Advogado conquistador

J.C. Arruda

Em Itu, tem o bairro do Varejão que fica na zona rural. O Varejão se divide em vários bairros menores com outros nomes. Um deles é o Apotrebu. É de lá que vem a família Arruda do meu pai. Aliás, tem os Arruda de Cabreúva e os Arruda do Varejão. Sou descendente dos dois ramos, ou seja, meu avô materno era Arruda cabreuvano e meu avô paterno era Arruda apotrebuano. O curioso é que no Varejão famílias centenárias inteiras se misturavam ao longo de décadas dando origem aos mais variados parentes.

Assim, os Arruda são primos dos Silveira, que são primos dos Moraes, que são primos dos Xavier, que são primos dos Oliveira, que são primos dos Costa e assim por diante. Por exemplo, uma tia-avó do vereador Luiz Costa era prima-irmã da minha avó; meu pai, era primo do pai de Claudinho do Alvorada; este, por sua vez, é primo do deputado José Olímpio Moraes que vem a ser primo-segundo meu e é também parente do vereador Benedito Roque Moraes; todos os acima citados, são aparentados da viúva do ex-Prefeito João Machado, ela sendo (Dona Cida) originária do Varejão. Da mesma forma que toda a descendência do saudoso Tristão de Oliveira é aparentada dos Arruda porque a esposa dele, Elvira, também é Arruda do Apotribu.

Se eu for falar do resto, vou aumentar ainda mais a confusão na cabeça de quem está lendo e este espaço não vai ser suficiente para se chegar ao final. Mesmo porque só mencionei toda essa gente para falar de algo curioso: desde longos anos, esse povo se casava entre sí, mesmo sendo parentes. Diziam que era para que as propriedades acabassem ficando nas mãos das mesmas famílias, evitando assim que as mesmas fossem parar na posse de estranhos. Consta que dentre essas famílias havia as mais ricas, as medianas e as mais pobres. Dizem também que as mais ricas, conseguiam, já naquela época, mandar estudar na capital do Estado, o filho primogênito. Tanto assim que o Major Teobaldo Silveira, acho que vem a ser um tio-bisavô meu, mandou o filho Gonzaga, primeiro para o Colégio do Estado em Itu e depois para a Faculdade de Direito em São Paulo.

Na verdade, o velho Teobaldo não era Major do Exército. Ele tinha esse título que era da Guarda Imperial concedido por Dom Pedro 2° para aqueles que de alguma forma, colaboraram na Guerra do Paraguai. O que importava mesmo era que o Major Teobaldo tinha terras e dinheiro, muito dinheiro. Por isso, quando o Gonzaguinha terminou o Curso de Direito, o velho programou a maior festa na Fazenda Olhos D´Água, para receber o filho doutor. E convidou centenas de apotrebuanos, dentre parentes e não parentes. E foram até a Estação de Dona Catarina esperar o trem que traria o novo bacharel ituano, o qual saiu do Apotribu como criança e agora, quase dez anos depois, retornava como doutor e homem feito.

Da estação foi todo mundo para a festança na Olhos D´ Água onde foram recebidos com muitos fogos, música, bebidas e comidas. A festa começou no início da noite e deveria prolongar-se pela madrugada. Lá pelas 10 horas começou o baile tão aguardado tanto pelos homens como pelas mulheres. Era a grande oportunidade para iniciar namoros e romances. Só que por volta da meia-noite, o Doutor Gonzaguinha, sumiu da festa. Como já estavam quase todos mais pra lá do que pra cá em razão dos copos de vinho, cachaça e cerveja, ninguém notou a ausência do homenageado. E assim a festa se encerrou quando chegava as 4 horas da manhã.

No dia seguinte, o Major Teobaldo acordou tarde e estava tomando seu desjejum solitário na mesa da sala, quando adentrou o local, ninguém menos que o Doutor Gonzaguinha, ainda com cara de sono, meio desenxabido.

– Que aconteceu, meu filho? – Foi indagando o Major – Você sumiu da festa antes da meia noite…

– Acontece meu pai que aquela mulher que dançava comigo, começou com umas graças e passou a me apalpar, depois me abraçou, começou a suspirar no meu pescoço e daí,… não teve jeito. Acabamos indo dormir os dois no paiol de milho.

– E o que aconteceu, meu filho? Procurou saber o aflito Major.

– Tudo que o senhor pode imaginar! – Explicou o vaidoso e jovem advogado.

– Gonzaguinha. Você ficou sabendo pelo menos do nome dela? – Vasculhou o velho.

– Sim papai – Explicou Gonzaguinha – O nome dela é Ana Cândida.

O Major pôs as duas mãos na cabeça em sinal de desespero, gritando: – VOCÊ COMEU A TIA CANDINHA, SEU DESNATURADO!