Construção abandonada é ocupada e preocupa moradores

Desde novembro de 2020 a construção tem sido ocupada por pessoas em situação de rua (Foto: Daniel Nápoli)

Um problema que já completou dez anos aflige cada dia mais os moradores do bairro Cruz das Almas e, desde então, tem sido acompanhado pela reportagem do Periscópio. Em 2013, moradores da Rua Sorocaba e imediações começaram a se preocupar com o início das obras do Residencial Blanc, condomínio residencial de duas torres. O que era para ser um empreendimento que iria valorizar ainda mais a área acabou por virar um pesadelo.

O “esqueleto” dos prédios foi erguido, porém as obras seguem inacabadas, uma vez que o antigo proprietário vendeu o espaço e a construtora responsável [Paulo Afonso] entrou em recuperação judicial, tendo pessoas que compraram o apartamento na planta entrado com ações judiciais.

De lá para cá, o JP recebeu diversos contatos de moradores das imediações, reclamando a respeito da área abandonada, seja pelo acúmulo de água e mato, que gerou preocupação e ainda gera em relação à dengue, seja pelo aparecimento de animais peçonhentos, como escorpiões, nas casas vizinhas aos prédios.

Em novembro de 2020, a preocupação ganhou mais um fator: a segurança. Pessoas sem condições de pagar aluguel estariam invadindo os apartamentos inacabados da área. De acordo com os reclamantes, essas pessoas estariam fazendo uso de drogas no local, além de constantemente abordarem pedestres e motoristas pedindo dinheiro.

Segundo uma moradora que não quis se identificar, desde a invasão teriam ocorrido diversas tentativas de furtos, seja nas residências, seja a transeuntes. “Na região residem muitos idosos que estão sentindo medo, pois as pessoas ficam pedindo comida, dinheiro e, se negam, elas ficam batendo no vitrô, xingam”, comentou outra residente da Rua Sorocaba, que não quis se identificar.

Ainda segundo um morador da Rua Cruz das Almas, furtos acabaram por se concretizar, porém, com medo, algumas vítimas não fizeram o registro do boletim de ocorrência ou acionaram as autoridades competentes.

Mas uma delas elaborou o boletim de ocorrência nesta semana. Na madrugada da última segunda-feira (23), por volta da 1h, uma jovem de 20 anos, moradora das imediações, foi abordada por um homem de 34 anos que saiu de um dos prédios abandonados e furtou seu celular e cartões bancários.

Horas depois, o suspeito foi reconhecido pela vítima após ter efetuado diversos pagamentos com os cartões bancários da jovem – o último em uma padaria nas imediações em que ocorreu o furto.

A jovem então acionou a Polícia Militar, que encontrou em poder do suspeito os cartões bancários da vítima, porém o celular não estava com o averiguado, que teria vendido o mesmo, no bairro São Judas Tadeu.

O homem então foi levado para a Delegacia Central, permanecendo à disposição da justiça. Os cartões bancários foram devolvidos para a vítima, após a elaboração do boletim de ocorrência.

O JP esteve no local na manhã de sexta-feira (27) e verificou que existiam pessoas no prédio. Inclusive uma delas adentrou a construção após pedir dinheiro para um morador de um imóvel vizinho.

Prefeitura

Diante desses incômodos relatados pelos moradores, o Periscópio questionou a Prefeitura de Itu sobre a situação. A administração informou que o imóvel em questão é particular e passa por processo de recuperação judicial, acrescentando que já tomou todas as providências legais cabíveis e aguarda o desenrolar dos trabalhos do Poder Judiciário.

A respeito da presença de pessoas em situação de rua frequentando o local, a Prefeitura esclarece que o Serviço de Abordagem do Centro Pop, ligado à Secretaria Municipal de Promoção e Desenvolvimento Social, realiza visitas sistematicamente na área. Quanto ao caso de furto, o Executivo comenta que há rondas constantes da Guarda Civil Municipal no bairro.

“Orienta-se aos moradores que casos desta natureza sejam comunicados às polícias Civil e Militar, para que os registros oficiais favoreçam a elaboração de estratégias de segurança pública”, informa a Prefeitura.

Construtoras

Em janeiro de 2021, durante o contato com os moradores das imediações dos prédios, a reportagem foi informada por uma das reclamantes que a área teria passado para a responsabilidade do Banco Plural. 

Na época, o JP entrou em contato com a instituição, que por meio de nota informou que nenhuma empresa de seu grupo era titular do imóvel em referência, bem como nenhuma empresa do Grupo Plural possuía qualquer relação com a construtora Paulo Afonso.

A instituição explicou ainda à época que a BRPP Gestão de Produtos Estruturados Ltda., empresa do Grupo Plural, havia assumido a gestão de dois fundos de investimentos, Tower II Renda Fixa Fundo de Investimento IMA-B 5, e Elleven Fundo de Investimento Renda Fixa IMA-B 5, credores da construtora Paulo Afonso, proprietária da matrícula do imóvel e responsável pela sua manutenção.

O Grupo Plural esclareceu ainda que os fundos de investimento acima referidos e atualmente geridos pela BRPP adquiriram, no passado, antes da gestão pela BRPP, créditos cuja responsabilidade pelo pagamento é da Construtora Paulo Afonso. O JP tentou contato com a construtora Paulo Afonso, porém não obteve retorno até o fechamento desta reportagem.