CEUNSP realiza aula magna com diretor da Mauricio de Sousa Produções

Por André Guida e Gustavo Moraes

Aula magna de Michel Neuhaus reuniu dezenas de estudantes dos cursos de Comunicação (Foto: Rodrigo Tomba/Divulgação)

Na última segunda-feira (14), o Campus Brasital do CEUNSP testemunhou o começo de um novo semestre letivo, marcado por um evento de destaque que lotou o auditório dos cursos de Comunicação, Cinema, Design Gráfico, Design de Moda e Marketing: A aula magna de Michel Neuhaus, diretor de comunicação e design da Mauricio de Sousa Produções – MSP, empresa detentora da marca Turma da Mônica.

Michel Neuhaus é amplamente reconhecido por sua expertise em publicidade e design e acumula grande destaque e prêmios dentro dessas áreas. Sua presença como palestrante da aula magna do CEUNSP não apenas enriqueceu o evento, mas também serviu de inspiração para os alunos que estão no início de sua jornada acadêmica.

Neuhaus contou sua jornada acadêmica e profissional até o momento da pandemia, onde ingressou na Mauricio de Sousa Produções como Diretor de Design e Comunicação. Depois, destacou alguns dos projetos em que participou, já na MSP, sempre demonstrando grande conhecimento e paixão pelo trabalho.

O profissional também destacou algumas novidades da MSP, como a nova série animada “Astronauta – Propulsão”, que será lançada na HBO no final deste ano. Além disso, Michel também destacou uma nova gama de produtos com o personagem Penadinho, que deverá ser anunciada em breve. Confira abaixo a entrevista exclusiva de Michel Neuhaus concedida ao Jornalismo CEUNSP:

Existe uma diferença abissal entre as produções de design e quadrinhos independentes e de pequeno, médio porte da grande indústria? Quais são os maiores desafios que alguém encontra cuidando de uma marca tão famosa e reconhecida?

A diferença é abissal, inegavelmente. Trabalhar com quadrinhos não é fácil, não é um mercado fácil, e depende dos independentes compreender isso. Eu tenho na minha equipe quadrinistas com selos independentes, é um mercado difícil, o papel é caro. A Mauricio de Sousa é o maior vendedor de revistas do mundo atualmente, e realmente não é fácil.

Para as produções de porte menor agora tem a internet, que ajuda na divulgação e na venda, mas é preciso estar preparado.

Turma da Mônica é certamente o quadrinho brasileiro mais conhecido. Como é lidar com esse legado tão importante pra cultura nacional?

É sensacional, sinceramente. A história do próprio Mauricio, o legado que ele deixou para a alfabetização brasileira é impagável, deveria ter ganhado muito mais dinheiro por isso (Mauricio). Eu trato comercialmente da marca, mas mesmo assim não estamos falando de “vender cerveja”, não é algo qualquer, é um legado histórico muito valioso.

Em questões de criatividade, podemos nos deparar com conflitos com relação a parte da eficiência gráfica e de marketing? Como você encontra o equilíbrio entre sua própria expressão pessoal nos seus trabalhos e aquilo que sabe que vai ser atrativo e rentável?

A gente sempre pensa no mercadológico, é inevitável, praticar algo sem isso leva só a perda de dinheiro. Claro, há momentos em que você decide comunicar sua marca, o que é difícil de calcular, mas atingindo pessoas e ganhando share no lançamento de um produto novo, por exemplo, mas sempre olhamos pro que podemos fazer e que vai “fazer girar a máquina”. E também lá, ao mesmo tempo que temos artistas só fazendo quadrinhos, há tantos outros pensando em novos produtos, novos nichos de mercado para serem explorados. Outras revistas ‘faleceram’ por não se adaptarem, e a minha equipe mesmo pensa em novos produtos pro mercado. Agora estamos fazendo um trabalho sobre a “Turma do Penadinho”, com a qual temos poucos produtos e que podem ser feitas muitas manobras interessantes. Há alguns anos tivemos uma série de graphic novels do Penadinho e em breve teremos algumas novidades com relação a eles, por exemplo.

O assunto do momento é certamente a inteligência artificial, e como expoente desse mercado a pergunta que fica é: você acredita que possa se tornar uma ameaça direta aos trabalhos dos designers no curto ou médio prazo?

É uma incógnita, realmente. Nós como empresa trabalhamos com direitos autorais, e esse assunto será eventualmente abordado junto com advogados sabatinados, será necessário, e já é algo sendo analisado por grandes grupos de Direito. Por enquanto tudo é muito laboratorial, todos experimentando, testando, eu mesmo estudei e estou estudando sobre o assunto. É assustador, de fato, você olha e se pergunta até onde vai chegar, mas precisamos olhar para elas (I.A.) como ferramentas, como de fato são, e nos preparar para as mudanças que são iminentes, e acredito que essas mudanças estão próximas. Mas o foco da discussão terá de ser os direitos autorais, e não as I.A. em si.

Quais as singularidades na produção de conteúdo e entretenimento quando direcionados para um público infantil e como manter o seu viés educativo por tanto tempo?

A Turma da Mônica clássica são crianças de 7 anos, e nós respeitamos absolutamente tudo o que elas fazem, como tal. Muitos clientes querem que a Mônica ensine algo, mas ela é uma criança, que brinca, que joga, nenhuma criança de 7 anos ensina ou aborda temas polêmicos. Se formos abordar esses temas usaremos, por exemplo, a Turma da Mônica Jovem. Tudo é sobre ser coerente e respeitoso com os personagens e histórias. Por exemplo, o Astronauta, que é um personagem que nasceu adulto, mesmo comparecendo nas histórias da “turma principal”, tem seu próprio universo e vamos buscar explorar ele para um público de jovens e jovens adultos, que difere em muito de tudo o que já fizemos, sendo um projeto de animação. Como falamos com um grande range de pessoas, nossa preocupação é atender a todas as idades e exigências que vem, o que não atrapalha na inclusividade que a Turma tem; exatamente, essa sempre foi uma preocupação do Mauricio. A Mônica nasce no começo dos anos 1960, e ela é o empoderamento feminino encarnado em um personagem, ela virou a dona da rua sozinha, sem modas, de forma natural, e isso é extremamente singular.

Para finalizar nossa entrevista, uma palavra de esperança para os jovens designers do Brasil ou aspirantes que têm medo do futuro.

Eu não acho que vocês devem temer o que vem pela frente, mas sim se preparar. Na minha época eu me preparei fazendo curso de tudo que vi pela minha frente: pintura, desenho artístico, quadrinho, fotografia, e vocês têm que fazer o mesmo com as Inteligências Artificiais, fuçar em absolutamente tudo e se preparar para o que vier pela frente.