candelária, aqui como mera depositária, à espera de uma séria e definitiva recuperação.

 

Altair José Estrada Junior

R.G. n.º 24.397.493-0